Russo. 🇷🇺
Cinco meses. Cinco meses nessa merda e parece que tô aqui há cinco anos. Eu não sei se vou aguentar o que ainda tá por vir.
Essa porra é um inferno. Dia após dia, eu acordo pensando se vou sair vivo ou se alguém vai me apagar antes disso.
Aqui não tem lei. É matar ou morrer. Já me ameaçaram de morte umas três vezes só essa semana. E não é que eu não tenha minha moral, que eu tenho. Mas moral aqui não é garantia de porra nenhuma. Se os caras decidem que é você que tem que ir, irmão, já era. E se tiver que ser eu ou eles, que seja eles.
Eu sou espancado, humilhado. Não importa se eu tinha nome lá fora, aqui ninguém liga pra quem eu era. Todo dia é um teste. Um teste de força, de paciência, de ódio.
E a saudade da Loira e dos meus filhos? Essa é a pior parte. Dói mais do que os socos, os chutes, as porradas. Não saber como eles estão, não poder estar lá pra proteger, pra cuidar. Isso me destrói.
Eu fico pensando será que ela já arrumou alguém lá fora? Será que ela vai me esperar, ela deu o papo que não colocava o pé aqui. Fico malzao com isso, queria ver ela, ta ligado? Mas não penso só em mim, aqui é muita humilhação.
São cinco anos aqui. Cinco anos. E aí eu fiz a conta: cinco anos são 1.825 dias. 1.825 dias. Parece uma eternidade. Mas não é eterna. Vai passar. Uma hora passa, e eu vou sair daqui. Não vou fugir, não vou tentar dar um perdido. Pra quê? Pra ser caçado e acabar caindo de novo?
Não. Vou pagar minha dívida e, quando sair, vou embora. Pra longe de tudo isso.Hoje é dia de visita. É o único momento em que consigo lembrar um pouco de quem eu era lá fora. A Everton veio me ver. Ele é um dos poucos que ainda aparece. Quando ele chegou no pátio, deu aquele tapinha de irmão nas costas e sentou do meu lado.
— Tá foda lá fora, mano — ele começou.
- Mas vai dar certo. A gente tá segurando as pontas.Eu olhei pra ele, tentando disfarçar a fraqueza que tava me consumindo.
— E a Loira? — perguntei, tentando parecer despreocupado.
Everton me olhou e deu um sorriso.
- Tá bem. Tô mandando dinheiro pra ela, falo com ela todo dia. Ela me manda vídeo das crianças. A menina tá linda, Russo. João Arthur também, tá enorme.
Minha garganta apertou. Eu fiquei quieto por uns segundos, tentando engolir o nó.
- Ela tá feliz? — perguntei, baixo, quase num sussurro.
Ele deu de ombros, mas com um olhar que me dizia mais do que as palavras.
— Tá. Parece que a Bahia fez bem pra ela.
Mas, mano, é nítido que ela tá te esperando. Ela só tá vivendo a vida dela do jeito que dá, tá ligada? Ela disse que o futuro de vocês só depende de quando você sair. Então, na moral, anda na linha, irmão. Não vacila com a Loira, não.Eu sorri, meio amargo, meio aliviado.
- Porra, Everton, 5 anos sem foder, irmão... - soltei, tentando aliviar o clima.
Ele revirou os olhos e deu um tapa na minha cabeça.
- Para de pensar merda, caralho. Toma jeito.
Eu ri. Rir foi bom, me tirou um pouco da escuridão que eu tava mergulhado.
Ficamos trocando ideia por mais um tempo, mas, como tudo aqui, a visita também tem hora pra acabar.Quando o sinal tocou e os guardas começaram a empurrar a galera pra dentro, meu peito apertou de novo. Essa é a pior parte. Ver as pessoas indo embora enquanto eu fico aqui, preso nos meus próprios pensamentos, preso na porra da minha cabeça.
De volta à cela, o silêncio grita. E eu encaro a parede, o teto, as grades. Penso neles. Na Loira. Nos meus filhos. Penso no tempo. Cinco anos... 1.825 dias.
Parece infinito, mas uma hora acaba. Tem que acabar. Eu só quero sair daqui vivo.Eu sei que vai demorar, mas eu tô contando os dias para ir buscar a loira e tentar arrumar nossa história. Mas enquanto eu estiver aqui, vou deixar ela viver e ser feliz, não quero que ela se prenda a mim.
Prioridade é a felicidade dela, dos meus filhos, mesmo de longe, quero só ver eles bem.
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Lance Eterno [M]
FanfictionQue o amor entre nós não seja eterno, mas que cada momento vivido com você seja infinito.