A Herança Da Lua

By Really060

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No crepúsculo do tempo, quando a lua azul iluminar a noite e o vento sussurrar entre as árvores antigas, os l... More

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Epílogo
Agradecimentos
Novidades!

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By Really060

Acordei com a sensação de calor se espalhando pelo meu corpo, contrastando com o frio do inverno que penetrava as cobertas. O toque suave nos meus ombros e pescoço despertou algo doce dentro de mim. Cada beijo de Ahren era como um pequeno sol, aquecendo minha pele enquanto o mundo ao nosso redor permanecia gelado e silencioso. O cheiro familiar de Ahren misturado com a lenha queimada na lareira me deixava relaxada.

O quarto, ainda envolto na penumbra da manhã, tinha uma atmosfera aconchegante. Eu me sentia tão confortável na cama, envolta em cobertores quentes, que relutei em sair. O calor de Ahren irradiava por meu corpo, uma promessa de segurança.

- Vou deixar você dormir mais um pouco então - ele murmurou, sua voz baixa e suave, enquanto continuava a me beijar, como se tentasse me convencer a ficar mais tempo na cama. - E vou pra reunião com os betas e Davian.

As palavras dele começaram a penetrar na neblina do meu sono. Inicialmente, elas me pareciam distantes, mas, à medida que o significado começava a se cristalizar em minha mente, uma onda de preocupação tomou conta de mim.

Eu me sentei de repente, os cobertores escorregando do meu corpo, e olhei para ele, já se levantando, pronto para sair. O coração começou a bater mais rápido em meu peito.

- Espera! Eu também vou! - chutei as cobertas sem pensar duas vezes.

Corri em direção ao quarto de banho, as têmporas pulsando com a adrenalina. Atrás de mim, escutei a risada de Ahren, ecoando como um suave eco pelo quarto, sua diversão clara e contagiante, e, apesar de sua leveza, isso apenas me fez correr ainda mais rápido, determinada a não perder o que estava prestes a acontecer.

Enquanto me preparava rapidamente, uma mistura de excitação e nervosismo crescia dentro de mim. Eu precisava estar lá, ao lado dele e dos outros, pronta para enfrentar o que estava por vir. Afinal, a segurança de Davian e o futuro da alcateia dependiam disso. Não podia me permitir ficar de fora, especialmente quando sabia que o risco era alto, joguei água gelada no meu rosto, o frio me fazendo estremecer, mas também me trazendo de volta à realidade. Eu precisava estar atenta.

Enquanto ia ao armário, uma pressa me consumia. Eu precisava me arrumar, pensar nas palavras que usaria na reunião. Em meio à minha concentração, puxei a camisola pela cabeça, desatenta a qualquer outra coisa ao meu redor.

Então, ouvi uma tosse atrás de mim. Meu coração disparou e me virei com rapidez, o rosto queimando em um misto de surpresa e vergonha. Ahren estava parado, seus olhos fixos em mim, o que parecia um misto de espanto e um desejo inegável.

- Ah! - Me cobri rapidamente com a camisola, mas não antes de perceber o brilho faminto em seus olhos.

Ele pigarreou, tentando esconder o riso que se formava em seus lábios.
- Você ainda vai me matar, sabe? - disse, sua voz carregada de um tom brincalhão, mas a seriedade no olhar me fez sentir uma onda de constrangimento.

Ficamos nos encarando por um momento que pareceu durar uma eternidade, e eu me sentia vulnerável sob seu olhar. Ele parecia apreciar o que via, e eu me perguntava se conseguia perceber o tumulto em minha mente.

Finalmente, ele quebrou o silêncio. - Vou esperar por você do lado de fora, - disse, com uma leveza que contrastava com a intensidade do momento, antes de se virar e caminhar em direção à porta do quarto.

Senti uma mistura de alívio e frustração enquanto ele se afastava. Uma parte de mim queria gritar para que ele voltasse, mas outra parte estava presa na confusão de sentimentos que pairavam no ar.

Com a respiração ainda acelerada, sabia que aquela reunião com os betas e Davian seria mais do que uma simples formalidade. Era um momento de verdade, um teste não apenas para eles, mas também para mim.

