George acordou, junto do som da delicada melodia dos pássaros, a cortina da janela tremulava à brisa fresca, os raios de sol passando pelas frestas. Ele remexeu na cama, bagunçando os lençóis que se enrolavam em suas pernas. George gemeu baixinho. A cama em que ele estava não era a da casa de sua mãe, ele percebeu.
Ele lembrou dos eventos do dia anterior. De viajar até o pequeno vilarejo onde sua falecida vó (que também era uma bruxa e tinha um familiar) morava antes, de ir a floresta, montar um ritual, de invocar um familiar, e de se decepcionar com o que ele formou um contrato.
Ele não sabia que tipo de espírito ele havia atraído. George já ouvira falar e já estudara sobre incontáveis tipos de espíritos ou até mesmo demônios, sobre os perigosos e poderosos e os mais fracos e gentis, cuja especialidade não são as lutas.
George tentou permanecer positivo. Ele imaginou que poderia ser algum espírito ainda não registrado nos livros comuns. Ou até mesmo um demônio realmente poderoso, que ele ainda não ouviu falar sobre.
Foi com essa positividade (ou até mesmo ilusão) que ele trocou sua roupa, pegando seu familiar com cuidado para não acorda-lo, descendo as escadas até a cozinha. Não era uma casa exatamente grande, mas um tamanho confortável, suficiente para que pudesse até mesmo correr se quisesse.
Era simples, decorada com alguns vasos de plantas aqui e acolá, cores quentes predominantes. O quarto em que estava antes, especialmente dele, era azul céu. Sua vó dizia que as cores claras eram para boas vibrações.
Por mais que ele fosse bruxo, não exatamente toda a família era. Alguns decidiam por não seguir esse caminho, outros simplesmente achavam chato. Ser um bruxo era e não era exatamente o que eles viam na televisão. George não de importava, apesar.
A cozinha estava vazia. Ele se lembrava de quando era criança, correndo pela casa até os braços de sua avó, lembrava da mesa cheia das mais variadas comidas. Ele não conseguiu evitar ficar triste. Ele sentia falta dela.
Por mais que bruxos vivessem mais tempo, sua avó contraiu uma doença que não a permitiu viver mais. George ainda lembrava de visitá-la no hospital, de vê-la sofrendo, máquinas ligadas ao seu corpo. Seu coração doía pensando naqueles dias.
Ele preparou sua própria comida. As torradas, as panquecas que ele lembrava dela fazendo-as, se animando quando via o familiar dela virando com só uma mão a frigideira (George nunca conseguiu descobrir o seu truque).
Ele comeu, a casa silenciosa, com nada mais do que o som dos pássaros lá fora, que ainda cantavam. George espalhou perto da janela, onde os deixou comer.
A casa era tão sem graça sem sua avó Elizabeth. Mas não havia nada o que fazer, afinal. Ele andou até a biblioteca, onde sua avó guardava variados livros. Desde romance até terror, desde a fantasia até a pura realidade das guerras. Havia também livros sobre bruxaria e os variados tipos de familiares, óbvio. Por mesmo que fosse pequeno, havia certos livros que ele sabia que não encontraria em qualquer lugar, um tanto raros.
Ele afastou as grandes cortinas, iluminado a sala com toda a luz delicada e graciosa do sol. O lugar estava limpo, já que uma pessoa da aldeia, grande amiga de sua vó Elizabeth, sempre limpava o lugar.
George olhou ao redor. Parecia que o lugar estava parado no tempo. Tudo estava em seu devido lugar; cada livro, cada cadeira, cada caneta e tinta, cada papel. Ele agradecia a mulher por deixar tudo onde deveria estar. Ele sentia nostalgia e, ao mesmo tempo, saudade.
O bichinho, que foi deixado esquecido na mesa que ficava no meio da pequena biblioteca, acordou. Ele olhou para os lados, como se tentasse reconhecer onde estava. Quando viu George, seu rosto pareceu se iluminar, e de alguma forma ele se levantou, se mexendo um pouco como se dissesse "George! George! Olha para mim!"
Ele riu. Por mais que odiasse admitir, ele era até fofo. George bufou. Ele odiava também o quanto sensível ficava sempre que viajava para aquela casa, em um vilarejo pequeno e desconhecido.
