𝐜𝐨𝐧𝐟𝐢𝐬𝐬𝐨̃𝐞𝐬

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A chuva começou como uma garoa chata, mas, em questão de minutos, virou uma tempestade de verdade

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A chuva começou como uma garoa chata, mas, em questão de minutos, virou uma tempestade de verdade. Relâmpagos cortavam o céu, e o vento parecia tentar arrancar as árvores pela raiz. A trilha de volta pro chalé de Ares virou um rio lamacento, e eu sabia que, se continuássemos andando, era questão de tempo até sermos atingidas por um raio.

— Luna, anda logo! — gritei, segurando a mão dela com força enquanto a puxava pelo caminho. Ela parecia mais interessada em observar as gotas de chuva escorrendo pelas folhas do que em se abrigar. Aquele jeito calmo dela me deixava louca.

— Ali! — ela apontou, com a mesma tranquilidade irritante, para uma cabana minúscula meio escondida entre as árvores. Provavelmente algo que os filhos de Hermes improvisaram para esconder suas "pequenas trapaças".

Não era o lugar mais confortável do mundo, mas era melhor do que virar churrasco celestial. Empurrei a porta e praticamente joguei Luna lá dentro, fechando atrás de nós com um estrondo.

— Pronto, agora a gente espera — resmunguei, me encostando na parede enquanto a chuva martelava o telhado.

Luna tirou o casaco molhado e se sentou ao meu lado, como se estivesse em casa. Era irritante o quanto ela parecia estar bem, mesmo com a tempestade lá fora.

— Como você consegue ficar tão calma? — perguntei, sem conseguir me segurar.

Ela virou o rosto pra mim, aqueles olhos sonhadores cravados nos meus.

— Não sou calma — disse, e sua voz, suave como sempre, me pegou de surpresa. — Se eu estivesse sozinha, estaria apavorada.

Franzi a testa. Luna, com medo? Era difícil imaginar.

— Mas você tá aqui. — Ela deu um sorriso pequeno, mas verdadeiro. — Quando você tá perto, eu sinto que nada pode me machucar.

Fiquei sem palavras. Meu rosto esquentou, e eu olhei pro chão, tentando processar o que ela tinha acabado de dizer.

— Isso é... Fofo — murmurei, meio sem jeito.

Ela riu, aquele riso leve que parecia sempre encontrar uma maneira de atravessar as muralhas que eu construí.

O silêncio se acomodou entre nós, mas era confortável. Até que, de repente, algo em mim cedeu. Não sei se foi a tempestade lá fora ou as palavras dela, mas as coisas começaram a sair.

— Quando eu era pequena, meu pai… ele nunca foi muito presente. — Minha voz soou mais baixa do que eu esperava.

Senti o olhar dela em mim, mas ela não disse nada. Só colocou a mão sobre a minha.

— E minha mãe... ela era ainda pior. Ela dizia que eu tinha que ser forte, que o mundo não dava espaço pra gente fraca. Então, eu lutei. Sempre lutei.

Minha mão livre se fechou em um punho. As palavras estavam saindo rápido demais, como água de uma represa que quebrou.

— Foi assim que eu virei quem eu sou. A garota que ninguém mexe. Que sempre ganha. Porque, se eu não fosse essa pessoa, eu... eu não ia aguentar.

Minha voz falhou, e o nó na minha garganta ficou insuportável.

— Clarisse... — Luna começou, apertando minha mão. — Você sabe que não tem problema ser forte. Mas ser forte não significa que você precisa carregar tudo sozinha.

Olhei pra ela. O olhar dela era tão calmo, tão seguro, que por um momento eu esqueci do peso que sempre carrego.

— Você faz parecer tão fácil — sussurrei.

Ela deu aquele sorriso suave, inclinando-se pra me abraçar.

— Não é fácil. Mas com você por perto, tudo parece possível.

Fechei os olhos, deixando o calor dela me envolver. Pela primeira vez, senti que talvez eu não precisasse lutar sozinha. E lá fora, a tempestade parecia um pouco menos assustadora.

 E lá fora, a tempestade parecia um pouco menos assustadora

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𝐈𝐦𝐚𝐠𝐢𝐧𝐞𝐬 - 𝐂𝐥𝐚𝐫𝐢𝐬𝐬𝐞 𝐋𝐚 𝐑𝐮𝐞 Onde histórias criam vida. Descubra agora