50 𝓶𝓪́𝓺𝓾𝓲𝓷𝓪 𝓲𝓶𝓹𝓲𝓮𝓭𝓸𝓼𝓪

                                    

                                          
Tyler                                          16:00 PM    
Sai do quarto depois de algumas horas, precisando de um lugar mais calmo para organizar meus próprios pensamentos. Meus pés me levam meio que no automático até o escritório do meu avô, um lugar que eu nunca entrei. A madeira escura, o cheiro de couro velho e varios quadros referente a vários símbolos estranhos nas paredes parecem congeladas no tempo. Nem cheguei a conhecê-lo, mas posso sentir como se sua presença estivesse aqui
Sentei-me na poltrona de couro ao lado da mesa enorme e deixo minha mente vagar. É estranho pensar que toda a fortuna, toda essa mansão tenha sido deixada para mim. A tia Olívia me disse que sou herdeiro de tudo, tudo que meu avô deixou, mas não porque ele não tem outros filhos, e sim porque eu sou o seu neto preferido. O mais peculiar de toda  essa história é que esse velho nem chegou a me conhecer
Pelo que soube, ele era um homem de poucas palavras, mas de presença marcante, alguém que sempre parece saber mais do que é revelado. O que mais mexeu comigo foi saber que ele era o que mandou matar minha família, apenas porque o meu pai escondeu dele um casamento e dois filhos. A vida inteira eu achei que o meu pai estava devendo grana aqueles homens, mas na verdade, era apenas um inocente. Meu avô, o homem que eu não faço questão nem de saber o nome, se ainda estivesse vivo, eu vingaria meus pais
E então, veio Liam. Ele foi meu professor, tanto de escola nos anos que eu perdi, quando no mundo de killers. Liam tirou eu e Mia daquela casa infernal e ainda me fez desviver os homens que nos faziam sofrer agressões. Mas, com o tempo, comecei a perceber que ele também faz parte dessa história, afinal ninguém se importa com as outras pessoas, muito menos ajudá-las. Só não consigo entender. Quem ele realmente é? Porque toda aquela dedicação em me salvar, me transformar em uma máquina impiedosa? O que ele sabe? 
Enquanto as perguntas ecoam em minha mente, senti meus olhos arderem. Uma lágrima solitária escorre pelo meu nariz, e eu a limpo rapidamente. Não quero me render à fraqueza. Jamais
Foi quando ouvi passos leves e um toque na porta. É a Mabel. Ela entra no escritório com uma expressão hesitante, os braços cruzados sobre a barriga enorme
___Oi, eu queria me desculpar por hoje mais cedo -ela começa, sua voz suave como de costume- A gravidez me deixa.... mais emocional, mais stressada. Eu não devia ter descontado em você
___Tá tudo bem, maninha -olhei pra ela e forcei um sorriso- Eu devo ter merecido algumas daquelas palavras de certa forma
___Não, você não merecia -ela se aproximou, sentando-se na cadeira a minha frente- Sei que não é fácil pra você, Tyler. Você carrega muita coisa sozinho, mas... eu não devia ter aumentado isso
___Deixa pra lá -respondo, querendo mudar o foco da conversa- E como está a bebê? 
___O médico disse que ela está bem -vejo um brilho em seu sorriso amarelo- E que ela pode nascer por esses dias
___Tá, mas você já pensou em um nome? 
___Thiago e eu ainda estamos discutindo isso -Mabel ri- Ele tem ideias horríveis, mas eu dou a palavra final
___Claro que tem -solto um pequeno riso nasalado
Mabelly fica alí, sentada, com aquele olhar curioso, quase infantil, que ela costumava a dar quando éramos crianças. Depois te tudo que já enfrentamos, é estranho pensar que ainda somos irmãos, que temos uma conexão, mesmo que frágil
___Então, Tyler -Mabel começa, inclinando seu, olhar curioso para mim- Qual a sua série favorita agora? Mudou ou ainda continua sendo supernatural? 
___Isso é realmente importante? -questionei balançando a cabeça
___Claro que importa! Você é meu irmão e eu não deveria saber pouco sobre a sua vida! Além disso, cadê o colar que eu te dei hein? 
Desviei o olhar, desconfortável. Eu não poderia contar pra ela que o meu colar está dentro de um caixão com um corpo que já nem deve existir mais. A Mel pegou ele na segunda vez que fizemos amor, algo que foi muito ruim, mas ela conseguiu animar aquele dia
___Eu ainda gosto de surpenatural. E sobre o colar, acho que ficou na nossa antiga casa... 
___Hmm, mas enquanto aos hobbis. Você ainda canta e toca violão? Eu ainda me lembro de quando você tentava compor. Você era bom, sabe? 
___Faz anos que não faço isso, Mabel. Meu hobby hoje é academia e... você sabe -suspirei, um vazio crescendo em meu peito- E o violão que a minha mãe me deu, deve estar lá em casa... 
___Não. Eu fui lá na nossa antiga casa e trouxe o violão, está lá no seu quarto, dentro do closet, em uma caixa velha
___Tudo bem então -sorri
Mabelly fica quieta antes de iniciar outro assunto
___Tá saindo com alguém? Talvez com a Helena? 
___Mabel... Por que você não me conta o quê aconteceu quando você foi... sequestrada? 
___Tyler, eu nunca fui sequestrada. Nunca estive em perigo. Eles nos afastaram porque o vovô queria assim. Ele me colocou em um internato em outro país e disse que era para o meu bem. Nunca entendi o porquê. Sempre achei que você sabia de alguma coisa, mas... pelo jeito, está tão perdido quanto eu
Aquilo me atinge como um tiro no estômago. Toda a raiva, toda a culpa que eu carreguei por anos... foi por uma decisão egoísta do velho. Apertei os punhos, tentando controlar a onda de emoções que me invade. 
___Eii, mudando o assunto. Eu pensei em um nome para o bebê. Quero chamá-la de Riley 
___Riley? -repeti, testando a sonoridade- É bonito. O Thiago concordou com isso? 
___Claro que não -ela revirou os olhos- Ele prefere Liz. É mais simples, segundo ele
___Hum... -fiz uma pausa, pensando- Sinceramente, acho Maeve mais elegante. Mas Liz não é ruim. Talvez dê pra juntar os dois de alguma forma.
Mabel abriu a boca para responder, mas no exato momento, sua expressão mudou completamente. Seus olhos se arregalaram e ela levou as mãos à barriga.
____Tyler... acho que a minha bolsa estourou
___O quê? Agora?! -eu congelei por um segundo antes de me levantar rapidamente. 
___Sim, agora! A bebê tá vindo! -ela assentiu, tentando respirar fundo, mas o pânico é evidente
___Ok, ok, calma! -eu comecei a andar de um lado para o outro, tentando pensar no que fazer- Vou chamar o Thiago! Onde tá o Thiago?
___Ele saiu com o Henry!
___Claro que saiu... -murmurei, enquanto Mabel se inclinava na cadeira, claramente desconfortável, e eu percebi que a situação está ficando  mais grave a cada segundo
𝐶𝑜𝑛𝑡𝑖𝑛𝑢𝑎....