Ao sair do quarto, senti o frio do corredor me envolver. O vestido que eu usava era simples, mas confortável, feito de um tecido leve que se ajustava ao meu corpo e me permitia movimentar-me com facilidade. Ele era de um tom azul escuro, profundo como o céu noturno, e seu caimento suave realçava minha silhueta. Meus cabelos estavam presos em um coque bagunçado, alguns fios rebeldes caindo suavemente, um lembrete de que não tinha me preocupado em me arrumar com muito cuidado.

Ahren estava encostado na parede, e sua presença era impossível de ignorar. Ele usava uma camisa escura, quase negra, que se ajustava ao seu corpo, destacando os músculos definidos de seu peito e ombros. As mangas estavam dobradas até os cotovelos, revelando os braços tonificados, e o tecido parecia esticar-se a cada movimento que ele fazia. As calças, também escuras, moldavam-se às suas coxas musculosas. Nos pés, ele usava botas de couro pretas, robustas e elegantes.

Quando ele me viu, um sorriso travesso brotou em seu rosto, e sua expressão mostrava uma mistura de apreciação e interesse. Ele me olhou de cima a baixo, como se estivesse absorvendo cada detalhe, e isso me deixou um pouco nervosa, mas ao mesmo tempo, me fazia sentir confiante.

- Pronta para a reunião? - perguntou ele, a voz suave e provocativa, com um tom que insinuava que ele sabia exatamente o efeito que causava.

Estendi a mão em sua direção, e ele entrelaçou nossos dedos com um toque firme, aquecendo minha pele. A conexão entre nós parecia elétrica, e a maneira como seus olhos fixavam os meus me deixava sem fôlego.

- Espero que você não tenha se esquecido do que discutimos sobre Davian - ele acrescentou, sua expressão mudando para algo mais sério.

- Eu sei... - respondi, o peso da responsabilidade começando a me atingir. - É importante, e não quero que isso acabe em desastre.

Ahren inclinou a cabeça levemente, seus olhos intensos penetrando nos meus. - Lembre-se, você não está sozinha nisso. Nós estamos juntos nessa.

A segurança que ele transmitia era como um bálsamo para a minha ansiedade. Com um impulso de coragem, sorri e segurei sua mão com mais firmeza, determinada a enfrentar o que quer que estivesse por vir.

- Vamos, então. - disse, puxando-o suavemente. - Não quero atrasar a reunião.

Enquanto caminhávamos, o corredor se iluminava suavemente com a luz que refletia nos cristais embutidos nas paredes, criando um ambiente quase mágico. A atmosfera estava carregada de expectativa, e eu sabia que o que estávamos prestes a enfrentar mudaria tudo.




[...]



O ar parecia mais pesado, carregado com a desconfiança que pairava no ambiente. As luzes suaves das tochas iluminavam o espaço com um brilho amarelado, criando sombras nas paredes de pedra. As cadeiras ao redor da grande mesa estavam ocupadas pelos seis betas da alcateia, todos observando Davian com olhos duros, avaliando cada movimento dele.

Davian, sentado do outro lado, mantinha a cabeça erguida, mas estava tenso. Era impossível não sentir o desconforto dele sob o olhar penetrante dos betas, cada um examinando suas intenções e medindo suas palavras antes mesmo que ele falasse. Ao lado de Davian, Eli se mantinha firme, como uma sombra protetora. Embora tivesse uma expressão mais relaxada, não abaixava a guarda - ele sabia o que estava em jogo e como essa reunião poderia determinar o destino de seu amigo.

Ahren estava ao meu lado, sua presença forte e confiante me oferecendo suporte em silêncio. Apesar de estar ao comando, ele também parecia medir cada reação dos betas. Seus olhos passaram rapidamente por mim antes de voltarem a focar em Davian e nos outros.

Ninguém falava. O som do crepitar das tochas e o eco ocasional da madeira estalando quebravam o silêncio. Era como se todos estivessem à espera, medindo o peso das palavras que viriam a seguir. Cada beta tinha um olhar diferente - alguns mostravam ceticismo claro, outros mantinham uma postura mais neutra, mas, em todos, havia uma desconfiança velada.

Eu podia sentir a ansiedade crescendo dentro de mim. Davian estava seguro, por enquanto, mas isso não significava que estava livre. Ele era visto como uma ameaça, um estranho no meio deles, e o fato de ter sido aceito temporariamente não garantia sua permanência. Ao contrário, ele estava ali sendo julgado a cada segundo, a cada movimento.

