XIV

                                    

                                          
Ainda assustada, Doniya entrou em casa. Despediu-se de Alex da porta e entrou, pensando no que o pai estaria fazendo. 
                          
Estranhamente, a casa estava toda às escuras. Ela entrou na ponta dos pés e foi espiar o quarto dos pais. Nenhum dos dois estava dormindo, embora fingissem estar. 
                          
Com cuidado, Doniya encostou a porta e dirigiu-se a seu quarto. Despiu-se e foi tomar um banho. Quando voltou, a mãe estava sentada em sua cama, olhos inchados de tanto chorar. 
                          
- Como está seu irmão? - Foi logo perguntando, aflita.
                          
- Como a senhora queria que ele estivesse, depois daquela surra?
                          
- O que o médico disse? Ele vai ficar bom?
                          
- Vai. O doutor disse que não é nada grave. Mas Zayn vai passar duas noites no hospital.
                          
Trisha juntou as mãos sobre a boca e cerrou os olhos, e Doniya sabia que ela estava rezando.
                          
- E papai? - Indagou, assim que a mãe abriu os olhos.
                          
- Está dormindo, eu acho.
                          
- Por que não impediu, mãe? Por que deixou que papai fizesse aquilo com Zayn?
                          
- O que eu poderia fazer? Seu pai me proibiu...
                          
- E a senhora obedece, não é? A tudo que papai fala, a senhora diz amém. É sempre assim. Será que, ao menos uma vez na vida, não podia ter reagido? 
                          
- Não me acuse, Doniya. Estou sofrendo muito.
                          
- Não tanto quanto Zayn. Imagine só o que ele deve estar passando naquele hospital.
                          
- A culpa não é minha. Seu pai é o chefe da família.
                          
- Ah! E por isso ele pode fazer o que quiser, não é? Até nos matar, se for de sua vontade.
                          
- Não diga isso. Seu pai é um homem bom. 
                          
- Nota-se.
                          
- Ele ficou transtornado. Zayn tirou-o do sério.
                          
- Por quê? O que foi que ele fez de tão terrível para provocar essa fúria de papai?
                          
- Ele não lhe contou?
                          
- Ele não estava em condições de me contar nada. 
                          
Trisha soltou doloroso suspiro e ciciou:
                          
- Seu pai não vai gostar...
                          
- Será que a senhora não pode esquecer papai um momento? Estamos falando de seu filho!
                          
- Yasser não quer que eu conte nada.bPrincipalmente a você.
                          
- Mamãe! Deixe de ser medrosa e submissa. O que papai vai fazer contra a senhora? Bater-lhe também?
                          
- Deus me livre, que seu pai não é homem disso! 
                          
- Ele só bate nos filhos, não é mesmo?
                          
- Você está sendo injusta, Doniya. Seu pai nunca bateu em vocês. 
                          
- O que foi que ele fez com Zayn, então? 
                          
- Com Zayn foi diferente. 
                          
- Por quê?
                          
- Porque ele... bem... ele provocou...
                          
- Como? O que foi que ele fez? 
                          
- Ele... ele...
                          
- Ele o quê, mamãe? Pelo amor de Deus, fale logo de uma vez!
                          
Trisha não conseguiu mais segurar aquilo. Começou a chorar e contou tudinho a Doniya, do mesmo jeito que Yasser lhe havia contado. Doniya sentiu imensa angústia. Não que se surpreendesse. No fundo, já esperava por aquilo. Surpreendia-se com o preconceito e a incompreensão do pai. Mais ainda, com a passividade da mãe.