Bella piscou lentamente, o braço firme ainda segurando Renesmee atrás de seu corpo protetoramente, e seu olhar atento correu livremente entre Irina e os outros presentes no cômodo. Ela não foi a única a pensar que a história da recém-chegada foi incompleta e cheia de incertezas, muito difícil de engolir. A audição de Bella estava em alerta para qualquer coisa que estivesse rondando a casa, e até mesmo as Denali pareciam desconfiar da veracidade da versão de sua irmã.
— Aurora resolveu tudo. — Foi o que ela disse quando todos tomaram uma posição defensiva com sua chegada.
Se ela esperou que com aquela única frase poderia se safar de uma situação, a realidade foi o completo oposto. Rosalie soltou um rosnado gutural do fundo de sua garganta, e sua cintura foi agarrada por Emmett antes que ela pudesse se lança em Irina.
— Onde está minha irmã? — Rosalie estava furiosa, e ninguém tiraria sua razão. A situação em si já era revoltante e cansativa e, quando Aurora e Jasper não voltaram depois de enviar Peter e Charlotte como testemunhas, tudo acabou em um pico de frustração para os Cullen.
— Rosalie, querida, se acalme. — Carlisle pediu passivamente, um brilho de preocupação e receio cruzando seu rosto. — O que Aurora tem haver com qualquer coisa, Irina?
— Ela e Jasper foram até Volterra para falar com os Volturi. — Irina respondeu prontamente, esperando profundamente não irritar ninguém mais. — Aro nos deixou ir, com a promessas que não viria atrás de sua família ou seus amigos. — Ela apontou com urgência.
Bella expirou o ar que nem sabia estar segurando, e foi como se um peso tivesse sido arrancado de seus ombros pelas palavras simples de Irina. Ainda assim, seus olhos buscaram os de Edward, aguardando por sua confirmação. Mas ele ainda parecia em choque com alguma coisa na mente de Irina, e demorou para perceber que todos estavam lhe olhando.
Então, a atenção caiu sobre Maggie, que silenciosamente observou Irina desde que ela entrou ali.
— Ela diz a verdade. — Maggie declarou simplesmente. Edward meneou suavemente com a cabeça em concordância.
— Ela consegui, então. — Disse Bella com um ar de alívio e alegria. Inúmeros olhares se voltaram em sua direção em completa confusão. — Aurora tinha um plano, algo que Alice previu antes de partir. — Explicou calmamente.
— E ninguém podia saber? — Rosalie protestou em um tom enraivecido. Lhe causou desconforto estar em uma posição vulnerável, sem saber o que fazer por seus irmãos. Ninguém podia culpá-la por estar no limite de sua simpatia.
— Ninguém que pudesse ser lido por Aro. — Bella sentenciou em um tom de voz pesado. E foi o suficiente para que a compreensão os atingisse.
— Então, acabou? — Carlisle verbalizou o questionamento que pairava pelos cantos de sua casa.
Irina não soube responder, e apenas encolheu os ombros de onde estava, em sua posição acuada pelos inúmeros pares de olhos que a encaravam em desconfiança e expectativa. Ela só pôde desejar que Aurora e Jasper estivessem de volta o mais rápido possível, para dar um ponto final em todas as questões que restaram.
— Ma-ma-ma. — James lançou os braços para frente no colo de Sam, suas pequenas mãos rechonchudas apertando e soltando o ar enquanto seu sorriso de covinhas crescia.
O carro mal parou na travessia, e Aurora saltou graciosamente pela porta do passageiro, se aproximando em um piscar de olhos e, gentilmente, pegando o menino humano dos braços do quileute. Ela apertou James em seu abraço, cuidando para que a força nunca o machucasse, e fechou os olhos enquanto fungava silenciosamente suas próprias lágrimas.
— Acabou, querido. — Aurora sussurrou, sorrindo contra os cabelos loiros de seu filho. — Você vai ficar bem, já acabou.
Jasper envolveu os ombros de sua esposa com os braços, uma mão firmemente apoiada nas costas de James enquanto ele se curvava para beijar a testa do menino. Sam encontrou o olhar do Whitlock no minuto seguinte. Dourado no marrom, em um entendimento mudo, uma trégua silenciosa que já perdurava há um longo tempo, e que não se quebraria tão cedo.
Acabou, e Sam aceitou com um aceno passivo de sua cabeça, antes de se virar e caminhar novamente para dentro dos limites da Reserva. Aurora inspirou, sua risada leve enchendo o ar enquanto ela voltava os olhos úmidos para cima, para o céu nublado.
Ela, que nunca foi religiosa, não sabia a qual Deus agradecer por sua sorte. Jasper, no entanto, sabia.
Estava acabado, e Aurora compreendia todas as circunstâncias e extensões dessa afirmação, sendo a pessoa que martelou o último prego no caixão da dinastia Volturi. No entanto, alguns desses detalhes permaneceram soterrados em sua própria mente quando ela decidiu contar apenas o que fosse relevante para apaziguar e tranquilizar sua família e suas testemunhas.
