O dia seguinte estava sendo corrido, era véspera de final de semana e véspera do aniversário de Dinah, as meninas tinham combinado de organizar uma festa surpresa na casa de Ally e agora se viam rodadas para dar conta de tudo. Eu havia sido jogada no meio dessa bagunça também por ninguém mais do que a minha namorada. Eu descobri que era difícil dizer não para aqueles olhos castanhos pidões. A partir de hoje, decisões como essa serão tomadas via celular.
Minha tarefa era convidar algumas pessoas, mas eu não sabia ao certo como fazê-lo. Não me deram uma lista de nomes ou de turmas, então eu estava perdida dependendo apenas dos meus próprios conhecimentos para escolher as pessoas certas naquela faculdade. O problema é que eu não conheço pessoas certas, todos que me vinham à mente eram os piores festeiros de Nova York.
Resolvi que faria de um jeito diferente e Ally que me perdoe por futuros danos à sua casa, mas eu não estava com paciência o suficiente para bolar um plano melhor. Segui até a diretoria e me esgueirei pela porta caçando com os olhos alguém ali dentro, havia apenas um homem contando uma papelada. Entrei vagarosamente exalando um bom dia para ele, que me retribuiu bem humorado e juntou tudo se retirando dali. Dinah não estava na faculdade ainda, algo sobre ter de fazer exame de sangue, então esse seria o momento perfeito.
Atravessei o pequeno corredor e cheguei no meu destino: a sala da rádio. Roger, um velho conhecido, era responsável pelos anúncios dados na faculdade, coisas corriqueiras sobre eventos, palestras... antigamente ele costumava dar avisos para mim, em geral sobre festas, espero eu que ele ainda possa me conceder esse favor. Bati no vidro grosso que nos separava e logo sua atenção se voltou para mim acompanhada de um sorriso.
- Laurenzo - ele me cumprimentou assim que saiu da salinha com um abraço apertado.
- Vadia - grunhi quando separávamos nossos corpos, meus olhos revirando em suas órbitas e ele riu.
- Estou vendo que essas férias te fizeram bem - seus olhos passeavam pelo meu corpo, péssimo dia para vir de short e barriga de fora - Você está mais piriguete ou é impressão minha?
- Por favor, piriguete só se tivesse aceitado ficar com você.
- Você sabe que ainda pode dizer sim... - ele sorriu presunçoso e eu ergui a mão direita, mostrando minha aliança para ele - Quem é o corno?
Baixei os dedos deixando só o do meio erguido e lhe sorri cínica.
- Inveja tá foda, hein?! - abaixei a mão encostando a lateral do corpo no vidro - Pode me fazer um favor?
- Tudo para você - ele piscou me fazendo rir.
- Dá um recado sobre uma festa que vai ter na casa da Ally?
- A baixinha? - confirmei com a cabeça e ele pareceu pensar algo.
- Lembra o endereço?
- Claro gatinha, no código de sempre? - torci os lábios cogitando o fato de que muitos, ou já tinham se esquecido do código, ou já nem conseguiam associa-lo a mais nada.
- Você acha que eles vão lembrar?
- Faz mais de um ano...
Parei por um tempo cruzando os braços em frente ao peito, pensando em como tornar aquilo mais eficaz. Trocamos olhares, buscando, um no outro, alguma ideia na imensidão de nossos olhos, mas nada surgia. Nem um jeito, nem uma maneira de dar aquele aviso sem causar alarde por parte de algum funcionário.
- Quer saber? Foda-se! - passei por ele entrando na pequena salinha, afundei o dedo no botão que ligava o microfone e me inclinei em sua direção - Atenção alunos, aqui é Lauren Jauregui e eu convido todos vocês para participarem da maior festa surpresa do ano. Amanhã, às vinte horas. Endereço estará em breve nas suas salas - fiz um sinal para Roger produzir alguns panfletos improvisados e ele assentiu saindo da minha vista - Quero todos lá e, por favor, não contem a ninguém.
Sorri tirando o dedo e assim encerrando minha transmissão. Respirei fundo ainda alegre com a adrenalina de estar fazendo algo totalmente errado novamente, eu havia esquecido como era a sensação de viver no perigo. Com certeza isso chegaria aos ouvidos da diretora só por conter meu nome, mas eu não podia arriscar omiti-lo, ainda existiam fiéis seguidores e admiradores meus naquela faculdade e daí que surgia a minha força para concretizar eventos como esse. Pelo menos era isso o que eu esperava.
