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Não havia mais tempo. A qualquer momento, alguém poderia descer aquelas escadas e acabar com qualquer chance que ainda tínhamos. O som dos uivos lá fora continuava ressoando em meus ouvidos, misturado aos tremores e explosões que vinham em intervalos imprevisíveis. Meu coração batia tão forte no peito que parecia sufocar qualquer outro pensamento.

Minhas mãos tremiam enquanto eu puxava o molho de chaves do bolso, sentindo o metal frio contra a pele machucada. Nathan, será que ele sabia que tudo terminaria assim?

Engoli em seco, tentando ignorar a sensação de que eu estava sendo observada. O corredor estava vazio, mas a presença daquele guarda que havia fugido ainda pairava em minha mente. Respirei fundo e me forcei a focar. Não podia me dar ao luxo de hesitar agora.

Escolhi uma das chaves no molho e a encaixei na fechadura da minha cela. O clique metálico ecoou alto demais no silêncio tenso, fazendo com que eu segurasse a respiração. Girei a chave, mas ela não se movia. Forcei um pouco mais, até que a chave se recusou a girar por completo.

Andras, na cela ao lado, murmurou algo que não consegui ouvir, mas senti seu olhar pesado sobre mim. Não me atrevi a encará-lo agora. Eu precisava me concentrar. Mais uma chave, mais uma tentativa.

- Droga. - sussurrei, trocando a chave e tentando outra. A essa altura, minhas mãos estavam tão suadas que mal conseguiam segurar o molho direito.

Atrás de mim, Zyran sussurrou, sua voz baixa e carregada de preocupação:

- Se apresse, Evrin. Não temos garantias de quanto tempo temos.

Eu sabia disso, melhor do que ninguém. A ideia de falhar, de ser pega antes de libertá-los, me fazia tremer ainda mais. Mas não havia outra opção.

Minhas mãos estavam tão trêmulas que parecia impossível pegar outra chave. Cada uma delas parecia ter um peso diferente, como se me testassem, como se quisessem me fazer falhar. O som das chaves rangendo, uma após a outra, parecia tão alto e estridente que eu sentia que poderia ser ouvida por toda a prisão. Eu mal conseguia respirar, minha mente gritando para que eu me apressasse, para que eu não perdesse a oportunidade de escapar. Mas não podia me dar ao luxo de errar.

A chave finalmente encaixou na fechadura. O metal frio girou com um som metálico nítido. Um clique. Um som pequeno, mas que ecoou como um estrondo nos meus ouvidos, como se fosse a única coisa importante naquele momento. Eu quase não pude acreditar. O alívio me invadiu instantaneamente, o peso das horas de tensão se desvanecendo por um instante.

Com o coração disparado, eu empurrei a porta devagar, com um cuidado quase exasperante, o som rangendo sendo abafado pelo pulsar do meu sangue. O corredor estava vazio, ainda sem um sinal de movimento. Olhei em volta rapidamente, tentando ouvir qualquer som. O ar estava denso e frio, fazendo com que cada respiração saísse mais curta, mais pesada.

Eu estava fora da cela. Mas o que fazer agora?

A situação era desesperadora. Eles estavam feridos, machucados, e muitos mal conseguiam ficar de pé. Não podíamos perder mais tempo. Todos eles precisavam sair dali, mas as primeiras celas que eu deveria abrir eram as de Zyran e Andras. Eles estavam ao lado, os dois machucados, porém prontos para lutar, se tivessem chance.

Respirei fundo, tentando controlar minha respiração acelerada. Eles eram minha prioridade. Se conseguisse abrir as celas deles, a chance de conseguirmos fugir aumentaria.

Com um último olhar para o corredor, comecei a procurar novamente. As chaves soavam como uma sentença, cada uma delas mexendo no molho com um som metálico que me fazia questionar o tempo que já havia passado. Mas, ao tentar a chave para a cela de Zyran e Andras, a porta se abriu mais rápido do que eu esperava. O alívio me atingiu como uma onda, mas ele logo foi substituído pela frustração. Quando fui até eles, para libertá-los das algemas, percebi o problema: a chave não era a mesma.

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