— Eu testemunhei por nossa família. — Foi o que ela contou, seguido de uma vaga, mas satisfatória, versão de sua conversa privada com Aro Volturi.
— Aro não é tolo, criança. — Vladimir murmurou, desgosto pintando sua face. Não por Aurora, mas pela oportunidade perdida de uma luta justa. — Ele não se satisfaz com um testemunho simples e um belíssimo sorriso.
Apenas para fins de provocação, Aurora sorriu para o romeno, consciente de que aquilo era tudo o que ele precisava para não abrir a boca pelo resto do tempo que estivesse na presença dela. Foi o suficiente.
— Está feito, assunto morto e devidamente enterrado. — Ela disse em seguida, pegando um James adormecido dos braços de Esme e o aninhando em seu peito. — Eu e minha família agradecemos profundamente a cada um de vocês aqui. — O olhar afiado em sua expressão etérea, a imagem dura e arrepiante de uma figura plenamente capaz de subjulga-los, foi um contraste surpreendente com a forma suave que ela segurava a criança humana e vulnerável. Se possível, Aurora parecia ainda mais ameaçadora dessa forma, mesmo que não estivesse sequer tentando. — Eu posso garantir que nenhum de vocês corre perigo em voltar para casa, nem com os Volturi, nem com qualquer outro. Serei eternamente grata por sua coragem e lealdade, e minha forma de retribuir é prometendo a minha própria de volta.
A lealdade de Aurora, eles viriam a descobrir, era a única coisa precisavam, e ali estava ela, oferecendo sem nenhuma restrição ao condição além da reciprocidade .
Benjamin sorriu, apenas um segundo antes que Maggie fizesse o mesmo, ambos acenando firmemente para Aurora em aceitação. Em seguida foi Garrett, que eu nenhum momento perdeu a forma como as Denali tratavam a vampira ruiva como se fosse uma delas, e então os irlandeses, as brasileiras, os romenos, os nômades, até mesmo Alistair, para surpresa de todos os outros. Não restou ninguém, e Aurora lhes ofereceu seu melhor sorriso suave e familiar.
— É sério, gente, acabou. — Ela declarou com uma risada leve.
E então a ficha caiu. Sorrisos e risadas, abraços e beijos, rosnados satisfeitos e gritos de vitória saudados em conversas altas. Bella abraçou Renesmee em seu peito, Rosalie e Emmett se prenderam nos braços um do outro, e Esme se aproximou para abraçar Jasper o mais apertado que pôde, murmurando o quanto ficara preocupada quando eles desapareceram, Edward acenou para Aurora de seu lugar ao lado da filha e da esposa, e tudo o que a Whitlock fez foi olhar ao redor e sorrir para si mesma.
Tudo ficaria bem.
Os romenos realmente foram embora antes de qualquer celebração real, mas não antes de realmente cumprimentar Aurora, com toda a estranheza de um aperto de mão longo e silencioso. Ela era um incógnita para eles, uma que ainda era melhor manter ao lado do que contra.
Benjamin se envolveu tão profundamente em uma conversa com Aurora, que fora difícil tirá-lo para seguir viagem. No fim, ele e Tia seguiram Amun e Kebi, mas não antes que ele fizesse os Whitlock prometessem que os visitariam no Egito. Aurora concordou alegremente e sem dificuldade, tão fascinada e encantada pela aura leve e acesa de Benjamin.
Peter e Charlotte estavam felizes por conhecer James, finalmente, e não partiram até que Alice e Jackson estivessem de volta. Isso aconteceu muito rapidamente, na verdade.
— Jackson! — Foi preciso todo o controle de Aurora para não socar o sorriso de dentes perfeitos de Jackson quando ele atravessou a clareira com Alice e outras duas pessoas, apenas meio dia depois de sua própria chegada.
Ela foi atingida por uma felicidade e alívio tão fortes que poderia ter lhe derrubado, se não fosse a forma hábil e conhecedora que Jackson a abraçou apenas um segundo depois, tirando seus pés do chão enquanto a girava no ar frio da clareira. Aurora riu e soluçou, ao mesmo tempo, apertando os braços ao redor de Jackson com a mesma força.
As vozes dos outros, gritos e uivos e surpresa e alegria, desapareceram em sua pequena bolha de reencontro. Subconscientes de sua própria família reencontrando Alice apenas alguns metros de distância, Jackson colocou Aurora no chão e observou como ela elegantemente enxugou as próprias lágrimas.
— Vamos lá, Aury, não achou que eu realmente fugiria sem você, não é? — Seu sorriso largo e afetuoso poderia iluminar a clareira inteira, e Aurora sentiu uma súbita vontade de abraçá-lo e chorar copiosamente como a mulher com trauma de abandono que ela era. Mas não fez.
Ela sorriu, sem nenhum calor real por trás disso, e sacudiu a cabeça.
