Bad Deals | H.S

By AndyCSilva

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Depois de perder os pais em um incêndio, Isabella vai parar no orfanato Sun Valley. Tudo o que ela deseja é a... More

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By AndyCSilva

     HARRY STYLES

Faltavam apenas quatro horas para o fim do prazo que Charles Crawford havia me dado.

Quatro malditas horas em que eu deveria ficar sentado apenas esperando notícias de Louis. Ele não me deixou participar da operação. Como era algo tecnicamente oficial, eu não poderia estar envolvido em nada, apenas deveria agir como um familiar normal e ficar em casa chorando. Palavras dele.

– Alguma notícia? – Desmond adentrou a sala, vindo da cozinha.

– Ainda não.

– Tem certeza de que ele vai mesmo ajudar?

– Sim. – Garanti, apesar de bem lá no fundo, ter minhas dúvidas.

Louis me odiava. Odiava a minha família. E basicamente qualquer coisa que tinha haver com nós. Ele possuía todos os motivos para não me ajudar e apenas um para o fazer. Minha confissão. Desmond não tinha nem ideia do que eu havia prometido, e se dependesse de mim, continuaria assim, eu não precisava de mais uma perturbação na minha vida.

Meu celular apitou e eu rapidamente o alcancei na mesinha de centro. Era uma mensagem de Louis.

Temos um endereço e estamos a caminho. Cheque o seu email.

Deixei o celular de lado e abri o notebook, entrando no email. Ele havia me mandado um link. Cliquei, e estranhei quando o link me levou até o que parecia ser uma câmera de carro ao vivo.

– O que é isso? – Desmond se sentou no sofá ao meu lado.

Continuei analisando a imagem, até que ouvi a voz de Louis conversando com alguém e percebi que não era a câmera de um carro, e sim uma câmera corporal. A câmera estava apegada ao Louis, então eu não o via, mas via tudo o que ele estava vendo.

– Uma câmera ao vivo para acompanharmos a operação.

Obrigado, Louis.

– Espero que dê tudo certo.

Desmond se levantou de repente.

– Não vai assistir?

– Vou, mas eu só preciso resolver algo antes.

Me levantei, indo atrás dele até a cozinha, ele estava estranho demais.

– O que está acontecendo? O que você está aprontando?

– Nada demais, apenas um plano B, caso Louis não consiga.

– O que quer dizer com plano B?

– Exatamente o que você deve estar pensando. Eu tenho pessoas rastreando a Isabella nesse exato momento.

– Desmond... – Ele me cortou.

– Se você não quer entregar ela, tudo bem! Problema seu! Mas eu farei de tudo para trazer a minha filha e esposa de volta.

– Como se você sequer se importasse com a minha mãe! Manteve ela presa naquele maldito lugar por anos! – Cuspi as palavras, me irritando com seu falso moralismo. – Já parou para pensar que se algo acontecer com ela agora, suas últimas lembranças vão ser daquela merda de lugar e das suas traições? Que morte miserável, não acha?

– Mas de quem é a culpa de ela estar em perigo em primeiro lugar? Se algo acontecer com a Annelise ou a Gemma, a culpa é inteiramente sua, seu moleque!

Eu não respondi. Mesmo regado de ódio por esse ser a minha frente que ousava se chamar de meu pai, nisso ele não estava errado. A culpa era minha. Eu é quem fui covarde.

Um estrondo alto chamou a minha atenção e eu voltei para a sala, me sentando no sofá e encarando a tela. Louis e seus agentes estavam invadindo um galpão e uma troca de tiros havia começado. Ele se abaixou atrás da porta aberta do carro e vez ou outra saía para atirar, pedindo e fazendo cobertura para os outros agentes ali na operação.

Com a visão que eu tinha, que não era muita já que Louis estava escondo, eu consegui contar no mínimo cinco homens atirando. E apesar de Louis estar em maior número com o seu pessoal, a troca de tirou continuou por alguns longos minutos, até finalmente acabar com todos os capangas de Charles abatidos, e um agente ferido de raspão no braço.

