CAPÍTULO 32

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Elowen

  

— Elowen... — A voz de Damon quebra a escuridão. Já faz semanas que ele diz meu nome, com aquele tom de voz, sempre o mesmo, sempre como se estivesse falando com um cadáver. Eu sou esse cadáver, não é? Estou enterrada aqui, nesta prisão de carne que não responde, que não anda, que não fala. O que ele não sabe é que, no fundo, é exatamente o que eu quero. Mais do que tudo. Eu só queria estar morta de verdade. Não aguento mais. 

Hoje, ele disse de novo. 

— Vamos sair. 

Eu nem reagi de imediato. Estava cansada demais. O cheiro de sua colônia invadiu o ar enquanto ele se aproximava, e seu toque nas minhas mãos geladas foi o suficiente para eu abrir os olhos, mesmo que a escuridão fosse minha única visão. Senti o peso de sua mão esquerda pressionando a minha, com uma suavidade calculada, como se estivesse lidando com vidro quebrado. Mas quem era ele para me tratar assim? Eu estava quebrada, sim, mas ele também não estava inteiro. 

Ele me puxou, fazendo com que eu me sentasse na cama. A maciez do colchão contra meu corpo imóvel me fez sentir o desconforto de estar ali, como se o mundo tivesse parado, mas minha mente continuava girando em um ciclo de negação. Eu não queria sair dali. Não queria me mover. Ele me pegou nos braços, um movimento brusco, mas firme, e senti a pressão de seu corpo contra o meu enquanto ele me carregava. Eu me segurei a ele, meu corpo não querendo mais se sustentar. O cheiro dele estava misturado ao da madeira do corredor vazio, e a sensação de sua pele quente em contato com a minha me causava um distúrbio, uma sensação de descompasso entre o que meu corpo queria e o que minha mente exigia. 

Quando a porta se fechou atrás de nós, o som ecoou pela casa vazia, e eu soube que, mais uma vez, ele me levaria para mais um lugar, mais um momento, mais uma encenação em que sou apenas um figurante sem vontade própria. Ele ainda acha que eu sou capaz de querer alguma coisa, mas eu não posso mais.  

Senti meu corpo flutuando, sustentado pelas mãos dele, minhas pernas quase sem força, minhas articulações desacostumadas ao movimento. Não respondi a ele, não olhei para ele. Eu queria que ele entendesse, mas sei que ele nunca entenderá. Meu corpo estava em um estado de exaustão extrema. Não queria levantar da cama, mas eu sabia que ele não me deixaria em paz. Ele nunca me deixaria em paz. 

Eu sentia o peso do silêncio nas paredes, o cheiro pesado de um perfume de dama, de flores secas no ar, o som abafado dos passos de Damon enquanto ele me carregava. Talvez ele pensasse que eu não o ouvia, mas eu ouvia tudo. O murmúrio da sua respiração, as palavras suaves que ele não sabia que não significavam nada para mim. Ele sempre achava que eu poderia ser consertada, mas tudo o que ele causou foi a destruição que não podia ver, a que não poderia curar.

Meu peito apertava, cada respiração parecia ser uma luta. As lembranças estavam lá, como fantasmas insuportáveis, aqueles dias em que tudo o que eu queria era apagar minha existência. A pressão baixa, a sensação de estar flutuando entre a vida e a morte, sem nunca realmente estar em nenhum dos dois lugares. 

Ele estava falando, ainda, mas não conseguia entender mais nada. Sua voz era vazia, um eco distante de algo que nunca foi real. Eu queria que ele soubesse a verdade: nada disso importava. Nada poderia mais. 

— Eu sei que você quer estar no jardim. 

Ele disse isso como se fosse alguma revelação, como se eu ainda pudesse sentir algo por aquele lugar. O jardim... O único lugar onde me sentia mais próxima de um estado de tranquilidade. Mas não. Não mais. A verdade é que o jardim era apenas um lugar em que eu podia ouvir o som do vento e sentir o cheiro das flores, mas nada disso era real. Tudo se misturava em uma névoa, uma neblina de indiferença. 

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