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Oito da manhã. Atrasada. Depois do noticiário de ontem, não consegui dormir durante a noite toda, o que me fez acordar mais tarde. Ótimo, se o que o senhor Hemsworth falou no banheiro fosse, eu seria a nova vice-presidente, e uma vice chegando atrasada não cairia nada bem. Saí correndo de casa, até achar um táxi que parasse para mim; meu carro ficaria no conserto por mais duas semanas, e eu teria que ir me virando até ficar pronto. 
                          
Quando cheguei até o hall do escritório, tive que andar o mais rápido que pude, para que ninguém notasse o meu atrasado, o que foi, infelizmente, impossível, já que, assim que cheguei na minha sala, Hemsworth estava à minha procura. O vi encarando a vista da janela da minha sala, de costas para a entrada. Ele não pareceu notar quando cheguei, estava distraído com seus pensamentos, tive que pigarrear mais de três vezes para que ele me notasse. Quando virou, pude ver seu semblante assustado, mas, assim que viu que era eu, relaxou. 
                          
—Mil desculpas, senhor. Acabei perdendo a hora, e ainda passei muito tempo até pegar um táxi, juro que não foi minha intenção chegar tão atrasada assim, não vai acontecer novamente, prometo. —Falei rapidamente, como uma louca tagarela, e notei um sorriso em seu rosto, parecia estar se divertindo com a minha situação. Encarei-o, esperando o que estava por vir.
                          
—Tudo bem, senhorita Ducain. Atrasos acontecem, só tome mais cuidado. —Ele disse, e sentou-se em uma cadeira em frente à minha mesa, apontando para a minha, talvez fosse rolar uma conversa entre funcionária e chefe. Ou entre CEO e vice... —Sente-se, por favor.
                          
Deixei minha bolsa em um pequeno sofá que se encontrava no canto da sala, e fui, vagarosamente, até minha cadeira. Sentei-me, um pouco nervosa, na verdade, muito nervosa, e o esperei começar. Ele me encarou por um tempo, me analisando de cima para baixo, até focar em meus olhos. Torci mentalmente não estar corada, não cairia bem, levando em consideração que ele era o meu chefe. 
                          
—Bom, senhorita Ducain...
                          
—Amelia. —O interrompi, o que atraiu mais sua atenção. —Perdão. Quis dizer que... o senhor pode me chamar de Amelia. 
                          
—Tudo bem. —Continuou, e se aproximou mais da mesa, e assim ficamos cara a cara, nos encarando. —Imagino que a senhorita soube o que aconteceu ontem, com McKlain, certo?
                          
—Sim...
                          
—E imagino que se lembre de nossa breve conversinha no banheiro feminino. 
                          
—Sim, lembro.
                          
—Bom, meses atrás, antes de Joseph anunciar sua aposentadoria, estávamos discutindo sobre quem ficaria em seu lugar. Não me preocupei, venho observando os passos da senhorita há muito tempo. —Ele se levantou, vindo até o meu encontro. 
                          
—Vem? —Àquela altura, eu já estava mais que ruborizada, e só Deus sabe a vergonha que eu estava sentindo. Ele chegou perto o suficiente para pegar minha mão e me levantar, fazendo com que ficássemos próximos. Muito próximos.
                          
—Sim, e digo que você sempre foi minha escolha favorita para o cargo de vice-presidente. —Sorri, lembrando do quanto trabalhei até chegar aqui. Ele se afastou, e se encostou em minha mesa. —Então, gostaria de anunciar que a senhorita estará ocupando o cargo ainda hoje, numa sala ao lado da minha. 
                          
—Nossa, eu... eu nem sei como agradecer, isso é tudo o que eu sempre sonhei para minha vida profissional. —Ele me observou por um tempo, ignorando o que eu estava falando, ou apenas não ouvindo, parecia perdido em devaneios enquanto me encarava. Até que voltou sua atenção à minha.
                          
—Sim, sim, sei o quanto trabalhou. —Ele chegou mais perto. —Pode não parecer, senhorita Du... Amelia, já que sempre há tantas fofocas sobre mim, mas gosto de observar meus funcionários bem de perto. 
                          
—Oh, claro, sim, com certeza. Não duvido... O senhor, sim, com certeza. —Me embolei com as palavras, e o vi dando uma risada tímida ao perceber meu nervosismo.
                          
