d o i s

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Adrian
3 anos antes

Inspiro

Expiro

Inspiro

Expiro

Continuo nessa sequência silenciosamente para não enlouquecer nessa sala de escritório enquanto meu pai continua seu discurso idiota de que eu devo ser um incrível jogador de basquete e que tenho que me empenhar mais em meus treinos. Isso, porque o Sr. Donovan, meu treinador, ligou para meu pai dizendo que tenho faltado alguns treinos durante as semanas. Estou a uma hora ouvindo o mesmo discurso da semana passada e ouvindo indiretamente que sou a porra de um péssimo filho.

Na verdade, eu devo ser mesmo.

—Seu incompetente! —Esbraveja meu pai— Eu invisto  um treinador caro para você se tornar o melhor, no futuro, e o que recebo em troca é a sua ingratidão de tanto esforço, pra que? Pra você não dar valor!

Ele anda de um lado para o outro atrás da cadeira onde estou sentado de frente para sua mesa impecável. Meu pai é empresário e dono de uma empresa famosa que patrocina jogadores de basquete entre outras merdas que eu não entendo.

Desde que eu tinha 8 anos sempre gostei de leitura. Sempre. Não importava onde, ou com quem eu estava, eu sempre estava lendo. E isso, é claro, vai totalmente contra o que meu pai planejou pra mim. Ele não queria um filho nerd e introvertido que a cada evento importante da sua empresa estava sentado em um canto sozinho concentrado em uma pilha de papéis com palavras insignificantes que não me levariam a nada. Eu tinha apenas 8 anos e ele queria que eu me tornasse sua cópia fiel e me interessasse com assuntos importantes da sua famosa e importante empresa. Para mim, a Parker's não era nada mais que um lugar onde pessoas engomadinhas não tinham cérebro nem tempo de se importar com outras coisas a não ser elas mesmas.

E isso, incomodava meu pai. A minha repulsa por esse estilo de vida.

E por isso eu continuava.

Eu gostava de incomodar ele.

Silêncio.

Era apenas o que se tinha dentro de seu escritório. Ele parou de falar quando percebeu que eu e ninguém ali era a mesma merda.

— Você vai comparecer em todos os treinos por bem ou por mal. Ou você vai, ou eu queimo todas aquelas porcarias que você chama de livros e te proíbo de ir a qualquer lugar durante o tempo que eu decidir. Escola, treino e casa. Nada mais. Você escolhe.

Eu nunca me considerei uma criança rebelde. Não até meu pai me obrigar a amadurecer fora do tempo normal de uma pessoa. Tive que entender coisas sobre negócios de uma empresa que no futuro seria minha, aos 5 anos, quando meu pai me levava na sua empresa e me deixava em seu escritório vendo reuniões e pessoas engomadas parecendo robôs entrando e saindo de seu escritório. Eu não entendia nada daquilo, mas estava ali. Para agradar meu pai. Como sempre. Mas nunca me agradar. E com o passar do tempo fui entendendo que nunca fazia nada que eu queria, e sim o que não afetaria a imagem dele ou o que ele planejava pro meu futuro brilhante.

A porra de um futuro.

Desde então, comecei a me mover através desse pensamento de fazer o que eu queria quando queria, e não quando me obrigavam a fazer.

— Como quiser. Eu vou nesses treinos se isso é tão importante pra você.

Mas pra fazer o que eu queria, tinha que primeiro terminar a temporada de treinos para assim, virar eu de verdade. Os livros me tiraram desse mundo patético e escroto que fui forçado a viver. Não poderia deixá-lo estragar a única coisa que me fazia ser eu mesmo, depois dos meus amigos.

— Bom garoto. Fez a escolha mais inteligente. Agora vá, amanhã você tem treino cedo e não quero atrasos ou faltas, se não já sabe. Estamos entendidos?

— Claro. — Respondo, engolindo o nó que se forma na minha garganta.

— Agora saia.

Levanto da cadeira e saio de seu escritório sem dizer mais uma palavra.

Levanto da cadeira e saio de seu escritório sem dizer mais uma palavra

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Capítulo curtinho, mas foi necessário, os próximos estarão maiores.

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