Luz
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Achei que iria demorar a me acostumar com a fazenda, com a rotina, com o tanto de trabalho que eles tem para manter tudo funcionando bem.
Estou no Texas, na fazenda Lisboa, há exatamente 2 semanas e sinto como se minha vida tivesse melhorado, um verdadeiro recomeço.
Carmem tem sido tão boa, compreensiva, cuidadosa. Quando cheguei contei a ela tudo o que aconteceu, e como uma boa mãe, ela me acolheu de uma forma que me senti extremamente segura.
Mas não apenas Carmem me acolheu, todos os funcionários da fazenda, em especial Diogo que tem sido um amigo e tanto.
E bom, eu ele te me ajudado nos vinhedos, já que decidi trabalhar até que meu bebê nasça e também para ajudar Carmem, o que a deixou extremamente feliz.
- LUZ!! LUZ!!
Escuto a voz de Diogo, quando me viro o vejo correndo entre a plantação de uva segurando algo em suas mãos, ele corre e quando chega próximo a mim, respira recuperando o ar.
Dou uma gargalhada arrumando o meu chapéu, o sol tem sido bem forte.
- O que aconteceu?
- Nessa pasta - ele respira buscando recompor seu ar. - Calma, estou ficando velho...
- Ai meu Deus, Diogo, você só tem 28 anos - falo rindo. - Minha mãe Amelia diria que isso é sedentarismo.
- Talvez.. Calma... Tá, isso, nessa pasta tem uma carta, tem, tem, tem uma grande notícia e a dona Carmem, ela vai pirar de tanta felicidade.
Franzo a testa.
- O que seria?
- Enviamos para uma garrafa do nosso vinho para um crítico muito famoso. Antes de irmos para o concurso, queremos uma crítica para saber se precisamos melhorar em algo.
- E o que ele disse?
- Que nosso vinho é espetacular e que ele o levou a recordar o seu primeiro encontro com sua esposa. Ele disse que nosso vinho merece ser apreciado por todas as pessoas do mundo.
- Não acredito! Diogo...
- Veja! Veja!
Pego pasta e a abro vendo o envelope, logo entrego a pasta para Diogo e abro o envelope pegando a carta.
Então a abro e começo a ler.
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Caríssimos,
Carmem e Diogo,
É com uma imensa alegria e nostalgia que informo que o vinho de vocês é espetacular. O gosto, a densidade, a cor, tudo, absolutamente tudo está em perfeita harmonia!
Ele me fez recordar de quando tive o meu primeiro encontro com minha falecida esposa Leonor. Tomamos um bom vinho e dançamos uma bela música clássica a noite toda. Aquela noite foi uma das melhores da minha vida e o seu vinho me levou a recordar aquele momento esplêndido.
Tenho certeza que quem beber o seu vinho se recordará de momentos felizes de sua vida e com isso, respondendo a sua pergunta na carta que me enviou, com toda a certeza esse vinho deve entrar no concurso!
Como eu disse, as pessoas devem conhecer o que é um vinho de verdade.
Se me permitir, gostaria de visitar sua fazenda e provar muito mais dessa beleza! Uma garrafa não me foi suficiente.
Com carinho e admiração,
Paulo Rodrigues Bittencourt.
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- Diogo!!
- Sua mãe vai se emocionar tanto! Ela lê muitas críticas do Paulo Bittencourt. E quando enviamos a garrafa de vinho, ela nao de aguentava de tanta ansiedade.
- A gente precisa mostrar pra ela!
- Agora?
- Nesse momento! Vamos! Vamos!
Pego a mão de Diogo e saímos correndo, em passos rápidos, rumo ao galpão onde esta os barris de vinho e as ferramentas para faze-lo, Carmem está lá trabalhando.
Diogo e eu corremos, de mãos dadas e risadas sendo libertas de nossos lábios demonstrando o tamanho da felicidade que sentimos.
Não ajudei na preparação do vinho, mas sei o quanto trabalharam por isso, e sei o quanto minha mãe ficará feliz ao ler a carta que Paulo Rodrigues Bittencourt mandou.
Logo chegamos no galpão, entramos correndo, como duas crianças, assim que nos vê, Carmem franze a testa rindo e cruza os braços.
- O que aconteceu?
- Temos uma notícia, dona Carmem!
Diogo diz cansado.
- Uma ótima, uma ótima notícia!
Também digo cansada, Carmem da uma gargalhada e diz:
- Luz, lembra que tem a vida dentro de ti, querida, vai com calma.
- Estamos bem! Mas o que importa aqui, Carmem, é a notícia que temos.
- Que notícia?
Olho para Diogo.
- Lembra da garrafa do vinho que mandamos para o Paulo Rodrigues Bittencourt?
- Lembro, lembro sim... O que tem? Ele respondeu?
- Sim - digo mostrando o envelope e a carta em minhas mãos.
- Ai meu Deus! É ruim? É ruim sim, o vinho estava horrível. Causamos uma dor de barriga nele? O que? Intoxicação?
Diogo e e nos entreolhamos.