Saí da pequena sala e fiz o caminho de volta à diretoria, Roger estava frente à copiadora enquanto ela cuspia diversos papéis com uma anotação centralizada.
- Você é louca, sabia? - ele sorriu apoiando o cotovelo na máquina para me olhar.
- Não se preocupe, se perguntarem eu digo que invadi.
- Não estou preocupado com isso, você sabe. Não vai demorar muito até a loira azêda ganhar conhecimento do acontecido e ai você samba.
- Eu não danço. Nunca. - pisquei para ele recolhendo o bolo de papéis de suas mãos e saindo dali. Agora vinha a pior parte: distribuir essas coisas.
Baixei o olhar sobre a primeira folha e vi o rabisco mais estiloso possível descrevendo o endereço de Ally. Roger era chato, abusado e inconveniente às vezes, mas nossa amizade sempre foi assim. Éramos dois bicudos tentando se beijar. Meu bolso tremeu e eu rapidamente finquei os dedos lá dentro para retirar o meu celular.
"O que foi isso?" - Camila
Sorri ao me deparar com o nome dela no topo do celular e parei no meio do corredor para respondê-la.
"Me encontra depois da aula, na sala da senhora Mendez. Xo"
Joguei o aparelho de volta no meu bolso e comecei minha tarefa. Passando de porta em porta eu separava algumas folhas e lançava por debaixo delas, assim fiz por todo o primeiro e segundo andar, no terceiro e quarto apenas joguei o restante de folhas pelo corredor e fiz meu caminho para o auditório onde eram ministradas as aulas da senhora Mendez.
Subi até o piano e comecei a dedilhar músicas melancólicas enquanto eu cantarolava suas melodias suavemente. Eu costumava ser fã das músicas clássicas, lembro de passar horas e horas ao lado do meu pequeno radinho à pilha escutando Bach e Beethoven na fita que meu pai guardava de suas coleções. Outra coisa que eu peguei dele. As pessoas sempre diziam que eu era o corpo da minha mãe, com o jeito do meu pai e com os olhos totalmente meus. Era engraçado como éramos realmente muito parecidos na personalidade e nos gostos.
- Você não vai mesmo notar que estou aqui? - girei a cabeça até a porta onde Camila sorria com os braços cruzados em frente ao corpo. Foi inevitável não correspondê-la com um sorriso ainda mais exuberante.
- É que você é tão magrinha... - mordi o lábio vendo sua expressão mudar no mesmo instante - Tenho medo até quando você toma banho, se vacilar cai pelo ralo.
Ela fez uma careta em deboche e se colocou a caminhar em direção, em momento algum eu havia parado de tocar e a observava de canto de olho agora que se aproximava.
- Eu conheço essa música - ela parou se apoiando na caixa do piano. A lancei um olhar rápido e continue dedilhando as teclas - Como é o nome?
- Kiss the rain, de Yiruma. Você já ouviu falar dele - instiguei erguendo uma sobrancelha e lançando-lhe outro olhar rápido.
- Yiruma? - murmurou buscando em sua mente algo de seu conhecimento - Não sei quem é.
Soltei o ar pelo nariz em um riso baixo e mudei de música no mesmo instante. Meus dedos se moviam, já familiarizados com a sequência de notas e eu a observava com a ansiedade estampada em meu rosto. Camila fixou os olhos em meu rosto por um bom tempo, até que seu lábio deslizou para entre seus dentes mostrando sua angústia, ela deveria estar se debatendo internamente para lembrar e eu me divertia com a situação.
- Crepúsculo! - ela praticamente gritou quando cheguei ao refrão - É a música do Edward e da Bella.
Suspirei alto e parei as mãos.
- Não é crepúsculo, é Yiruma - cerrei os olhos em sua direção e ela me mostrou a língua.
- Odeio quando você é chata - bufou dando a volta por mim, mas eu a interrompi, puxando-a pelo braço no meio do caminho e fazendo-a cair ao meu lado.
- Você ama quando sou chata - sussurrei em seu ouvido e mordi sua orelha logo em seguida - Onde pensa que vai?
