Emily Green.
Existem coisas na vida que a gente nunca esquece. E aquela ligação foi uma delas.
Minha voz saiu trêmula, como se cada palavra fosse uma faca cortando a garganta. Do outro lado da linha, a voz desesperada da minha mãe me chamava pelo nome, implorando para saber onde eu estava, se eu estava bem. E eu? Eu só podia mentir.
"Tá tudo bem, mãe. Eu tô segura", eu menti, sentindo a mão de Rafe apertar meu braço com firmeza, um lembrete silencioso de que não havia outra opção. Ele estava ali, parado ao meu lado, me olhando com aqueles olhos que pareciam uma tempestade prestes a cair. Não havia espaço para hesitação. A verdade não era uma opção, não enquanto ele estivesse ali, segurando cada pedaço da minha coragem com o mesmo aperto que mantinha no meu braço.
Meu pai pegou o telefone logo depois, a voz dele firme, quase fria, como se já soubesse que algo estava errado. "Onde você está, Emily? Isso não é você. Volte pra casa." Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Rafe inclinou a cabeça pra mim, os olhos estreitando em um aviso mudo. Ele não precisou falar nada. Eu sabia o que ele queria.
"Eu só preciso de um tempo... é tudo. Por favor, não se preocupem comigo." Minha voz soava estranha até pra mim mesma, como se nem fosse minha.
Quando a ligação finalmente terminou, Rafe pegou o telefone da minha mão e o guardou no bolso dele. "Bom trabalho", ele disse com aquela calma irritante, como se fosse o dono do mundo. Como se fosse o dono de mim.
Agora, eu estava no quarto dele, deitada na cama. Mas dormir? Isso era impossível. O colchão era absurdamente macio, os lençóis tinham cheiro de roupa recém-lavada, mas a ideia de que aquele era o espaço dele, o lugar onde ele tinha controle total, me deixava tensa. Meu corpo parecia um fio esticado, pronto pra arrebentar a qualquer momento.
Eu ficava encarando o teto, tentando achar qualquer distração que me fizesse esquecer onde eu estava. Mas era inútil. A respiração dele ainda parecia estar no ar, mesmo que ele não estivesse no quarto. Era como se ele impregnasse cada canto com a presença dele.
A janela estava fechada, e o quarto tinha um cheiro amadeirado que era puro Rafe. O abajur ao lado da cama projetava uma luz amarelada no quarto, criando sombras que dançavam nas paredes. O relógio na cômoda marcava cinco e meia da manhã, mas o tempo parecia não passar. Cada minuto era um lembrete do quanto eu estava presa, do quanto ele havia me cercado de todas as formas possíveis.
Eu virei pro lado, tentando encontrar alguma posição que me fizesse relaxar, mas a cama parecia ainda mais desconfortável quanto mais eu tentava. Meu corpo estava cansado, mas minha mente não desligava. As imagens da ligação, o tom de voz dos meus pais, o olhar dele... tudo se misturava em um turbilhão que eu não conseguia controlar.
Eu suspirei, jogando o corpo pra frente e sentando na beira da cama. Dormir era impossível. Não importa o quanto eu tentasse, meus pensamentos não me deixavam em paz. Passei as mãos pelo cabelo, jogando-o de lado, e comecei a roer as unhas - um hábito que eu odiava, mas que sempre voltava quando o nervosismo tomava conta de mim.
O quarto estava um silêncio sufocante. Tudo parecia tão calmo que chegava a ser enlouquecedor. Olhei pro chão, pro lugar onde, mais cedo, os cacos de vidro estavam espalhados. Agora, nem sinal deles. Ele mandou alguém limpar, claro.
Me levantei, sentindo o chão frio sob meus pés descalços, e comecei a andar de um lado pro outro. Minha mente estava uma bagunça, um caos que eu não conseguia organizar. Pensei no que tinha pedido mais cedo: "Rafe, eu só quero ver a Kiara." A resposta dele foi curta, sem emoção, como se ele estivesse falando sobre o tempo: "Você vai vê-la quando eu decidir."
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Crimson Desires • Rafe Cameron.
FanfictionEmily Green nunca imaginou que sua vida daria uma guinada tão sombria. Depois de cruzar o caminho de Rafe Cameron, um homem tão perigoso quanto sedutor, ela é puxada para um mundo de segredos, poder e jogos psicológicos. Rafe tem um plano, e Emily é...