– As ameaças foram aparentemente eliminadas. Vamos adentrar com cuidado. – Louis ordenou.

Dentro do grande galpão havia uma pequena construção de um cômodo. Sem janelas e apenas uma porta de entrada e saída que foi escancarada com um forte chute de Louis.

– Tudo limpo. – Ele informou, abaixando a arma.

A luz do cômodo foi acesa, revelando o que a primeira vista aparentava ser um simples quarto, mas que na verdade era um cativeiro. Havia uma pia e uma privada em um dos cantos, no outro, uma pequena geladeira com correntes e cadeados para deixá-la trancada, e no meio do cômodo, uma cama de casal cheia de cobertores.

– Acha que eles foram avisados da operação e as mudaram de lugar? – Um dos agentes perguntou a Louis.

– É bem provável. – Louis respondeu. – E pode ter certeza de que eu vou caçar quem foi que vazou essa informação.

Louis andou pelo cômodo, analisando com cuidado cada detalhe do lugar, até que parou em frente a cama, me dando uma visão perfeita do cobertor verde em cima do colchão e do que parecia ser uma mancha de sangue nele. Tentei não pensar no pior, mas quando Louis pegou uma das pontas do cobertor e o tirou de cima da cama, todo o meu mundo desmoronou. 

Deitado lá, já completamente sem vida, estava o corpo da minha irmã, morta com um tiro no peito. Louis até tentou se virar e tampar a câmera com a mão, mas já era tarde, tanto para mim quanto para ela. A imagem já estava gravada em minha mente, e o meu corpo começava a inundar de tristeza, arrependimento, culpa e ódio. Levantei do sofá, sentindo como se todo aquele apartamento estivesse encolhendo a minha volta, contudo, não tive tempo de chorar ou lidar com nenhuma das emoções borbulhando em meu corpo, pois o meu celular começou a tocar.

Voltei para o sofá, e peguei o aparelho. Apesar do número ser desconhecido, eu já sabia quem era.

– Você deveria ter me entregado a Isabella quando teve a chance, Styles. A culpa é sua. – Charles "lamentou".

O ar de deboche apenas me destruiu ainda mais. Isso não era nada para ele. Minha irmã não era nada para ele.

– Eu ainda tinha tempo...

– É, mas você envolveu o FBI nisso. Não achou que deixaria isso passar, achou? – Fiquei calado, pois sabia que se respondesse, não iria ser de forma racional. – Sem falar que, não é como se você pudesse me entregar a Isabella estando em Nova York e ela em outro Estado, não acha? Vamos ser honestos um com o outro. Você desistiu. Não quis fazer o que era preciso e agora está aí chorando... – Eu fechei os olhos com força, lutando para não quebrar aquele maldito celular no meio. – O que? Não vai me ameaçar dessa vez? Isso deve ser um bom sinal...

Por mais que eu quisesse estourar todos os miolos desse filho da puta, eu ainda tinha que pensar na minha mãe. Ela era tudo o que me restava agora.

– Minha mãe está bem? – Perguntei, chegando a sentir dor de tanto esforço que fazia para me manter lúcido e não surtar.

– Por agora, sim. E você pode ter ela de volta se quiser. Estou disposto a te dar uma segunda chance.

Gemma estava morta. Era isso. Não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso. Essa era a minha realidade agora. Minha irmã estava morta. Eu mal conseguia raciocinar direito de tanta tristeza e ódio que eu estava sentindo, mas de uma coisa eu sabia. Eu não iria perder a minha mãe também.

– Eu vou atrás dela. – Falei, e sabia que ele havia me entendido.

– Que bom que finalmente entendeu a seriedade da situação e mudou de ideia. Entretanto... agora eu não quero mais que você me entregue a Isabella. Cansei dessa brincadeira. Simplesmente mate ela com as suas próprias mãos, que eu te devolvo a sua mãe.

