Quando tudo estiver desmoronando
Vou segurar firme a sua mão
Você nunca pode dizer nunca
Ainda não sabemos quando
De novo, de novo e de novo
Mais jovens do que éramos antes
Não me deixe ir
Não me deixe ir— Never say never - The Fray.
Chloe
Me olho no espelho e vejo uma versão diferente de mim. Os cabelos soltos e lisos, o salto preto alto até demais, um vestido justo preto com o decote em V e olhos pretos esfumados. De imediato não me reconheço. Acho que está exagerado demais e que Zoe usou todos os recursos possíveis para me transformar na cópia dela. Ela veio para a minha casa se arrumar comigo para a festa que inclusive estamos atrasadas. Zoe praticamente me fez de boneca e eu deixei. E não me arrependo. Quando me analiso no espelho e vejo o resultado, enxergo um lado meu que estava escondido, e que eu realmente me vejo nele.
- Você está tão maravilhosa! — Diz Zoe atrás de mim olhando para o meu reflexo no espelho.
- Sim. Estou. Eu amei, Zoe, e obrigada por me arrastar com você. Acho que preciso mesmo disso...
- Claro que você precisa, baby. Você só vai para aquela biblioteca, sua casa, o Flores, e a minha. Mais nada. Precisa animar mais a sua vida de uma garota de 17 anos.
Ela tinha razão. Eu nunca quis ir em locais com muita gente assim, mesmo já tendo ido pelo menos em uma. E passar pelos 17 anos e não ter ido em uma festa de fraternidade era praticamente um pecado capital.
- Ok, como estou? — Zoe da uma voltinha na minha frente e põe as mãos na cintura.
Ela está com uma saia de couro preta, e top também preto junto com seus coturnos altos. Os cabelos loiros soltos e a maquiagem tão marcada quanto a minha.
- Muito linda! — Confesso.
- A, para. — Abana a mão na frente do rosto fazendo drama.
Reviro os olhos. Mania essa que sempre que estou com Zoe, não pode faltar.
- Vamos logo se não vamos chegar quando a grama da frente estiver cheia de vômito e as pessoas esbarrando na gente na entrada.
- Ok, ok, vamos então. — Ela fala apressada. — Onde estão as chaves do meu carro?
- Ali. — Aponto para a minha escrivaninha.
- Pronto, vamos.
***
Assim que Zoe estaciona o carro em frente a uma casa de fraternidade branca e grande, descemos do carro. Já se podia ver pessoas na frente com copos de bebida nas mãos e em outro canto pessoas se beijando. Normal.
Abrimos a porta sem bater, até porque não é como se alguém fosse abrir pra gente.
- Nossa, está mais cheio do que eu imaginava. — Grito para Zoe, tentando falar acima da música alta.
- Já eu, imaginava exatamente assim. Vou pegar uma bebida. Vai querer?
- Qualquer coisa sem álcool.
Ela acena e vai em direção a cozinha. Estou me sentindo um pouco deslocada no meio de tantas pessoas da minha idade, prova de que eu realmente não sei agir em locais assim. Espero Zoe trazer as bebidas perto da escada em frente a entrada.
- Aqui. — Ela surge poucos minutos depois com um copo vermelho em cada mão e me estende um.
- Obrigada.
- Soube que os garotos do time de basquete da escola estão aqui. Sempre tive uma queda pelo pivô. — Confessa Zoe enquanto bebe o líquido em seu copo e analisa as pessoas na sala.
- Você sempre teve uma queda por todo mundo, Zoe...
- Nada disso. Com ele é mais forte, eu sinto.
Zoe já namorou alguns caras, mas relacionamentos que acabavam em semanas ou poucos meses. Ela entendia desse assunto mais do que eu, então quem sou eu para discutir.
- Tem um cara me encarando, vou lá falar com ele. Você fica bem sozinha por uns minutinhos? Juro que é rápido, mas não quero te deixar aqui.
- Tudo bem, Zoe, pode ir. Vou ficar bem.
Ela me encara por alguns segundos para confirmar que eu iria ficar realmente bem, e segue na direção do garoto.
Bebo o refrigerante em meu copo e me apoio na parede olhando as dezenas de cabeças na sala.
Pessoas se beijando em todos os cantos possíveis, e até nos degraus da escada. Decido andar um pouco pra não ficar parada que nem uma mobília, e vou para a segunda sala oposta a principal. Há mais pessoas em pé, e outras nos dois sofás opostos no centro da sala. Passo meus olhos pelas pessoas sentadas e meu corpo congela.
Ele está aqui.
E está me encarando de volta.
E com uma loira muito bonita sentada no seu colo.
Ele parece tão chocado quanto eu, mas não desvia o olhar. A loira em seu colo fala alguma coisa em seu ouvido, mas ele continua com os olhos em mim.
Quebro o contato visual e coloco meu copo em uma mesa qualquer e sigo para a sala principal e subo as escadas, passado por casais nos degraus. Não sei o que me deu. Eu nem conheço ele, mas aquele olhar foi tão intenso. Balanço a cabeça para mim mesma e tento achar a porta do banheiro. Assim que abro a segunda porta a direita, entro e tranco. Me olho no espelho, e respiro fundo. Ligo a torneira e lavo as mãos com sabão. Acho que faço essas coisas no automático, porque logo eu estou secando as minhas mãos e destrancando a porta. E logo em seguida, estou esbarrando em algo, ou melhor, alguém poucos centímetros mais alto que eu e que tem um cheiro forte de perfume masculino.
Levanto o olhar e encontro aqueles olhos castanho-amarelados me fitando.
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ENTRELINHAS
RomanceChloe Brown e Adrian Parker tem algo em comum. Os dois amam literatura. A biblioteca Libélula, é o refúgio preferido dos dois, e coincidentemente, onde se viram pela primeira vez. Adrian é jogador de basquete do colégio Wood High School, que fica n...