CAPÍTULO 1

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As estrelas celebravam naquela noite nas galáxias. A mais nova delas, Ursa, celebrava seus primeiros milênios de vida, uma festa era organizada e todos os cosmos tomavam sua forma humanizada ali, Ursa, uma garota de cabelos negros e pele pálida, sentava constrangida enquanto seus parentes festejavam e bebiam algum plasma intergalático, que para ela nunca teve nenhum gosto bom.

Seus olhos só tinham interesse para um planeta, bem longe de si, a Terra. Tão verde e azulada, colorida. Sabia que era uma constelação daquele lugar, mas nunca sequer poderia sonhar em chegar perto dali. "Uma estrela morreria se tocasse na Terra!" "Os meteoros foram e nunca mais voltaram!" "Você é muito nova para sonhar coisas desse tipo".

- Olá filha! - Disse Sirius, dando um beijo na testa da garota, que ainda não havia pronunciado uma palavra o dia inteiro. Sirius era um senhor de cabelos esbranquiçados e uma longa barba, porém bem feita, ele trajava um manto preto brilhante que cobria seu corpo por inteiro, em sua mão esquerda, ele passava a mão pelo copo prateado com a bebida dourada em seu interior. Ele sentou-se ao lado da menina, que observava o calmo movimento das nuvens naquele planeta, e infelizmente, ele percebeu. - Filha, pare de ficar sonhando! Sabe que em breve terá que se unir à uma constelação, e já tenho um pretendente perfeito...

- Pai, eu não quero me casar! - Sirius, assustado com a reação da menina, engoliu em seco. - Meu sonho é sair, explorar o mundo! Você acha que ainda sou uma garotinha, mas eu cresci, pai! Eu não preciso de um homem cuidando de mim a vida inteira...

- Cale-se! - O rapaz falou, atraindo a atenção de todas as estrelas ali presentes. Sirius, constrangido, tomou o braço da garota e a levou para um outro setor da galáxia, para conversarem em paz. - Você não faz as decisões aqui, desde que sua mãe morreu, você ficou desse jeito! O sonho dela era que você se casasse! Seu noivo é o Cão Maior.

- Pai...Cão maior? - A estrela observou o rapaz de cabelos azulados, que no mesmo momento, flertava com alguma pobre estrela mais jovem. - Pai...O sonho da minha mãe era que eu fosse feliz! Além disso, Cão Maior é um babaca, olha o que ele está fazendo!

- Nada que um garoto da idade dele e que ainda não está comprometido não faria. - Sirius, que quis terminar logo a conversa, bebeu mais um gole de seu plasma. - E não quero mais ouvir reclamações, após o término da festa, vamos planejar o casamento de ambos.

Logo, o pai da garota se afastou lentamente, enquanto Ursa, desolada, chorava. Suas lágrimas caíam no céu da Terra, que se enchia de nuvens, essas que pouco a pouco, formavam a chuva que dava vida àquele lugar, e com isso, uma pequena estrela-do-mar, Asteroidea, despertou.

Uma coroa de conchas jazia em sua cabeça, ela retirava o cobertor de areia que havia sobre seu corpo, espreguiçou-se e após isso se levantou. O mar aquela hora estava tranquilo, exceto pela chuva que caía e enchia o volume de água. Os pais da garota ainda dormiam, então ela resolveu se arriscar um pouco naquela manhã.

Ela se esgueirou pelos corais, seus dedos eram ágeis e seus pés velozes, pouco a pouco ela podia sentir que a água ficava para trás e então ela poderia seguir para as areias terrestres. Foi então que ela saiu do mar e sentiu o oxigênio em seus pulmões, as marcas em seu corpo brilhavam e seus cabelos morenos pingavam no chão.

Ela espremeu o restante da água salgada que ainda insistia em ficar em seu corpo, sentiu o sol em sua pele bronzeada, seus pés dançavam naquele lugar imenso e inexplorado, podia ver os animais, as plantas terrestres, todas as coisas vivas que ela ainda não conhecia, mas principalmente podia ver o céu estrelado daquela noite, a chuva parava aos poucos, assim clareando a visão daquela estrela-do-mar sonhadora. Uma constelação brilhava mais que as outras aquela noite, Ursa Maior estava esplêndida e bela. Ela quase podia sentir que ambas iriam tocar-se em breve, mas quando sua mente começou a vagar, a magia do momento fora quebrada pelo líquido penetrava em sua pele.

Um suspiro a levou de volta para a água, quando sentiu a mesma tocar seus pés e a arrastar para o fundo do mar novamente, onde seus pais a esperavam tristes e preocupados. O pai da menina, um homem de cabelos negros e pele morena, tinha lágrimas em seu rosto corado e rechonchudo, enquanto consolava a mãe da mesma, com seus cabelos castanhos que se estendiam pelos ombros do marido. Os corais e peixes ao redor observavam a cena, que deixava Asteroidea constrangida, quase podia sentir o rosto queimando enquanto todos olhavam e cochichavam ao seu redor.

- Aster...Já pedimos para você não fazer mais isso! - O pai da pequena estrela reclamou, enquanto a mãe chorava. - Sabe o quanto eu e sua mãe ficamos preocupados.

- Pai, nem fui tão longe, só senti a areia e quis olhar o céu, sabe como aqui ele fica trêmulo e não consigo olhar as constelações direito.

- Mas filha, vá com seu primo, ele é responsável e é homem, pode cuidar de você. - A mãe falou, acariciando o rosto da morena.

- Desculpe, mas não sabia que o critério de "ser homem" tem haver com responsabilidade e segurança. Eu sei me virar mãe, e você sabe disso.

- Só não vá sozinha...Por favor. - O pai implorou, sabendo que em breve ela fugiria mais uma vez de casa. Com os olhos revirando, ela assentiu, enquanto olhava para a constelação que penetrava no mar aquela noite, seu sonho era encontrar Ursa Maior.

Pouco sabiam que em breve, esse encontro seria mais conturbado e perigoso do que imaginavam. Ursa sonhava em sentir a Terra e explorar o mundo, enquanto Aster queria ver seu planeta e conhecer tudo, sob o olhar vigilante de sua constelação favorita, Ursa Maior. 

Ambas naquela noite pretendiam fugir de casa, sabiam que não podiam levar uma vida assim, mas essa fuga ainda iria se estender por semanas, por falta de coragem e pelo medo do desconhecido. 

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⏰ Last updated: Jun 14, 2017 ⏰

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Ursa MajorWhere stories live. Discover now