Expirei. Com Isabella viva eu ainda poderia tentar pensar em algo, em um plano para que ela sobrevivesse, mas Charles queria ela morta dessa vez... pelas minhas mãos. Então não havia espaço para mais nada, pois eu definitivamente não iria por a vida da minha mãe na linha por nada nesse mundo.

– Quanto tempo eu tenho?

– Dada as circunstâncias... vou ser bonzinho e te dar duas semanas. Você certamente vai precisar.

– Que circunstâncias?

Ele deu uma risada de deboche.

– Você vai descobrir assim que descobrir onde ela está... Boa sorte. E minhas condolências pela sua irmã.

Sem falar mais nada, ele desligou a ligação. E ali, sentado naquele sofá luxuoso, em um apartamento mais luxuoso ainda, e cercado de memórias e fotos da minha irmã, eu me senti como um lixo. Digno de pena.

Meus olhos se encheram de lágrimas, só que mais uma vez, eu não tive tempo de lidar com os meus sentimentos, pois o celular voltou a tocar. Era Louis dessa vez.

– Sinto muito, Harry. – Ele falou assim que eu atendi.

– Obrigado por tentar, Louis, mas eu assumo daqui em diante.

– Eu posso tentar rastrear para onde eles levaram a...

– Não precisa. – O interrompi. – Eu mesmo vou recuperar a minha mãe.

– Mas como?

– Eu fiz um acordo com Charles.

– Harry... Tem certeza de que essa é mesmo uma boa ideia? Vale a pena dar o que ele está pedindo em troca?

– Não precisa se preocupar comigo, Tomlinson.

– Eu não estou preocupado com você, Styles. Só estou tentando fazer você desistir dessa ideia maluca e seguir com a nossa... eu quero a minha confissão, afinal.

Eu abri o menor dos sorrisos.

– Você pode até não conseguir mais uma confissão minha, Louis, mas tenho certeza de que já ouviu falar que carma é uma vadia. Então durma tranquilo, pois eu com toda certeza estou recebendo o que mereço.

Ele não falou nada, mas eu o ouvi suspirar do outro lado.

– ... Tem certeza de que não quer que eu continue?

– Sim. Acabou. Obrigado.

– Tudo bem então... Você sabe onde me encontrar se voltar a precisar da minha ajuda, e sabe também o que me oferecer em troca. Eu não acredito muito em carma e sim, na lei.

– É claro.

Balancei a cabeça, Louis sempre seria Louis. E por mais que tivéssemos nossas diferenças, de um jeito bem distorcido éramos até parecidos... só que ele nunca admitiria isso.

– Vou te deixar em paz agora, mas mais tarde alguém deve ligar para você ou para o seu pai para informar oficialmente sobre a Gemma. Mais uma vez, sinto muito pela sua perda.

– Até mais, Louis.

Desliguei o celular, jogando-o na mesinha a minha frente, e finalmente me permitir desabar naquele sofá sem mais nenhuma interrupção. Deixando que a enxurrada de sentimentos se espalhasse...

***

Observei o caixão da minha irmã ser abaixado na cova com um pesar no coração por não ter conseguido salva-la. Nós tínhamos uma relação um pouco conturbada, mas de jeito nenhum eu queria que isso tivesse acontecido com ela. Gemma merecia mais. Eu a amava tanto que me doía saber que seus últimos dias na terra foram passados em um cativeiro de merda sendo torturada. E mesmo ainda não acreditando em Deus, eu estava me agarrando a uma torturante esperança de que ela estivesse em um lugar melhor... ou no mínimo, em paz.

– O que você vai fazer agora? – Desmond perguntou ao meu lado, enquanto enxugava uma lágrima solitária que escorria em sua bochecha.