Continuei com a boca lá, brincando entre mordidas e lambidas, vendo-a se arrepiar e se contorcer sob meus braços.
- Laur... - ela pediu, mas foi um gemido. Apenas murmurei em retorno - Alguém pode entrar.
- Eu estou torcendo para isso - segurei seu queixo e virei seu rosto levemente em minha direção arranhando sua bochecha com meus dentes antes de mordê-la. - Principalmente se for o seu amiguinho.
Camila grunhiu antes de se soltar e se colocar de pé com uma cara feia, tudo que eu conseguia fazer no momento era sorrir do jeito mais safado possível. Não é querendo me gabar, mas minha namorada é muito gostosa.
- Por que eu, Camz? - ela foi até o outro lado do palco tomando o violão em suas mãos antes de me olhar, desentendida.
- Por que você o que?
- Por que você me escolheu?
- Não é como seu eu tivesse todos aos meus pés - sua risada ecoou pelo lugar e eu apertei os olhos.
- Quer dizer que se eu tivesse concorrência eu poderia não ser sua namorada hoje?
- Acho que sim - deu de ombros quase me convencendo. Bufei irritada com sua desfeita ao meu momento de romantismo e observei quando ela fez menção de sentar no piano.
- Nem tente - seus olhos correram até os meus, despreocupados. - Você está de saia.
- Eu vou cruzar as pernas.
- Não. - ela me olhou novamente, dessa vez com uma certa intolerância - Nem adianta.
- Eu vou sentar do outro lado então, pode ser?
Concordei só porque o lado em questão dava direto na parede e não havia como ninguém chegar ali sem antes passar por mim. Ajudei a mais nova a subir e voltei ao meu assento esperando calorosamente que uma música saísse daquele emaranhado de acordes mal dados que ela estava executando.
- Amei essa música - disse irônica quando ela deu uma pausa ao barulho, Camila me olhou debochada antes de focar na posição de seus dedos, de novo.
- Fica quieta que eu estou tentando me lembrar - segurei um sorriso vendo o esforço dela para posicionar aqueles pequenos dedos em uma nota de pestana. Eu sei que ela tinha dificuldade porque havia deixado de tocar depois de seu acidente, mas sua persistência era digna de aplausos e muita admiração.
- O terceiro dedo é na corda de cima, amor. - mesmo visivelmente relutante à minha observação ela fez como mandei.
- Você quer ajuda?
- Eu quero cantar pra você - ela deu o primeiro acorde, atingindo as cordas dentro de um ritmo perfeito, mas foi na hora de mudar a nota que tudo se emaranhou novamente. Eu observava enquanto ela se frustrava ainda mais e meu peito se apertava por não poder fazer muito para ajuda-la.
- Vai com calma amor, você consegue. Qual a música?
- Não - ela falou quase que por cima de mim - Eu quero tocar ela.
- Você vai, eu só quero te acompanhar.
- Você vai me deixar nervosa.
- Você está nervosa só com a minha presença.
Depois de muito insistir a mais nova disse o nome da música e combinamos de cantar e tocar juntas, ela não deveria se preocupar em marcar o ritmo no violão, eu o faria e ela se manteria focada em colocar os acordes corretamente dando, pelo menos, uma batida.
I remember what you wore in our first date
You came into my life
And I thought "hey you know this could be something"
Comecei lançando-lhe um olhar insinuativo junto a um meio sorriso. Ela estava focada em seu violão, e pelo que eu estava observando, a velocidade lhe agraciou ajudando-a a trocar os acordes no ritmo necessário.
'Cause everything you do and words you say
You know that it all takes my breath away
And now I'm left with nothing
Camila ergueu o olhar, arrastando-o lentamente pelo lugar até que encontrasse o meu e foi quando entramos no refrão com força total dos instrumentos e das vozes.
So maybe it's true that I can't live without you
And maybe two is better than one
There's so much time to figure out the rest of my life
And you've already got me coming undone
And I'm thinking two is better than one
Trocamos sorrisos rapidamente e então ela voltou a encarar seu violão. Era sua vez de cantar sozinha.