— Não, claro que não. — Jackson, no entanto, não pareceu se convencer quando, com um sorriso triste, puxou Aurora para seus braços de novo, bem onde seu coração costumava bater, e apenas a segurou perto.
— Eu nunca vou sair, Aurora. — Ele sussurrou ao lado de sua cabeça e, quando Aurora tremeu involuntariamente em um choro silencioso, todos os outros decentemente fingiram não ver ou ouvir o momento obviamente muito pessoal. — Não vou te abandonar.
Aurora se apegou a essas palavras agora, e foi o suficiente.
— Eu soube que fez alguns amigos em Volterra. — Jackson declarou suavemente enquanto se aproximava para parar ao lado de Aurora, ela sorriu empurrando o ombro contra o dele levemente.
— Claro, e tenho certeza que todos eles estão ansiosos pra receber meu convite para um chá. — Ela zombou, seu sotaque britânico bastante acentuado, para o horror de Garrett.
Não acredito que uma das melhores pessoas que conheci nesse século é britânica, ele declarou um tempo antes de se despedir para seguir viagem com as Denali. Aurora se divertiu com a indignação do ex-nômade, e realmente não levou suas provocações para o pessoal. Afinal, ela já ouviu piores vivendo com Emmett e Jackson.
— Então, nenhum detalhe que valha à pena compartilhar? — Jack insistiu, um olhar esperto pairando sobre Aurora. É claro que ele saberia que havia muito mais por trás de sua história ensaiada e bastante conveniente. E é claro que ele nunca pisaria em ovos para lhe questionar sobre isso.
Ela o encarou de volta, seu próprio sorriso de cumplicidade iluminando o espaço entre eles.
— Não. — Declarou Aurora finalmente, e, ao contrário do que esperava, Jackson sorriu.
— Algumas coisas nunca mudam. — Murmurou Jack enquanto rolava os olhos para cima. — Você vai ser sempre a garota teimosa e espertinha demais para o próprio bem.
Aurora riu muito suavemente, cruzando os braços sobre o peito enquanto voltava seu olhar para os últimos vampiros se despedindo na clareira. E esse lugar na varanda ela viu Nahuel se virar e lhe dar um aceno educado de despedida. Ela acenou de volta, não deixando de sentir uma pontada de compaixão pelo garoto, na verde homem, bem mais velho que ela, mas que na verdade ela não conseguia deixar de ver como uma criança que tivera muito pouca sorte.
Os braços frios, fortes e rígidos circulando sua cintura não foram exatamente uma surpresa, e Aurora mal se permitiu um único movimento antes que os lábios de Jasper apertassem contra sua têmpora. Ela suspirou satisfatoriamente e se inclinou contra ele, permitindo ser abraçada enquanto entrelaçava os dedos nos antebraços que cobriram seu tórax.
— Eu nunca achei que fosse ficar tão feliz em ver todo esse açúcar. — Jackson resmungou ao lado deles, torcendo os lábios em falso desgosto enquanto cruzava os próprios braços.
— Nunca achei que fosse sentir falta da sua personalidade distorcida e seu senso de humor infantil. — Jasper sorriu debochadamente em sua resposta. — Espere, eu não senti.
Quando a expressão de Jackson se revirou em horror e ofensa, Aurora apertou os lábios para prender a risada.
— Doeu, machucou, e eu não sei se posso viver com isso.
— Você está morto! — Protestou Jasper, e Aurora realmente riu dessa vez, alto e calorosamente.
Sua maior percepção até agora, sua família era recheada de idiotas de todos os calibres, e ela amava cada um deles intensamente. Mas o pedaço mais significante dessa nova descoberta: Eles estariam juntos por toda a eternidade.
Então, como se a onda de felicidade estivesse empurrando através dela, eles se acalmaram também, sorrisos tranquilos e postura relaxada enquanto se viravam para observar a clareira, agora parcialmente vazia, com excessão de sua família, e uma ou outra testemunha que ainda se despedia.
Renesmee sorria largamente de seu lugar em um amontoado de folhas, James sentado entre suas pernas cruzadas enquanto cavava na terra com dedinhos curiosos. O coração de Aurora aqueceu impossivelmente com a visão.
— Tenho a impressão que as coisas vão ficar um tédio agora. — Jack apontou, estalando a língua no céu da boca.
— Sim, por favor! — Aurora exclamou imediatamente, arrancando de Jasper uma risada alta e genuína.
Tédio parecia uma sinônimo aceitável para paz e tranquilidade, e eles pegariam isso pelo tempo que pudessem segurar.
Meu coração dói com a percepção de que falta um capítulo e então, finalmente, vem o epílogo. Eu confesso que posterguei bastante, simplesmente porque não sabia como ou se conseguiria terminar essa história.
Finalmente eu sinto que estou pronta, e a Aurora também. Espero que todos apreciem esse final tanto quanto eu.
Até logo.