Um dos betas, Hakan, o mais direto de todos, cruzou os braços sobre o peito e arqueou uma sobrancelha, seu tom de voz seco quando finalmente quebrou o silêncio:

- Então, Davian, vai finalmente abrir o bico?

A pergunta era clara e cortante, indo direto ao ponto que todos estavam pensando. O clima na sala pareceu pesar ainda mais.

Davian abriu a boca para responder, mas hesitou por um momento, talvez medindo o impacto de suas palavras. Eli, ao lado, deu um passo discreto, como se estivesse pronto para intervir caso fosse necessário. Ahren não se mexeu, mas pude sentir a tensão nele também.

Eu sabia que todos ali estavam à espera de uma resposta que decidisse o futuro.

O silêncio na sala era tão denso que eu podia sentir a pressão nos meus ouvidos. Davian, com os ombros rígidos e o olhar frio, finalmente falou, mas suas palavras foram carregadas de amargura.

- Vocês estão ansiosos pelas informações que acham que eu tenho, não é? - Ele olhou para cada um à sua frente, sua voz firme, quase desafiadora. - Acham que vou entregar tudo, como se fosse fácil. Mas o problema de vocês não é só o que eu sei... O problema de vocês é que não confiam em mim, e eu também não confio em vocês.

As palavras dele cortaram o ar como uma lâmina, e eu senti meu estômago se apertar. Ele não estava errado. A desconfiança estava presente de todos os lados.

- Então qual é o plano? - Davian continuou, sua voz crescendo de frustração. - Vão marchar até a aldeia e matar todos do Conselho? Vocês acham que só isso vai resolver tudo?

O impacto dessas palavras ecoou pela sala. O ar parecia vibrar com a tensão que Davian havia acabado de acender. Andras, que até então estava em silêncio, inclinou-se para frente, os lábios curvados em um sorriso irônico.

- O que vai acontecer depois - Andras disse, sua voz carregada de sarcasmo - não é problema nosso. O Conselho... A aldeia... eles vão ter o que merecem.

A risada curta e maliciosa de Andras ecoou pelo salão. O sangue subiu à cabeça de Davian, e ele bateu com a mão na mesa, o som estrondando como um trovão.

- Então eu não vou ajudar em porra nenhuma! - A voz de Davian explodiu, e o choque da sua declaração reverberou no peito de todos.

Os betas começaram a falar de uma vez, a tensão que antes era apenas um fantasma no ar agora se materializava em uma cacofonia de discussões acaloradas. Um dos betas começou a falar por cima do outro, enquanto Andras se encostava de volta na cadeira, os braços cruzados, uma expressão de desprezo evidente. Eli, ao lado de Davian, tentava intervir, mas sua voz se perdia no caos crescente.

Senti uma dor de cabeça crescente enquanto fechava os olhos. Isso vai ser um desastre. A desordem, os ânimos exaltados... todos estavam à beira de perder o controle.

Então, como uma rajada de vento frio varrendo as brasas de uma fogueira, a voz de Ahren ecoou pela sala, cortando o tumulto:

- Chega!

A autoridade em sua voz foi inegável. O som das discussões cessou no mesmo instante. Cada olhar se voltou para ele, e o ar, antes tão denso com tensão, agora parecia congelado. Ahren levantou-se da cadeira lentamente, seu olhar sombrio, mas controlado. Ele olhou para Davian primeiro, depois para Andras e para os outros betas.

- Todos vocês. Calados - Ahren ordenou, a força em suas palavras inabalável. - Isso não vai nos levar a lugar algum.

O silêncio voltou a cair, mas desta vez era um silêncio pesado, com o sabor amargo de acusações e ressentimentos não ditos.

Ahren caminhou até o centro da sala, seus passos ecoando no chão de pedra. Ele olhou de Davian para os betas, sua expressão de ferro. Eu podia sentir a frustração crescendo dentro dele, mas também sua determinação em manter o controle da situação.

- Isso não é uma guerra de egos - ele disse, sua voz grave. - Temos que ser inteligentes sobre o que fazemos daqui para frente. Não adianta brigar entre nós.