I remember laughing looking upon your face
The way you roll your eyes, the way you taste
You make it hard for breathing
'Cause when I close my eyes I drift away
I think of you and everything's ok
I'm finally now believing
Eu apenas a admirava, nada mais. Meus olhos não conseguiam sair dela em momento algum, pareciam sedentos em pegar cada detalhe, cada movimento, cada mudança de expressão, cada gesto para alcançar as notas certas vocalmente. Admiração transbordava por eles mais intensamente do que qualquer lágrima um dia o fez, eu estava orgulhosa da garota que eu via em minha frente, sentada de pernas cruzadas, com o violão no colo e um sorriso no rosto enquanto cantava. Em comparação ao dia em que a conheci, não havia mudanças muito drásticas, mas era visível sua maior confiança em se expor para as pessoas e seu conforto consigo mesma. O jeito como ela superou tudo, o jeito como ela batalhou e se esforçou para ser o melhor com o que tinha em mãos... Apesar de tudo, aquela era a mesma garotinha boba e engraçada que me fez rir depois de quase me fazer chorar.
Enchi o peito com todo orgulho para cantar o refrão novamente junto a ela.
Maybe it's true that I can't live without you
Maybe two is better than one
There's so much time to figure out the rest of my life
And you've already got me coming undone
And I'm thinking two is better than one
Maybe it's true that I can't live without you
Maybe two is better than one
There's so much time to figure out the rest of my life
And you've already got me coming undone
And I'm thinking... Uh uh, I can't live without you
Cause baby two is better than one
There's so much time to figure out the rest of my life
But I'll figure out we hold say done
Two is better than one
Two is better than one
Nós finalizamos com uma troca de olhares intensas, entendendo, as duas, que através da letra estávamos expressando o que, de alguma forma, sentíamos. Camila tocou a música inteira, de forma quase perfeita. Hora ou outra ela se perdia em um acorde, mas retomava sem medo e sem vergonha como se nada demais houvesse acontecido. E não havia. Um sorriso foi crescendo sorrateiramente em meus lábios e Camila apertou os seus, aparentemente os impedindo de fazer o mesmo.
- Lauren Jauregui e Karla Cabello - droga! Meu sorriso logo se desfez quando a imagem da diretora tomou meus olhos.
- Posso ajuda-la? - confrontei tentando chamar ao máximo sua atenção para mim. Ela mantinha seus olhos em Camila e aquilo estava me irritando.
- Perdão? - perguntou debochada voltando a me olhar - Eu acho que a senhorita esquece que está em uma instituição de ensino séria e dedicada. Eu sou a autoridade aqui, lembre-se disso.
- Me desculpe, nós não sabíamos que...
- Camz! - a interrompi fazendo um gesto com os olhos para que não se metesse.
- Claro que não sabiam - ela sorriu desencostando do batente da porta e caminhando em nossa direção - Assim como não sabiam que o uso do microfone é apenas para assuntos separados pelo conselho e condizentes para a faculdade. Festas não inclusas.
- Ela não tem nada a ver com isso - me manifestei novamente vendo-a encarar Camila que quase se encolhia para trás do violão. - Eu fui lá sozinha, ela praticamente não sai de casa.
- Você é a garota que não enxergava não é mesmo? - ela estralou os dedos no ar se vangloriando por ter recordado - Vejo que é sempre a mesma coisa, depois que se recuperam não esperam nem um segundo a mais para voltar a fazer a vadiagem de vocês.
- Ei! - espalmei as teclas me colocando de pé em meio a um ruído ensurdecedor - Mais respeito, ela não tem nada a ver com nada. Se fosse tão boa como prega, saberia que ela é uma das melhores alunas daqui.
Ela bateu seu salto no tablado de madeira até se colocar em minha frente e fincou seus olhos azuis nos meus.
- Eu acho melhor você ficar calada, pois já tenho um bom motivo para lhe mandar ao conselho.
- Eu quero ver você tentar me expulsar - falei tão friamente quanto ela e a observei ferver o juízo em minha frente.
- As duas, já para a diretoria por utilização do auditório fora de aula, tarefa ou qualquer atividade organizada por um professor dessa instituição.
- Elas não vão a lugar algum! - viramos as três. Para minha sanidade era a senhora Mendez que vinha chegando com suas pastas nas mãos. - Elas estavam aqui ao meu mando, ensaiando para auxiliar meus alunos em minha aula.
- Senhora Mendez - a loira disse entre dentes, visivelmente irritada por ter seus planos frustrados.
