Espíritos

681 142 233
                                    

Ela estendeu mais uma vez a mão. Fiz como pedira e coloquei minha mão direita sobre a dela. Ela a segurou e permaneceu calada durante alguns segundos.

— Mãos delicadas e ao mesmo tempo firmes — disse, rompendo o silêncio enquanto avaliava minha mão como se fosse uma pedra preciosa. — Pele fina e branca — continuou agora acariciando meus braços com as costas das mãos.

De forma um pouco inesperada ela puxou-me para perto e passou a mão  pelos meus cabelos.

— Cabelos sedosos, com fios finos e bem lisos. Tonalodade cinza, quase branco. Bem atípico por essas regiões — falou fazendo expressão de curiosidade carregando levemente o cenho.

Passou a mão em meu rosto tocando delicadamente minha boca, orelhas, nariz.

— Face suave, traços milimetricamente ajustados — continuou com sua avaliação.

Senti minha pele queimar um pouco de vergonha. Eu nem conhecia aquela mulher. 

Com exceção de minha mãe, ninguém jamais me tocara daquele jeito.

Então, ela chegou ainda mais perto ficando com a face bem próxima à minha. Olhou-me nos olhos carregando um pouco as suas pálpebras até suas pupilas se contraírem tornando-se minúsculas.  

Olhos vermelhos! — Afastou-se um pouco para trás demonstrando-se confusa.

Ela fechou os olhos e permaneceu calada. Começou a contorcer os lábios e fazer um grunhido baixo parecendo meditar sobre algo. Abriu os olhos bem arregalados...

— Perfeito! — exclamou depois de alguns minutos dando me um susto. — Magnífico! — prosseguiu.

— O que é magnífico? — questionei.

— Eu não consigo. — Ela respondeu balançando a cabeça e erguendo os ombros. — Não consigo ler sua sorte — concluiu demonstrando desapontamento na voz.

— Você não é estrangeiro, é?

A pergunta pegou-me de surpresa. 

Quando comecei a abrir a boca para responder ela me interrompeu:

— Espere, deixe-me adivinhar. Deixe-me ver, deixe-me ver... Essa pele, esses traços são bem típicos, mas esse cabelo e... — hesitou novamente — esses olhos? Certamente não combinam. Eu nunca vi nada parecido. É como se você estivesse dividido em dois.

Ela fechou os olhos novamente. 

Com uma das mãos segurava minha mão direita e com a outra alisava meu rosto ainda parecendo me avaliar.

— Sim! — exclamou com convicção.

— Sim o que? — indaguei prontamente.

— Só pode ser.

Ela deu uma pequena afastada, levou uma das mãos ao queixo e o alisou vagarosamente com uma das sobrancelhas arqueadas.

— Areano! — exclamou, abrindo os olhos.

— Uma grande besteira — interrompeu Leo dando uma bufada e puxando-me para trás com força fazendo com que minha mão se desvencilhasse da mulher.

Eu levei um susto, tão envolvido que estava. 

Então olhei para o Leo tentando entender o porquê ele reagira daquele jeito. Sua face estava carregada. Ele parecia assustado. Quer dizer, não assustado, assustado não. Nervoso. Preocupado!

— Vamos ou perderemos o festival! — Ele insistiu tentando disfarçar a intromissão.

— Não! — rebati. — Quero continuar.

O Descendente de Anur - Usuário do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora