Aurora checou a caixa de mensagem de seu celular, apenas por força do hábito, e suspirou antes de voltar a colocá-lo no bolso da saia. Ela segurou seu livro junto ao corpo e voltou a caminhar na direção do refeitório. Ela precisava urgentemente comer algo, pois sentia seu humor caindo alguns pontos por causa da fome.
Novamente, o refeitório já estava cheio. E antes de qualquer outro movimento, ela procurou por uma mesa vazia, onde pudesse ler e comer em paz. Suspirou de alívio quando encontrou, a mesma mesa perto da janela onde havia se sentado no dia anterior. Aurora podia comer um búfalo agora... vivo. Brincadeira.
— Olá, beleza inglesa. — Ela ouviu o comentário quando passava perto da mesa de alguns atletas. Aurora ignorou veementemente, e rolou os olhos.
— Como vai, vossa Alteza? — A piadinha foi repetida por um dos amigos do garoto, mas esse veio seguido de um movimento que Aurora não esperava. Ela ouviu apenas o estalar da mão dele, e sentiu a ardência em sua nádega. Aurora congelou no lugar, ela sentiu a raiva subindo por sua espinha.
Aurora ouviu risadinhas espalhadas pelo refeitório, e viu também alguns olhares incrédulos para aquela situação. Então, Aurora decidiu que era hora de alguns americanos aprenderem boas maneiras.
Com a mão livre, e a agilidade de anos de prática, Aurora agarrou a mão do garoto, apertou o pulso e girou, ouvindo o estalo. O garoto fez menção de gritar, mas Aurora aproximou seus corpos e disse, bem próxima ao rosto dele.
— Fique quieto, e ouça com atenção, porque eu não vou repetir. — Ela disse muito calma, como se aquilo acontecesse todos os dias. Ele lhe olhava com medo, apavorado com a força da garota em sua frente. — Primeiro, espero que saiba que sua atitude é muito desrespeitosa, e que isso que acabou de fazer é crime, chama-se assédio. — Ela disse, como uma mãe paciente explicando o que é errado. — Consegue repetir essa palavra? — Ela aumentou o aperto quando não teve resposta. Ele gemeu e ofegou de dor.
— As-assédio. — Ele disse, mordendo os lábios para não gritar.
— Muito bem. — Ela disse. Seu rosto tinha uma expressão tão calma, e sua voz era tranquila demais para a situação. Quem estava mais perto não teve coragem de se mover para fazer nada. E quem estava longe ficou curioso com a interação, já que não dava pra ouvir. — Segundo, se tocar em mim de novo, ou em qualquer outra garota, um pulso quebrado vai ser seu menor problema. — Ela disse mais baixo, olhando no fundo dos olhos do garoto. — E terceiro, peça desculpas. — Ela o encarou, esperando o pedido de perdão.
— Des-descul-pa. - Ela franziu os lábios, não muito satisfeita.
— Não gostei. — Ele lhe olhou assustado. — Faça de novo. — Pediu. — De joelhos. — Ele parecia incrédulo. Aurora aumentou a pressão no pulso do garoto e curvou para trás, obrigando-o a se abaixar, até que estivesse de joelhos no chão. Ele chorava de dor agora. — Peça desculpas, sim? — Ela pediu educadamente.
— Me desculpe, não vai voltar a acontecer. — Ele falou alto. — Solta, por favor. — Aurora sorriu satisfeita.
— Claro. — Soltou o garoto e olhou brevemente ao redor. — Alguém quer dizer algo? — Ela perguntou, vendo os amigos dele balançarem a cabeça e erguerem as mãos, se afastando dela. — Melhor procurar um médico. — Ela sugeriu, se afastando da pequena confusão e indo à praça de comidas, pegando uma pizza e um suco e andando até sua mesa, como se nada tivesse acontecido.
Ela abriu seu livro e ignorou que a maior parte dos olhares ali estavam sobre ela, alguns assustados, outros incrédulos. Ela era pequena, e de aparência delicada demais, ninguém esperava aquela reação.
Jasper, que quando viu a ousadia do garoto, precisou ser segurado em seu lugar por Emmett e Rosalie, que estavam mais perto, agora olhava admirado na direção da garota. Emmett riu alto sem se conter, e Jasper sorriu. Alice e Edward contiveram suas risadas. Mas a atitude de Rosalie foi a mais inesperada:
— Eu gostei dela. — A loira disse e ignorou os olhares surpresos da família. Ela deu de ombros.
Uma semana já havia se passado desde o conflito na cantina, e depois disso nenhuma outra brincadeira sem graça foi dirigida a Aurora. As pessoas ainda comentavam, muito, mas nenhuma na frente dela. Eles tinham a decência de não encará-la descaradamente mais, talvez por medo. Afinal, a notícia de que ela quebrara o pulso do capitão do time de basquete se espalhou rápido.
Os boatos por si só já eram engraçados. Alguns diziam que ela viera de um colégio militar interno, outros que ela estava presa antes de vir para a América, até mesmo que ela era um tipo de agente especial. Aurora até que se divertia com isso. Era uma história mais absurda que a outra.
Mas ela não desmentiu nenhuma, pelo simples fato de que ninguém lhe perguntou diretamente. Ela teria dito a verdade, mas não se daria ao trabalho, porque ninguém havia se dignado a falar com ela, exceto pelas duas únicas pessoas que já haviam conversado consigo antes: Jasper e Alice. Eles continuavam a conversar com ela nas aulas que dividiam juntos, e na verdade haviam se mostrado muito agradáveis.
