O sol mal havia começado a se erguer no horizonte, lançando uma luz fraca através das janelas embaçadas do hospital psiquiátrico.
O ar estava impregnado de um silêncio inquietante, quebrado apenas pelo som dos passos de Finney ecoando nos corredores frios e brancos. Ele ajustou a gravata, uma tentativa de se sentir mais confiante, embora soubesse que nada poderia prepará-lo para o que estava prestes a enfrentar.
Finney era um psiquiatra respeitado, conhecido por sua abordagem empática e suas técnicas inovadoras de terapia. No entanto, a chegada de Robin ao hospital havia despertado sua curiosidade e ansiedade.
Os rumores sobre o paciente eram perturbadores: Robin não era apenas um criminoso; ele era um psicopata astuto, capaz de manipular até mesmo os profissionais mais experientes. Os colegas alertaram-no sobre os perigos de interagir com alguém tão imprevisível, mas Finney sempre acreditou que cada mente tinha uma história a contar.
Ao se aproximar da porta da sala de terapia, Finney respirou fundo, tentando afastar a tensão que se acumulava em seus ombros. Ele abriu a porta lentamente, revelando um ambiente austero: paredes brancas sem adornos, uma mesa simples e duas cadeiras dispostas frente a frente. E, ao fundo, Robin estava sentado com as mãos entrelaçadas, sua expressão serena desafiando qualquer interpretação.
"Bom dia, Robin," Finney começou, tentando estabelecer um tom amigável enquanto fechava a porta atrás de si.
Robin levantou os olhos lentamente, como se estivesse avaliando cada movimento do psiquiatra. "Ah, o Dr. Finney," ele respondeu com um sorriso enigmático que não chegava aos olhos. "Eu estava começando a achar que você não viria."
Finney forçou um sorriso nervoso e se sentou na cadeira oposta. Ele podia sentir o olhar penetrante de Robin sobre ele, como se estivesse analisando cada detalhe de sua expressão. "Estou aqui agora. Como você tem se sentido?"
"Sentindo? Isso é interessante," Robin disse com uma leveza que contrastava com o ambiente pesado da sala. "A maioria das pessoas não entende que sentimentos são apenas ilusões. Brincadeiras da mente."
Finney inclinou-se para frente, interessado na provocação. "Você acredita que os sentimentos não têm valor?"
Robin soltou uma risada baixa e melodiosa. "Valor? Depende do ponto de vista. Para alguns, podem ser armas poderosas; para outros, são apenas correntes que os prendem."
Ele fez uma pausa e observou atentamente Finney antes de continuar: "Você está aqui para quebrar essas correntes ou para amarrá-las ainda mais?"
A tensão na sala aumentou à medida que as palavras de Robin pairavam no ar como uma névoa densa. Finney sabia que precisava manter o controle da conversa; qualquer deslize poderia levar a uma manipulação sutil e devastadora por parte do paciente.
"Meu objetivo é entender você melhor," respondeu Finney com firmeza. "Para ajudá-lo a encontrar maneiras mais saudáveis de lidar com suas emoções."
"Ajudar"… Essa palavra é tão cheia de promessas vazias," Robin disse com desdém. "Você realmente acha que pode me ajudar? Eu sou o enigma aqui, Dr. Finney." Ele inclinou-se para frente levemente, seus olhos brilhando com uma intensidade perturbadora. "E você é apenas um homem comum tentando decifrar algo que está além da compreensão humana."
A provocação era clara; Robin estava jogando com as palavras como um músico habilidoso tocando sua melodia favorita. Finney tentou manter sua postura profissional e focada na tarefa em mãos.
"Vamos começar do começo," sugeriu Finney, decidindo adotar uma abordagem mais direta. "Fale-me sobre sua infância."
Robin recuou na cadeira como se tivesse sido fisicamente atingido pela pergunta. Seus olhos escureceram por um momento antes de ele responder: "Infância? Uma época cheia de inocência perdida e expectativas esmagadoras." Ele riu suavemente novamente, mas desta vez havia algo sombrio em seu riso.
"Meus pais eram pessoas respeitáveis na comunidade," continuou ele após uma pausa deliberada. "Mas sempre esperaram demais de mim — perfeição em tudo o que eu fazia." Ele olhou para o teto enquanto falava, como se estivesse revivendo memórias antigas e dolorosas. "É engraçado como isso molda quem somos… ou quem nos tornamos."
Finney anotou mentalmente cada palavra enquanto tentava decifrar as nuances da narrativa de Robin. Havia tristeza em sua voz? Ou seria apenas outra camada da manipulação? “E essa pressão levou você a comportamentos difíceis?” perguntou ele cautelosamente.
Robin fixou seu olhar em Finney novamente; seus olhos eram frios como aço agora. “Comportamentos difíceis? Você quer dizer… comportamentos que podem ser considerados ‘errados’? Eu apenas aprendi a jogar o jogo da vida melhor do que os outros.” A confiança em sua voz era palpável.
“E esse jogo resultou nas suas ações,” disse Finney calmamente.
“Minhas ações são irrelevantes,” Robin respondeu desdenhosamente. “O que importa é como você interpreta essas ações.”
O jogo psicológico entre eles tinha começado e estava longe de ser simples ou direto. Enquanto conversavam, Finney percebeu que cada resposta de Robin era cuidadosamente elaborada para provocar reações específicas — tanto dele quanto dos outros ao redor.
“Então me diga,” Robin perguntou subitamente com um tom provocador em sua voz suave, “o que você realmente pensa sobre mim?”
Finney hesitou por um momento; essa era uma pergunta arriscada e ele sabia disso muito bem. Mas ele também entendia que precisava ser honesto — tanto consigo mesmo quanto com Robin.
“Eu vejo você como alguém profundamente machucado,” ele finalmente disse, “mas também percebo o potencial para mudança.”
Robin sorriu novamente — aquele sorriso enigmático que deixava tudo mais confuso do que antes. “Mudança… Uma palavra bonita.” Ele olhou pela janela onde as folhas dançavam suavemente ao vento matinal. “Mas muitas vezes é apenas outra forma de controle.”
A conversa prosseguiu por horas enquanto eles exploravam as complexidades da mente humana — revelações e provocações trocadas entre eles como peças em um tabuleiro de xadrez psicológico.
No final da sessão, quando Finney saiu da sala sentindo-se exausto mas intrigado, sabia que havia entrado em um terreno desconhecido onde as regras eram diferentes e as consequências poderiam ser devastadoras.
Enquanto caminhava pelos corredores silenciosos do hospital psiquiátrico, não conseguia deixar de pensar nas palavras de Robin: “Apenas lembre-se… eu sou o enigma.” E nesse momento ele percebeu que havia muito mais em jogo do que apenas entender um paciente; estava lidando com as sombras mais profundas da psique humana — e talvez até mesmo com os próprios limites da razão humana.
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𝙥𝙨𝙮𝙘𝙝𝙞𝙖𝙩𝙧𝙞𝙨𝙩
Mystery / ThrillerEm um hospital psiquiátrico isolado, Robin, um paciente psicopata e manipulador, aguarda suas sessões de terapia com uma calma inquietante. Ele possui uma mente afiada e um talento inato para distorcer a verdade, transformando cada conversa em um jo...