Capítulo 59

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Elowen


O cheiro de álcool pesado misturado com couro e tabaco pairava no ar da sala. Damon havia se acomodado na cadeira como se fosse o rei de algum território decadente, a luz fraca das lâmpadas antigas destacando as sombras do rosto dele. Ele parecia relaxado, mas os olhos... aqueles olhos ardiam como brasas fixos em mim, como se ele pudesse me despir com um olhar.

Eu tinha plena consciência do jogo que estava prestes a começar. O tabuleiro de xadrez estava disposto entre nós, as peças cuidadosamente alinhadas como soldados em guerra. Ao lado, as garrafas brilhavam sob a luz, formando um arsenal líquido – uísque, vodca, gim, e o vinho que eu sabia que ele havia comprado só porque eu gostava.

Era típico dele: teatral, imprevisível, e totalmente insano. Que ele era louco, eu já sabia. Mas suicida? Essa era nova.

— Quantas vezes você já trepou com um desconhecido desde que se recuperou? — Ele perguntou, movendo uma peça com um estalo baixo.

Meus olhos se estreitaram, e um sorriso lento e venenoso dançou nos meus lábios.

As regras haviam sido claras:
1. O tabuleiro decide o destino.
2. Cada peça derrotada significa uma pergunta sem direito a mentira.
3. Se duas peças forem derrotadas consecutivamente, há uma pergunta, uma bebida e uma peça de roupa a menos.
4. Quem derrotar a rainha ganha o direito de usar a arma no perdedor.
5. Quem entrar em cheque pode fazer um pedido... qualquer pedido.

Eu movi minha torre, sentindo o peso das regras nas minhas mãos. Era ridículo, mas algo em mim – algo cruel e perigoso – estava adorando isso.

— Não sei contar. — Respondi casualmente, pegando minha taça e girando o vinho, deixando o líquido escuro tingir o vidro antes de levá-lo aos lábios. O gosto era ácido e forte, assim como eu gostava. — Estou recuperada há três meses. Não transava tanto em Seattle. Não era estressante lá. Aqui é. Então...

Damon arqueou uma sobrancelha, o maxilar tenso. Ele me estudava como um predador tentando decifrar a presa.

— Estimativa. — Ele rosnou, os dentes cerrados.

Era quase cômico. Ele estava realmente irritado com isso? Senti meu peito aquecer, um misto de prazer sádico e provocação.

— Sete. — Disse, olhando para o tabuleiro como se a conversa fosse irrelevante.

Mas então, só por diversão, ergui o olhar, deixando um brilho zombeteiro passar pelos meus olhos. Ele parecia mais aliviado por um segundo, e foi aí que decidi que queria mais.

— Mais dez. — Completei, mal contendo o sorriso que ameaçava escapar.

A explosão foi instantânea. Damon jogou a cabeça para trás e riu, mas o som era áspero, quase selvagem. Ele se inclinou sobre a mesa, os olhos brilhando de fúria e algo mais, algo que fazia minha pele formigar.

— Ok! Ok! Você está fodida. — Ele disse, movendo outra peça com força desnecessária.

Eu me recostei na cadeira, cruzando as pernas lentamente, deixando o tecido do vestido vermelho deslizar só o suficiente para provocar. Era como brincar com fogo, e eu estava adorando.

— Está bravo, Damon? — Perguntei, minha voz um sussurro doce e ácido ao mesmo tempo.

A tensão pairava no ar, densa e palpável, como se o próprio tabuleiro de xadrez estivesse conspirando contra mim. Damon mantinha aquela expressão calma e letal, mas eu via os pequenos sinais de desconforto – o tique na mandíbula, o leve tremor nos dedos quando ele ajustava as peças. Ele queria parecer no controle, mas eu sabia que estava conseguindo mexer com ele. Isso me dava um prazer venenoso. 

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