— Por que não se senta comigo e meus irmãos hoje? — Alice perguntou enquanto Aurora juntava suas coisas na bolsa. A ruiva lhe olhou pensativa.
— Não quero atrapalhar vocês. — Ela foi direta.
— Você não atrapalha. — A morena disse gesticulando. — Além disso, eles também querem conhecer você. — Ela disse, sorrindo ao ver a expressão surpresa de Aurora.
— Eles querem? — Ela não controlou a incredulidade de sua própria pergunta.
— Ah, queremos. — Alice ouviu Emmett no andar de cima, e a risada de Edward.
— Claro que querem. — Alice disse, entrelaçando seu braço ao de Aurora e a guiando para fora da sala. — Vamos, vai ser legal. — Aurora riu, contagiada com a empolgação de Alice. Elas cortaram caminho por fora do prédio, onde quase não havia fluxo de estudantes. Mas os que estavam, não fizeram nem questão de esconder a curiosidade ao ver Aurora e Alice andando juntas.
— Todos os americanos encaram assim? — A ruiva perguntou incomodada. Alice riu dando de ombros.
— Só os que não tem vida para tomar conta. — Aurora riu da resposta de sua amiga.
Quando entraram no refeitório, os dois Cullen estavam na mesma mais próxima da porta de vidro e das janelas. Então, Alice e Aurora tiveram apenas que puxar cadeiras e se sentar. A ruiva se sentiu corar diante dos olhares dos irmãos de Alice, que pareciam curiosos.
— Pessoal, essa é a Aurora. — Alice falou, como se eles não soubessem que ela ia estar ali. — Aurora, esses são meus irmãos, Edward e Emmett — Apontou cada um deles.
— É um prazer. — Aurora sorriu simpática.
— O prazer é nosso. — O garoto grande e musculoso sorriu de volta, e o outro acenou com a cabeça, sorrindo fraco. — Aquilo que fez com o Tyler... — Ele a encarou pensativo. — foi demais! — Ele riu. Aurora acabou por rir também.
— Aquilo foi... exagerado.— Ela murmurou um pouco sem graça.
— Ele mereceu. — Ela quase saltou de susto ao ouvir a voz atrás de si, mas se recompôs ao ver a loira bonita sentar ao lado de Emmett e beijar a bochecha dele, para logo depois voltar seu olhar para Aurora. — Eu teria quebrado os dois pulsos. — E sorriu com divertimento. Aurora nem teve tempo de dizer nada, pois Jasper puxou a cadeira ao seu lado e se sentou, apoiando o braço nas costas da cadeira dela.
— Essa é minha doce irmã gêmea, Rosalie. — Ele disse para Aurora, apontando Rosalie que sorriu inocente. — O sadismo não é genético. — Ele sussurrou perto do ouvido de Aurora, mas é claro que seus irmãos ouviram, e Rose lhe chutou discretamente por baixo da mesa, fazendo-o rir. Aurora riu também.
— Então... — Emmett apoiou os cotovelos na mesa e inclinou o corpo para frente, parecendo interessado. — onde aprendeu a fazer aquilo? — Nem tentou conter sua curiosidade. Jasper lhe lançou um olhar repreensivo, para mostrar que estava sendo rude. Mas Aurora não pareceu ligar, e até respondeu:
— Eu fiz seis anos de aulas de luta quando era mais nova. — Contou. — Mas precisei abandonar, porque minha mãe queria que eu fizesse algo mais... clássico. — Jasper sentiu os sentimentos dela alternarem brevemente para mágoa e frustração.
— E mudou para o que? — Rosalie perguntou, atraindo olhares estranhos dos que não esperavam que ela fosse mostrar interesse.
— Balé. — Respondeu. — Depois piano, violino, violoncelo... — Ela suspirou, forçando um sorriso. — Qualquer coisa que ela gostasse. — Jasper se sentiu incomodado pela forma como ela dizia aquilo. Claramente era algo que a deixava triste. Ela lançou um olhar de aviso para os irmãos, antes de mudar de assunto.
— E o que você gosta? — Ele perguntou, vendo Aurora dar de ombros pensativa.
observando quando o rosto dela se iluminou.
— Gosto de pintura.— Ela respondeu.
— Mesmo? Algum estilo específico? — Ele perguntou, tendo a chance de ver o rosto dela se iluminar.
— Realista, classicista, impressionista... — Ela enumerou, com os olhos brilhando. — Acho que todo tipo que retrate a forma humana, ou a natureza, de forma pura e verdadeira. — Jasper sorriu admirado para a maneira como Aurora falava. Ela ficava impressionantemente mais bonita quando falava do que gostava.
— Ótima escolha. — Ele sorriu em sua direção, vendo quando ela sorriu de volta e apoiou o rosto nas mãos, escondendo a vermelhidão de suas bochechas. Ou tentando. Fora um ato adorável.
Os outros Cullen capturaram cada segundo da interação, notando como Jasper sorria mais com ela do que em qualquer outra situação, ou como ele se mantinha próximo, mesmo sem consciência, tocando nela casualmente, ou apenas dizendo algo perto de seu ouvido, como se nenhum dos outros na mesa fossem ouvir, apenas para sentir seu cheiro mais de perto.
E os Cullen precisavam admitir: Aurora não cheirava como os outros humanos. Nenhum deles sentia o impulso de atacá-la por seu sangue. Mas eles sabiam que, para Jasper, era mais que isso. Aurora era mais que isso.