Davian apertou os lábios, visivelmente irritado, mas manteve-se em silêncio. Seus olhos escurecidos, refletindo a mesma desconfiança que sentiam em relação a ele. Os betas estavam tensos, seus olhares fixos em Ahren. Eli, ao lado de Davian, estava inquieto, olhando nervosamente de um para o outro, como se a qualquer momento esperasse uma explosão.

Ahren voltou-se diretamente para Davian, mantendo o tom firme.

- Não se trata de matar todos no Conselho - disse ele, seus olhos perfurando os de Davian. - Se fosse isso, já teria sido feito há muito tempo. O que queremos é uma solução definitiva, algo que não nos arraste para mais derramamento de sangue. E você - ele apontou para Davian - tem um papel nisso, quer queira ou não.

Davian estreitou os olhos, mas não respondeu de imediato. O silêncio se estendeu por um longo momento, tenso, até que ele finalmente falou, a voz grave, carregada de desconfiança.

- E por que eu deveria confiar em vocês? A minha vida vale alguma coisa aqui? Como sei que depois que tiverem o que querem, não vou acabar morto?

Eu podia sentir a tensão de novo, crescendo como uma maré perigosa. Os betas se agitaram em suas cadeiras, e Eli franziu o cenho, olhando de Ahren para Davian, como se tentasse evitar que a situação explodisse mais uma vez.

- Você não tem muitas opções, Davian - Ahren respondeu, sua voz firme, mas calma. - Ou nos ajuda, ou continua vivendo como um renegado, fugindo de todos os lados. Aqui, pelo menos, você tem uma chance de resolver as coisas, de encontrar alguma paz.

Os olhos de Davian se estreitaram ainda mais, e eu podia ver a luta interna em sua expressão. Ele não confiava em nós, mas também sabia que Ahren estava certo. Fugir não era uma opção sustentável.

- Nós não somos o Conselho - Ahren acrescentou, sua voz agora mais baixa, quase persuasiva. - E você sabe disso.

Davian olhou para baixo, sua mandíbula travada, mas não disse mais nada. O silêncio que se seguiu parecia carregar o peso de uma decisão difícil.

Acho que, de certo modo, todos estávamos presos naquele mesmo impasse, dependendo de como Davian escolheria jogar suas cartas. Eu abri a boca para dizer algo, mas fechei antes que as palavras saíssem, sentindo o peso da tensão afundar ainda mais dentro de mim.

Ahren deu mais alguns passos à frente, olhando diretamente para Davian, sua postura firme, mas o tom de voz suavizado. Ele sabia que precisaria mais do que autoridade para conquistar a confiança do homem à sua frente.

- Estamos todos do mesmo lado aqui, Davian. - Sua voz ecoou pelo salão, mas não tinha mais a aspereza de antes. - Ninguém quer mais mortes. Não quero envolver pessoas inocentes nisso, e vou fazer o possível para poupá-las.

Os betas mantiveram o silêncio, mas era claro que estavam desconfortáveis. Andras continuava observando a situação com um olhar de desdém mal disfarçado, mas até ele parecia perceber que aquele momento exigia cautela.

Ahren se aproximou de Davian, seus olhos fixos nos dele. - Eu te prometo, quando você nos disser o que sabe, você estará seguro. Eu mesmo garanto isso. E depois que resolvermos o problema com o Conselho, a aldeia vai ser livre para decidir o próprio destino. As pessoas merecem isso.

Davian arqueou uma sobrancelha, ainda hesitante, mas a desconfiança não desapareceu de seu olhar.

- E por que eu acreditaria em qualquer palavra sua? - retrucou ele. - Vocês estão me pedindo para trair tudo o que eu fui forçado a construir. Como sei que depois que derem um fim no Conselho, não vão invadir a aldeia. Pra se vingar pelos lycans que matamos.

Ahren não recuou. Ele sabia que Davian não era fácil de dobrar, mas também sabia que ambos estavam lutando pelo mesmo objetivo, ainda que com caminhos diferentes.

- Porque você quer proteger o seu povo tanto quanto eu quero proteger o meu. - Ahren inclinou a cabeça, sua expressão séria. - Nós estamos a dias tentando invadir a construção na floresta, mas Theron e os outros estão usando renegados para defender o lugar. Eles estão usando armas mais eficazes contra nós, armas que podem nos ferir gravemente. E isso não vai parar enquanto não fizermos algo a respeito.