- Diretora Spears - a velha arrumou as coisas em cima de sua mesa e se virou, colocando-se em postura, para encarar a loira.
- Tudo bem, mas você! - ela apontou o dedo cumprido em minha direção - Você vem comigo.
Troquei um olhar com Camila antes de sair do espaço em que eu estava inserida, mas fui interrompida.
- Diretora Spears, não sei se entendeu, mas Lauren é uma das minhas tutoras auxiliares e eu preciso de sua presença na aula que irei ministrar daqui a pouco.
- Eu acho que a senhora não entendeu, ela desacatou as regras.
- Não me importa o que acontece fora de sala, dentro dela eu sou a autoridade e estou dizendo que ela fica. Uma bronca adiada não deixará de perder seu sentido, ou perderá?
Torci meus lábios segurando o riso que teimava escapa-los, a loira estava espumando feito um cachorro louco e pelo visto havia sido vencida. Ela deu meia volta, cuidando para que Camila e eu recebêssemos seu olhar irado e deixou o auditório.
- Meu Deus, eu já disse o quanto amo a senhora? - segurei o rosto da minha ex professora e lhe dei um beijo estralado no rosto, ouvindo o risinho de Camila ao fundo.
- Você veja bem o que faz nessa faculdade, Lauren. Ela não vai perder a chance de te colocar para fora. - dei de ombros soltando-a e caminhando até Camila.
- Você é louca - a mais nova disse me entregando o violão e esperando que eu o colocasse no lugar devido - Não tem medo de ser expulsa? Por causa de uma festa?
- Uma festa? Vou dizer para Dinah - ela sorriu junto comigo e eu apoiei meu queixo em seu joelho - Só tenho medo de algo te acontecer, juro que quando a vi te olhando daquela forma eu quase fiz uma besteira.
- Estou feliz que não fez - ela jogou as mãos por dentro do meu cabelo, penteando-o para trás.
- Vocês duas são muito fofas juntas - nós nos viramos, a senhora Mendez nos admirava com um sorriso vindo de seus olhos - Desde que reencontrei essa daí - ela fez um gesto em minha direção - que tenho as observado. Uma cuidando da outra de formas diferentes e tão importantes quanto. Dá para sentir isso até quando cantam, foi realmente bonito vê-las pondo tanto amor à música.
- A senhora estava aqui todo esse tempo?
- Não me diga que esqueceu que gosto de ficar nas cadeiras do fundo enquanto preparo minhas aulas - Camila corou imediatamente me fazendo rir. - Não se preocupe, a audição não é a mesma de alguns anos atrás. - ela piscou para nós tão ridiculamente que caímos as três na risada.
- Você é a primeira idosa que conheço que não me odeia, não é intolerante e que sabe como se divertir - brinquei vendo-a revirar os olhos e abrir suas pastas. Um murmurinho se deu e só então eu vi que os alunos já estavam chegando para sua aula. - Bom, acho melhor eu ir.
- Eu não brinquei quando disse que você seria minha auxiliar - minha expressão caiu em incredulidade - Você e Camila vão me ajudar na aula de hoje e, quem sabe, nas próximas.
- Mas Camila é sua aluna, eu não.
- Então o que estava fazendo em meu auditório fora do horário de aulas? - tentei rebater, mas Camila tampou minha boca com a mão.
- Ela vai ficar feliz em ajudar - troquei olhares entre a mais nova e a mais velha e grunhi uma coisa qualquer, mas assim que ela tirou a mão seu dedo veio sobre meus lábios - Shiu, não reclama. - revirei os olhos bufando de insatisfação - Me ajuda a descer.
Camila estendeu as mãos até meus ombros e eu segurei em sua cintura, deixando seu corpo deslizar de cima do piano. Assim que ela se ajeitou a cerquei com meus braços, apoiando-os sobre o piano atrás dela e limitando seu espaço.
- Posso ganhar pelo menos um beijo de boa sorte? - pedi apelando para um beiço e olhos tristes e ela riu abafado, os olhos baixando para minha boca.
Camila aproximou o rosto do meu e quando já estava de olhos fechados ela se abaixou, passando sob meu braço, enquanto eu cambaleava para frente, espalmando os olhos abertos em alarde.
- Nada de beijo. Você não está merecendo, não pense que esqueci o quanto está chata hoje.