Capítulo 21: "Estava a admirar-te"

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Sabia, desde o começo, que todas as relações atravessavam fases muito positivas e outras mais, digamos, rotineiras e ainda outras em, que tudo parecia não querer correr bem, mas nunca esperei que fosse possível mudar tão rapidamente. Paris tinha sido dos melhores dias que tinha vivido ao lado de João em toda a minha vida, mas Lisboa era a mais difícil até agora. Não era bem a capital, até porque eu estava em Castanheira e ele andava a fazer a pré-época com a equipa principal do Benfica, mas aquilo que vivíamos não era fácil para nenhum de nós.

Falávamos constantemente e tentávamos que as saudades não nos afetassem, mas ambos sabíamos que as saudades apertavam demasiado no nosso coração. Ambos estávamos diferentes e nenhum de nós tinha coragem de falar sobre isso. Tudo na minha cabeça parecia fazer sentido. João não queria falar-me da possibilidade de ir jogar para fora, porque, provavelmente queria que começasse a trabalhar e começasse o mestrado no final do Verão, e para isso não poderia acompanhá-lo e nenhum de nós acreditava em relações à distância. Mas eu, estava disposta a abdicar de tudo para ir com ele. Enquanto a minha carreira é longa e posso fazê-la toda a minha vida, sei que a do João é mais temporária e por isso, apenas adiava o meu sonho de ser assistente social por alguns anos.

Mais uma vez, estava a fazer Skype com ele, fazíamo-lo sempre que podíamos para nos aproximarmos mais um pouco, mas o silêncio reinava, mas eu não deixava de admirá-lo.

-Em que estás a pensar, amor?

-Estava a admirar-te.

-Mais uma vez?

-Nunca me canso de fazê-lo. – Sorri para ele e ele sorriu-me de volta.

-Quem nos vê pensa que sou um sortudo.

-Então porquê?

-Tu és a mulher mais bonita que eu já vi. – Corei. – Além de bonita fisicamente, és ainda mais linda no teu coração e isso faz-me sentir o homem mais sortudo do mundo. Eu sou simplesmente eu, o homem a quem saiu a sorte grande!

-Amo-te João António! – Disse, sem pensar muito, foi o que me apetecera dizer e simplesmente fi-lo.

-Que tamanha foleirice! – Ouvira Diogo gritar do outro lado e João virou a câmara para ele. – Isto é tudo muito bonito mas eu que não tenho culpa nenhuma é que levo com tanto romance junto!

-Isso é tudo falta de romance na tua vida, Diogo António?

-Quem diria que ele é o cúpido. – Atirou João brincando com o facto de um dos apelidos de Diogo ser este.

-Digam lá que a vossa atividade preferida é chamar-me pelos meus nomes menos bonitos!

-Não percebo qual é o teu problema com o nome António! – Refilou Diogo. – Afinal eu também o sou.

-Que dupla romântica tão gira, os irmãos António!

-Vou mas é deixar-vos que tenho que fazer!

-Estás proibido de bater uma na casa de banho!

-Cuidado que tens a tua namorada a ouvir-nos! Esqueci-me, vocês são santos!

-Muito santos, olha para as nossas carinhas! – Sorri. – Vai lá tomar banho para o João não ficar enjoado do que vais fazer.

-Não sei por quem me tomam.

-Por quem tu és. – Respondi eu e João em coro. Diogo saiu para a casa de banho e voltamos a ficar apenas os dois.

-Não te importas que vá dormir? Estou tão cansado, bebé.

-Vai descansar então amor, mas olha diz ao Rui Vitória que ou te põe a jogar ou manda-te embora, tem a pré-época é para conhecer os jogadores e não para jogarem sempre os mesmos. – Atirei na esperança que ele mordesse o isco e me dissesse algo mais sobre o seu empréstimo ou uma possível saída.

-Eu digo-lhe Chica, descansa. – Sorriu-me. – Eu amo-te meu amor.

-E eu a ti, bebé. – Respondi e ambos desligamos a chamada, não entendia porque é que ele dizia amar-me quando me escondia um segredo tão grande, será que o peso na consciência não o afetava?

ÂncoraWhere stories live. Discover now