Era a primeira vez que ele me dirigia a palavra desde que descobriu sobre a Gemma há quatro dias atrás. E era a primeira vez que eu o via chorar em toda a minha vida. Foi ele quem organizou tudo para o enterro, caixão, lápide, a roupa em que Gemma seria enterrada, tudo. Quem visse de longe poderia até mesmo confundi-lo por um bom pai... o que talvez ele realmente fosse, só que não para mim, e sim para a Gemma.

Enquanto Desmond preparava tudo, eu apenas me tranquei no meu antigo quarto e bebi minhas dores como um completo idiota. Que belo Natal, não? Bebi tanto, que por vezes mal consegui levantar da cama de tão acabado que estava. Foi um inferno. E eu o abracei de bom grado. Busquei por alívio no álcool, mas tudo o que eu consegui foi me encher ainda mais de culpa. Devo ter acabado com todo o estoque de Bourbon que Desmond mantinha no apartamento, e mesmo não tendo bebido nada hoje, eu ainda sentia alguns vestígios de álcool em meu sangue de ontem a noite.

Eu não estava bem. E eu não voltaria a ficar bem tão cedo, mas precisava me recompor. Quatro dias haviam se passado e eu não tinha feito absolutamente merda nenhuma para recuperar a minha mãe ou ir encontrar a Isabella.

– Você me disse que tinha pessoas rastreando a Isabella... Conseguiu um endereço?

– Ela está em Miami. – Respondeu prontamente. – Vejo que finalmente vai fazer o que deveria ter feito desde o começo.

– Agora não, por favor...

Ele apenas assentiu, entendendo. Eu não queria brigar. Estávamos em um cemitério, eu queria apenas me despedir da minha irmã.

– Não vai ser um trabalho fácil. Principalmente para você que está há um bom tempo parado, apenas se embebedando.

– E por que não?

Me abaixei para pegar um punhado de terra e jogar em cima do caixão de Gemma, e Desmond fez o mesmo. Havia apenas nós dois ali, e poderíamos falar livremente, ele não havia convidado mais ninguém. Nem mesmo Teresa.

– Ao que parece, ela está sendo mantida presa pela família do Jordan Wester.

– Merda... – Sussurrei.

Só poderia ser essa a tal circunstância que Crawford havia falado.

– Você sabe do que isso se trata? Estava me perguntando sobre ele um dia desses.

Dois coveiros se aproximaram e começaram a derrubar terra em cima do caixão, e isso foi uma deixa para que Desmond e eu começássemos a nos afastar.

Fique em paz, Gemma...

– Infelizmente, sim. Isabella é filha de Fernando Miller, o promotor brasileiro que Jordan te contratou para matar junto com os pais de Louis anos atrás.

Ele ficou em choque nos primeiros segundos, mas logo, balançou a cabeça com desgosto.

– Mundo pequeno esse, não? O que Jordan quer com ela?

– Fernando está vivo. Parabéns pelo trabalho de merda que você fez, aliais.

– Como é que é? – Ele parou de andar e colocou a mão em meu braço, me parando também.

– Ele sobreviveu e entrou para o programa de proteção a testemunha dos federais. Jordan deve ter descoberto sobre isso e foi atrás de Isabella pra tentar ganhar algum tipo de vantagem. Fernando é possivelmente a única pessoa viva nesse mundo que pode por em risco os negócios dele.

– Isso faz sentido... Mas você deveria ter me contado antes sobre o Fernando.

– Caso não tenha percebido, eu estava ocupado demais tentando lidar com toda essa merda do Charles para me preocupar com o Jordan.

– Você com certeza vai ter que se preocupar com ele agora se quiser chegar até a Isabella. Jordan é extremamente poderoso, principalmente lá na Flórida. Ninguém consegue tocar nele ou na sua família, e os que tentam, assim como os pais do seu amiguinho, sempre acabam mortos. – Advertiu. – Quando você vai?

– Preciso resolver algumas coisas por aqui antes... mas pai... – Ele olhou para mim surpreso. A palavra "pai" com toda certeza saía estranha na minha boca hoje em dia, e ele sabia disso. – Por favor, dê o divórcio a minha mãe e deixe que ela viva o resto dos seus anos em paz. Livre dessa vida.