Eu senti um aperto no peito ao ouvir essas palavras. Ahren não tinha me falado sobre isso.

Ahren respirou fundo e continuou. - Eu não quero ver mais lycans ou humanos morrendo, Davian. Mas para proteger meu povo, preciso que você nos ajude. Precisamos saber o que está acontecendo lá dentro, o que eles estão escondendo. Isso não é mais apenas uma briga entre facções. Se continuar assim, não haverá mais volta. Eles não vão parar.

Davian cruzou os braços, visivelmente lutando consigo mesmo. Ele não estava convencido, mas as palavras de Ahren pareciam ter plantado uma semente de dúvida.

- O que você vai fazer se conseguir derrubar o Conselho? - Davian perguntou, a voz mais baixa, como se ainda estivesse testando a sinceridade de Ahren.

- Vamos deixar a aldeia escolher. - Ahren respondeu sem hesitar. - Eles merecem esse direito, assim como todos nós merecemos. Essa luta é para dar às pessoas o poder de decidir o próprio futuro.

O silêncio voltou a cair sobre a sala, e dessa vez, era como se todos estivessem à espera da resposta de Davian.

Ahren respirou fundo, a tensão visível em seus ombros enquanto olhava fixamente para Davian. O silêncio era denso, como se todos aguardassem o que ele diria em seguida. Seus olhos castanhos brilharam por um momento, uma mistura de cansaço e determinação.

- Eu não tenho interesse em me meter na aldeia de vocês. - Sua voz saiu firme, mas carregada de sinceridade. - Não quero vingança. Sei que a guerra levou muitos de nós, assim como levou muitos de vocês. Nós já perdemos o suficiente, Davian. Eu só quero viver em paz.

Ahren fez uma pausa, seu olhar se suavizando por um instante. Ele parecia pesar cada palavra antes de continuar.

- Quero viver com a minha família, com as pessoas que eu amo, sem mais sangue derramado. - Sua voz quase falhou, revelando uma vulnerabilidade que raramente mostrava. Ele virou a cabeça e, por um breve segundo, seus olhos encontraram os meus. Foi um olhar cheio de significado, que me fez sentir um calor estranho, como se, naquele momento, tudo o que ele dizia também fosse sobre nós dois.

Meu coração acelerou, e eu desviei o olhar, tentando processar o peso daquelas palavras. Ahren queria paz... para todos nós. Mas como isso seria possível diante de tudo que enfrentávamos?

Davian ficou em silêncio por alguns segundos, a tensão no ar tão espessa que parecia sufocante. Seus olhos vagaram pelo rosto de Ahren, como se estivesse pesando suas opções. Ele então suspirou, mergulhando a mão no bolso de sua jaqueta.

Ele puxou um pedaço de papel amassado, já gasto nas dobras, como se tivesse sido aberto e dobrado repetidas vezes ao longo do tempo. Sem dizer mais nada, estendeu o papel para Ahren. Os olhos de Ahren se estreitaram, desconfiados, enquanto ele pegava o papel com cuidado, desdobrando-o com atenção.

Conforme seus olhos percorriam as linhas, vi algo mudar em seu rosto. Sua pele começou a perder a cor, tornando-se pálida de uma maneira que eu nunca tinha visto antes. Ele piscou algumas vezes, como se tentasse processar o que estava vendo, e sua mandíbula travou.

- O que é isso? - Minha pergunta saiu quase como um sussurro, mas todos na sala pareceram sentir o impacto daquilo.

Davian cruzou os braços, seus lábios apertados em uma linha fina.

- É uma lista. Dos híbridos que vivem na aldeia. - Ele respondeu com uma frieza controlada.

Eu senti meu estômago revirar. O silêncio na sala tornou-se absoluto. Até mesmo os betas, que pareciam prontos para brigar instantes atrás, se endireitaram nas cadeiras, tensos. Ahren ainda segurava o papel, os olhos fixos nas palavras, como se fosse difícil acreditar no que estava lendo.

- Eles estão marcando-os... - Ahren sussurrou, a raiva se infiltrando em sua voz. - Como se fossem... alvos.

Davian assentiu lentamente, o semblante grave.

- Exatamente.









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