—Tudo bem, não fique nervosa, a partir de agora somos parceiros. Seremos você e eu. —Corada. Eu estava, definitivamente, corada. Meu coração estava prestes a sair pela boca. Ele estendeu sua mão, e rapidamente estendi a minha, esperando um aperto para selar nossa parceria, mas fui surpreendida ao vê-lo depositar um beijo suave em minha mão. Sorriu, e assim foi em direção à porta. —Alguém virá até aqui para te ajudar com a mudança de sala. 
                          
Depois que ele saiu, desabei da minha cadeira, respirando fundo, esperando não surtar. Vice-presidente. Parceira. A ficha demoraria para cair. Mas não iria perder tempo, era minha chance de subir no mundo dos negócios, e eu não desperdiçaria. Suspirei, juntando todas as minhas forças para levantar, e comecei a arrumar todas as minhas pastas numas caixas que estavam na sala. Eu teria que dar adeus à mais um ciclo. Vice-presidente.
                          
Duas horas depois, quando terminei de juntar todas as tralhas de documentos, uma das assistentes de Christopher apareceu na minha sala, dizendo que foi enviada para me ajudar com a mudança, e que algumas pessoas voltariam para buscar minhas coisas depois. Agradeci, e ela me guiou até o último andar, antes proibido para o resto dos funcionários, agora permitido para mim.
                          
O andar era composto por grandes salas de vidro, aparentemente iguais, mas com duas grandes portas de madeira, uma ao lado da outra, no fim do corredor, cada uma com o nome de vice, e CEO. Haviam também mesas por todo o andar, de todas as assistentes ou secretárias dos funcionários dali. Todos pareciam trabalhar arduamente, e acabaram nem notando minha presença e a de Onória quando chegamos. Suspirei, sorrindo, enquanto andava até minha sala. A assistente de Christopher me deixou na porta da sala, e a observei voltar até sua mesa com largos passos, ela não parecia ser o tipo que gosta de conversar.
                          
—Nova sala, novo cargo. —Sussurrei para minha mesma, abrindo a porta da sala, e entrando vagarosamente. 
                          
Não acreditei no que vi. Era enorme, com grandes móveis de madeira, provavelmente desenhados por famosos arquitetos. Havia uma grande janela que ia de uma ponta da sala à outra, revelando uma vista impressionante, dava para ver toda a cidade dali. Minha mesa era tão grande que caberia as papeladas de todos os andares daquele prédio. Uma mesinha de centro ficava entre dois sofás, e lá haviam algumas frutas e algo que parecia chá. Luminárias por todos os cantos, além de um grande lustre de cristal no meio da sala. Era perfeito, e muito mais bonito do que eu havia imaginado. Pulei, levando minhas mãos à boca, tentando conter o grito de felicidade que tentava escapar por minha garganta. 
                          
—Com licença...? —Assustei-me, e rapidamente virei para à porta, vendo uma mulher com um semblante divertido me observar agir que nem uma louca no meio da sala. Ela sorriu, fechando a porta e vindo até meu encontro. —Desculpa por não ter batido, achei que a senhorita ainda não havia chegado na sala. 
                          
—Oh, tudo bem! Perdão pelo meu estado, ainda não estou acreditando na minha situação. —Ela riu, estendendo a mão.
                          
—Sou Liz, sua nova secretária. E você é a senhorita Ducain, certo? A nossa nova vice.
                          
—Amelia. —Apertei sua mão, tentando conter meu estado. —Porra, uma secretária. —Sussurrei. 
                          
—O que disse? —Ela parecia confusa.
                          
—O que? Nada, só estou falando comigo mesma. 
                          
—Tudo bem. —Ela sorriu, parecia bastante simpática, e então me entregou uma caixa meio rosa com um pequeno laço em cima. —Algumas garotas do seu antigo andar me disseram que você é vegana, certo? 
                          
—Sim, sim.
                          
—Esse é o meu presente de boas vindas, a melhor torta vegana da região. —E então ela saiu, deixando-me sozinha na minha nova sala. 
Belisquei meu braço algumas vezes, para ter certeza de que aquilo não era um sonho. E não era. 
                          
Eu era a nova vice-presidente da Hemsworth Company.