Ele cerrou os olhos.

– Por que está falando como se não fosse voltar?... Não pretende se matar depois que matar a Isabella em uma distorcida e mal escrita versão de Romeu e Julieta, pretende? Pois essa seria uma péssima ideia.

– Então não me dê péssimas ideias. – Eu sorri, mas ele claramente não gostou da depressiva piada. – Não se preocupe, eu só vou viajar um pouco. Não pretendo voltar tão cedo.

– Você realmente pegou sentimentos por aquela garota, não foi? – Ele me olhou fundo nos olhos, buscando friamente uma verdade que nunca iria conseguir tirar de mim. Não tínhamos essa intimidade. E ao perceber isso, ele apenas suspirou. – Até breve, filho.

Ele moveu os braços de forma estranha como se fosse tentar me abraçar, mas ao ver que eu não movi um músculo em resposta, nem sequer tirei as minhas mãos do bolso da calça, ele desistiu e simplesmente saiu andando. Seu carro estava estacionado no final da rua, enquanto o meu estava logo ao lado da entrada do cemitério, com Zayn me esperando prontamente dentro.

Eu havia comprado um apartamento para ele, e futuramente Anna, morarem. Ficava no Brooklyn e era bem legal e despojado. Também havia deixado uma grande quantia de dinheiro já paga no hospital para que todos os tratamentos que ela precisasse fossem realizados, assim como também criei uma conta corrente com um bom dinheiro para que eles vivessem bem até o Zayn se reestabelecer em um outro emprego.

Mas ele não sabia de nada disso ainda, só descobriria quando voltasse para a mansão – que aliais, eu já havia colocado a venda – e lesse a carta que eu havia deixado. Dispensei todos os funcionários com um bom bônus, e também me despedi de Teresa, dando a ela milhares de dólares e a sua merecida aposentadoria. Eu realmente sentiria a sua falta. Ela foi como uma mãe para mim todos esses anos...

Era realmente o fim de uma era. Eu não voltaria a ver ninguém dessa parte da minha vida tão cedo. Deixaria Nova York por um bom tempo, e quem sabe até mesmo, os Estados Unidos e a Inglaterra. Procuraria outro país para tentar me recuperar, pois absolutamente tudo por aqui me lembraria a Isabella... e isso, se eu realmente fosse querer superar, pois a cada minuto que passava, a sugestão de Desmond ia ficando cada vez mais interessante...

– Para onde? – Zayn perguntou.

– Alfaiataria.

Zayn assentiu e me levou até lá pelas estradas frias drle Manhattan. Havia começado a nevar hoje, uma neve fina e escassa que em Janeiro se tornaria forte e pesada, atrapalhando ainda mais o tráfego de NY. Apesar do clima, a alfaiataria continuava a mesma, a única mudança era as decorações para o fim do ano em alguns dias. Kai também continuava igual, e sorriu ao me ver entrar.

– Quanto tempo, hein? Pensei que havia me trocado por alguém melhor e mais famoso.

– Pode até haver profissionais mais famosos por aí, mas você com toda certeza é o melhor.

Ele sorriu lisonjeado e colocou uma mecha do seu cabelo atrás da orelha... mesmo sendo completamente careca.

– Galanteador como sempre. Mas o que faz aqui? Precisa de novos ternos? Um smoking, talvez?

Eu sorri. Ele adorava desenhar smokings, era a sua peça de roupa favorita.

– Quem sabe outro dia... hoje, eu vim te pagar.

– Mas você não me deve nada. – Ele estranhou. – É o meu melhor cliente. Sempre paga tudo em dia e com extras!

– Eu estou me referindo a aposta... Você tinha razão... eu perdi.

– Aposta...? – Ele arregalou os olhos, finalmente se lembrando. – Oh meu Deus, você se apaixonou! – Ele foi até a janela e olhou para o lado de fora. – Por isso está nevando!

