Capítulo 40

233 36 7
                                    

Elowen

Meus dedos deslizam lentamente pelas curvas do violino, reconhecendo sua textura lisa e polida, familiar como uma lembrança distante. Os contornos perfeitos trazem uma pontada de nostalgia, mas também algo mais sombrio. Eu nunca toquei violino na presença dele. Desde que perdi a voz e voltei para Thunder Bay, nunca mais toquei nada. Como Damon sabe sobre o violino?

Provavelmente pelo mesmo motivo que ele sabe de tudo. Ele entrava e saía da minha casa como se fosse dono dela, espiando minha vida, arrancando pedaços dela até restar apenas o que lhe interessava. Eu tocava violino para lembrar da minha mãe. Ela amava arte clássica. Tocava piano de um jeito tão belo que parecia um crime ser apenas um hobby. Eu tocava para acompanhá-la, para sentir que ainda tínhamos algo que ninguém podia tirar de nós.

Agora nem tenho mais tempo para sentir saudade dela.

— Ouvi dizer que você se aproximou do Will enquanto eu estava fora. — A voz de Damon corta o ar como uma lâmina fria, próxima demais. Eu me encolho por dentro, mas não me permito reagir. Tenho que me acostumar a sentir sua presença antes de vê-lo, a antecipar seus movimentos. — Falou com ele?

Seus passos são suaves, mas sua presença é esmagadora. Ele sempre faz isso — aparece sem aviso, invadindo meu espaço.

— Eu vi, Elowen. — Sua voz fica mais dura. — Você esteve praticando, fazendo fisioterapia com ele. Vai me dizer ou vou ter que colocá-lo contra a parede?

Meus dedos se apertam ao redor do violino, como se sua madeira pudesse me ancorar. A raiva sobe em minha garganta como bile amarga. Eu o ignoro, concentrando-me em reconstruir mentalmente a imagem do instrumento. Qualquer coisa para abafar aquela voz áspera que me irrita mais do que me assusta agora. Ele não pode perceber isso.

— Você não tem medo do que posso descobrir? — Sua mão firme agarra meu queixo, levantando minha cabeça. Tudo o que vejo é uma sombra escura, impenetrável, uma parede de escuridão onde seu rosto deveria estar. Nada além disso. Antes, isso me paralisava. Agora, apenas me enfurece.

— Eu sei que você não gosta nem um pouco dele. — Sua respiração quente bate contra meu rosto. — Então, por que o convidou para ir à sacada? Sabia que eu não podia ver de lá.

Meus lábios permanecem fechados, mas minhas mãos sinalizam lentamente:

—  Eu gosto da sacada... E você nunca me deixa ir lá.

Ele solta meu queixo com um suspiro impaciente.

— É perigoso. — Seu tom é frio, decidido. — Você é suicida, e uma queda dali pode te matar. Prefiro que fique dentro do quarto.

Antes que eu possa processar sua justificativa distorcida, ele se deita em meu colo, sua cabeça pesada descansando sobre minhas pernas. O calor de seu corpo atravessa o tecido fino de minhas roupas, trazendo uma sensação perturbadora de vulnerabilidade.

Ele suspira novamente, mais suave desta vez, como se o peso de sua obsessão tivesse se transformado em algo mais controlado, mais calculado. Eu fico imóvel, meus dedos ainda firmes no violino, tentando manter qualquer resquício de controle. Mas Damon sempre foi uma tempestade silenciosa: imprevisível, sufocante.

Algo está diferente. Antes de desaparecer, ele estava impaciente, tenso, como se o mundo estivesse desmoronando ao seu redor. Agora, há uma calma perturbadora nele, como se tivesse resolvido suas pendências e estivesse pronto para me engolir novamente.

DEADLINE Onde histórias criam vida. Descubra agora