Ele procurou por entre as prateleiras organizadas, até encontrar os livros que ele queria. Ele pegou cinco livros, esperando encontar em algum deles.
Ele se sentou, seu familiar ao seu lado, como se quisesse observar o que George fazia. George se perguntou se ele não podia falar, ou se comunicar através da mente. Ele se sentiu um idiota quando pensou na última ideia citada.O primeiro livro tinha informações sobre familiares que ele nunca havia visto antes, mas nada sobre aquele que ele conseguiu formar uma ligação com. Ele lia e lia, o primeiro, o segundo, o terceiro livro. Até que já era hora do almoço, sua barriga reclamando de fome.
George suspirou, se levantando. Era desanimador não encontrar nada depois de tanto procurar. Na cozinha, ele fez sanduíches simples com suco, e percebeu ao passar pela janela que todo o pão havia sido comido. Ele sorriu levemente, deixando mais um pedaço maior lá.
George continuou lendo, devorando todo o seu almoço. Ele viu a coisinha ao seu lado e o cutucou, "Você não pode comer?" Ele perguntou. "Acho que seja apenas na sua formas humana. Eu me pergunto como ela é."
Ele nada respondeu. Parecia cansado de tanto ficar lá. "Você pode dormir se quiser", George sussurrou. Como se estivesse esperando pela permissão de George, ele se deitou, os olhos se fechando lentamente.
George sorriu, antes de suspirar novamente. Ele se sentia tão estranhamente vazio. Em uma manhã como aquela, Elizabeth havia morrido.
Ele não sabia por que era tão apegado a avó. Talvez porque parte de sua infância foi passada nessa casa, enquanto seus pais em casa brigavam. Talvez porque, quando seu primeiro gato morreu, a primeira coisa que pensou em fazer foi viajar até a casa de sua avó.
Ele se lembra de ter chorado nos braços dela, como nunca chorou antes. Lembra dela o abraçando, fazendo chocolate quente para ambos.
George afastou os pensamentos. Ele odiava pensar demais. Havia muitas coisas que ele odiava, ele percebeu. George continuou a ler. Quando ele terminou os últimos dois livros e não encontrou nada, ele continuou a procurar. O que mais ele faria, afinal?
Ele andou através da biblioteca mais uma vez. Pegou mais alguns livros, empilhando-os em seus braços. Continuou a ler, sem nada mais o que fazer. Continuou a ler, até que a tarde caiu e as estrelas brilharam no céu, até que a sala ficou escura e ele teve que acender uma vela, esfregando os olhos, sonolento.
Quanto finalmente encontrou algo, ele estava com sono demais para se animar, com sono demais até mesmo para manter os olhos abertos. A luz da lua iluminava ainda mais a sala. George adormeceu, em cima do livro, seus braços servindo como um travesseiro abaixo de si.
Sob a luz do luar, uma figura alta e de cabelos loiros levantou o jovem adormecido devagar, marcando a página em que ele parou, apagando a vela com um leve sopro de ar.
Com George em seus braços e o livro em sua mão, ele o levou com cuidado até a cama no quarto de paredes azuis claro. O cobriu gentilmente, um delicado beijo sendo posto em sua bochecha macia. George tremeu, as bochechas coradas de frio.
Ele sorriu e cobriu George, não aguentando e o beijando mais uma vez. O garoto de cabelos loiros se deitou ao seu lado, adormecendo ao lado do bruxo com quem formou uma ligação.
N/A: Aqui está, o primeiro capítulo! Desculpa a demora. Sinceramente, seu estava tão em dúvida sobre escrever isso. Eu já havia tentado escrever isso 3 vezes, até nessa 4 vez eu finalmente conseguir.
Eu só consegui terminar isso hoje graças as minhas amigas, eu diria. Que me encorajaram a escrever, e me ouviram reclamar ksks eu amo tanto elas
Desculpa pelo capítulo estar meio sem graça :c
Eu tive algumas ideias que vai melhorar para a história, só tô vendo como vou escrever elas ksksObrigada por ler até aqui! <3
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Familiar
FanfictionQuando George invocou seu primeiro familiar, não esperava que fosse um bichinho de pelúcia sorridente. Também postada na minha conta do Spirit, e no AO3. Capa linda pela @Coffe_Amargo Dêem muito amor pra ela <3