Balancei a cabeça, ele se achava tão engraçado... e talvez até fosse... mas só um pouco. Eu é que não tinha um bom senso de humor.

– Como se não nevasse todos os anos.

– Mal humorado como sempre... – Ele torceu o nariz, voltando a se aproximar. – Quem foi?

Torci o pescoço, desconfortável. Eu não estava nenhum pouco acostumado a falar sobre sentimentos com ninguém. Especialmente não sobre os meus.

– Você sabe quem foi.

– Isabella? – Ele abriu um sorriso malicioso, e eu um triste, que ele não percebeu. E nem precisava perceber, pois eu não queria ter que contar a ele como tudo isso iria acabar em morte. – Seu cachorro, eu sabia!

– Tá bom, tá bom. Chega de falar sobre mim! – Impus. – Eu te prometi um trabalho, e estou aqui para cumprir. Então me passa logo todas as informações que eu preciso antes que eu desista, pois esse vai ser o meu último trabalho por enquanto.

– Pretende se aposentar?

– Quem sabe. – Dei de ombros. – Então, quem é o alvo?

Ele tirou a fita métrica que estava envolta do seu pescoço e se sentou em um poltrona, adotando uma certa seriedade. Me sentei no sofá de frente para ele, esperando que começasse. E pela expressão em seu rosto, seria algo sério e difícil.

– Eu nem sempre fui esse ser humano incrível... elegante, charmoso, talentoso, bonito e rico que você conhece. Eu tive uma infância bem humilde e difícil. – Ele limpou a garganta. – Meu pai abandonou a mim e a minha mãe assim que eu comecei a mostrar sinais de quem eu realmente era... – Ele aprontou para si mesmo e o longo vestido extravagante que vestia. – E foi bastante difícil, ela chegou a trabalhar em três empregos para conseguir nos manter.

– Sinto muito por isso, Kai, deve ter sido difícil... é ele que você quer que...

– Oh, não, não! – Ele me parou. – Meu pai já morreu há um bom tempo. É outra pessoa... Teve uma época em que as coisas apertaram bastante e minha mãe precisou pegar um dinheiro com um criminoso. Dinheiro esse que ela não conseguiu pagar de volta a tempo, então... ele a matou na semana em que eu completei dezesseis anos.

Eu engoli em seco. Kai se mostrava comk uma pessoa tão alegre e cheia de vida, que era difícil de escutar tudo pelo que ele já passou. Ele era um exemplo de força que eu certamente levaria para a vida.

– É ele? Esse criminoso?

Realizar um trabalho normal e simples agora seria bom para me colocar em forma novamente. Pois ir atrás de Isabella no meio de uma máfia certamente seria difícil.

– Sim... Mesmo isso tendo acontecido há mais de vinte anos atrás, até hoje eu não consegui esquecer ou superar... essa é a única mágoa que eu carrego em minha vida, e levou anos, mas eu finalmente entendi que eu preciso dele morto para seguir em frente. Só assim minha mãe e eu teremos paz.

– Você sempre foi tão bom comigo, Kai, fazer isso por você, por vocês, vai ser uma honra.

– Tem certeza de que pode fazer isso por mim? Eu ouvi falar que ele é bem perigoso hoje em dia.

Se ele já era um criminoso há 20 anos atrás, ele já estar velho agora. Isso seria fácil.

– Não confia em mim? – Levantei uma sobrancelha e ele sorriu.

– Confio.

– Então, só precisa esperar e logo terá o seu resultado. Qual o nome dele?

– Jordan Wester.

Pisquei algumas vezes.

– Espera, Jordan Wester? – Repeti, sem conseguir acreditar. – Você cresceu na Flórida?

– Sim, em Miami para ser mais exato. Vim para Nova York com vinte anos... Você já conhece ele?

– Ah, você não tem ideia...

Balancei a cabeça em descrença, lembrando das palavras que Desmond havia me dito mais cedo... Mundo pequeno esse, não?

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