- Não, pior, muito pior, a gente traumatizou ele e agora ele não vai ser mais crítico de vinhos. Meu Deus... O que a gente fez, Diogo? Acabamos com uma carreira.
- Carmem - a chamo rindo.
- O que?
- Respira, você nao está respirando...
- Ok... - ela respira fundo.
- São boas noticias, dona Carmem... Veja!
Entrego a carta e o envelope para ela, no mesmo instante ela coloca seu óculos e após respirar fundo, começa a ler a mesma.
Diogo e eu rimos vendo-a ler e tampar sua boca visivelmente emocionada. Quando termina de ler, ela olha para Diogo e para mim, e com algumas lagrimas rolando por suas bochechas, diz:
- Não são apenas noticias boas, são notícias maravilhosas!
Rimos.
- Ele gostou do nosso vinho!
- Ele gostou do nosso vinho!!
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- E como está tudo por aí?
- Tudo muito bem, mãe. Aqui é tudo muito tranquilo, muito quieto e eu gosto disso. Gosto dessa tranquilidade. E as pessoas são tão boas, preocupadas, cuidadosas. São uma família linda.
Sorrio.
- Eu fico tão aliviada e mais tranquila ao ouvir sua voz e ver o quanto você está feliz, meu amor. Assim que consigo dormir mais tranquila. Mas me diz, já passou na consulta?
- A Carmem conseguiu marcar com a obstetra, vai ser amanhã. Assim que eu souber tudo sobre o bebê, eu te ligo e te conto, mamãe. A senhora vai ficar por dentro de absolutamente tudo.
- Liga mesmo, por favor! Quero saber como estão meu neto e minha querida menininha.
Sorrio.
Quando faço menção de dizer algo, fito Diogo chegando de cavalo, ele acena, também aceno, logo ele levanta uma cesta, franzo a testa quando percebo que se trata de uma cesta de piquenique.
- Mãe, eu vou desligar... Podemos conversar mais de noite?
- Claro, querida... Conversamos mais de noite. Por favor, se cuida, se alimente bem e não faça muitos esforços.
- Mãe, eu estou grávida, não doente.
Rimos juntas.
- Eu te amo, Luz! Te amo, minha filha!
- Eu também te amo, mamãe! Muito!
Desligamos.
Então levanto do banco da varanda da casa e desço as escadas indo até Diogo que desce do cavalo Brutus, sorrio franzindo a testa.
- O que é isso?
- Estou lhe convidando para um piquenique da tarde.
- Piquenique da tarde?
- Sim! Sabia que temos isso aqui na fazenda? Piquenique da tarde. Ele é oferecido por mim, para as gravidinhas mais bonitas da cidade.
- Ah, então quer dizer que várias gravidinhas já foram para o seu piquenique da tarde?
- Não, bom, ainda não visto que eu iniciei isso há exatamente - ele olha para seu relógio de pulso - alguns minutos.
- Você não existe, Diogo - falo entre risos.
- O que me diz?
- Eu topo o seu piquenique da tarde!
- Perfeito!
Ele abre um sorriso largo, também sorrio.
- Eu só preciso avisar a Carmem... Mas ela foi até a cidade.
- Nós passamos por lá e avisamos ela.
- Entao, vamos lá!
- Vem, eu te ajudo a subir!
Apoiando em Diogo, subo no cavalo, quando estou segura, Diogo também sobe e me entrega a cesta, colo o ela na minha frente a segurando, Diogo fica atrás de mim e logo saímos com Brutus indo devagar.
Quando preciso montar no Brutus junto com Diogo, ele sempre vai devagar, segundo Diogo, ele sabe que estou grávida e que precisa ir bem devagar para não machucar o bebê.
O que me leva a acreditar ele Diogo conversa com o cavalo e ele, como um cavalo que entende tudo, obedece.
Não demora muito e chegamos na cidade, logo vejo Carmem sentada em um dos bancos com coisas de cintura e de tricô, sorrio entregando a cesta para Diogo e ele me ajuda a descer do cavalo.
- O que ela está fazendo?
Pergunto chamando a atenção de Diogo, ele termina de amarrar Brutus e pega a cesta, então tambem olha para Carmem que está bem concentrada no que esta fazendo.
- Tricô? Aquilo parece tricô...
Sorrio.
- Carmem... - a chamo quando chegamos perto dela.
- Ah! Luz! - ela guarda tudo radiante na bolsa ao seu lado. - Querida, achei que estivesse em casa.
- O Diogo me chamou para fazer um piquenique, eu vim te avisar para nao ficar preocupada.
- Ah, querida, vá tranquila! Está em boas mãos - ela olha para Diogo sorrindo, ele também sorri.
- Não quer vim com a gente?
- Não, não... Eu prefiro ficar e trabalhar em algo. Mas nao se preocupe comigo. Vá aproveitar essa linda tarde.
- Tem certeza?
- Tenho toda certeza! Agora vão, vão e com cuidado...
Sorrimos.
- Cuida bem dela, Diogo! Dela e do meu netinho.
- Eu cuidarei, dona Carmem!
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Até mais!
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