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Meus passos ecoavam pelo salão dos registros enquanto eu caminhava devagar, absorvendo cada detalhe ao meu redor. O espaço era muito maior do que eu imaginava, com prateleiras de madeira que se erguiam quase até o teto, abarrotadas de pergaminhos, livros e potes de vidro. Cada prateleira formava uma fileira, organizada e meticulosamente preenchida com o conhecimento de gerações passadas. Pequenos feixes de plantas secas pendurados em cordas entre as estantes espalhavam um aroma de terra e folhas, algo entre o familiar e o exótico. Eu reconheci lavanda, camomila e alecrim, mas havia outras essências amargas e intensas que nunca havia sentido.

Ao meu lado, Viella me guiava pelo salão com uma leveza que contrastava com a minha hesitação. Ela se apresentara no caminho e logo percebi sua presença forte e acolhedora. Sua pele escura e brilhante parecia reluzir sob a luz suave das tochas, e os longos cabelos acompanhavam seus movimentos graciosos. Ela sorriu, indicando um pergaminho aberto sobre uma das mesas.

- A melhor parte dos registros - ela disse, tocando o pergaminho com delicadeza - é que eles guardam o conhecimento de gerações. É aqui que tudo o que aprendemos sobre plantas, doenças e curas é preservado. Se houver algo sobre esse frasco, talvez possamos encontrar aqui.

Me aproximei tocando o pergaminho com cuidado, os dedos deslizando pelas linhas desbotadas e antigas enquanto tentava decifrar os escritos.

- Todos esses conhecimentos... estão realmente registrados aqui? - perguntei, surpresa com a extensão do que poderia estar guardado.

- Cada descoberta, cada cura e, em alguns casos, até as falhas - respondeu Viella, com um brilho de orgulho nos olhos. - Sabemos que algumas coisas podem ter se perdido com o tempo, mas o essencial está aqui.

Eu absorvia cada palavra de Viella, encantada pela ideia de que segredos tão antigos e profundos estavam à nossa disposição. A quantidade de pergaminhos e livros parecia interminável; a sala era um verdadeiro santuário de conhecimento.

Ela apontou para uma prateleira ao lado, onde pequenos frascos estavam dispostos em uma ordem precisa.

- Esses aqui são amostras de plantas que conseguimos catalogar. Algumas têm séculos de existência - explicou ela. - Cada uma traz seu próprio mistério, mas também traz cura, em muitos casos. É por isso que os registros são tão valiosos.

Eu observei os frascos e, lembrando do líquido que Nathan me entregara, senti uma pontada de ansiedade. Parte de mim temia que nem mesmo toda essa sabedoria seria suficiente para desvendar o que ele havia trazido. Mas, com um suspiro, tirei o pequeno frasco do bolso e o estendi para Viella.

Ela o pegou cuidadosamente, erguendo-o contra a luz. A substância fosca girava levemente dentro do vidro, e o olhar atento dela indicava que analisava cada detalhe.

- Ainda não vimos nada exatamente assim - ela murmurou, os olhos atentos. - Mas podemos comparar com os registros de plantas venenosas ou tóxicas. Há algumas misturas raras que têm cores opacas.

Meus ombros caíram um pouco ao ouvir que nem mesmo Viella tinha uma resposta imediata. Mesmo assim, ela manteve o tom esperançoso e continuou:

- Temos algumas descrições de substâncias que foram estudadas antes de serem proibidas ou descontinuadas. Vamos olhar ali primeiro. Quem sabe seja um começo.

Ela caminhou até uma mesa mais ao fundo, onde outros pergaminhos estavam abertos, aparentemente já organizados para pesquisa.

Eu a segui, mas meus pensamentos se voltaram à Miray, imaginando se ela já tinha percorrido esses corredores, absorvido esse mesmo cheiro de história e conhecimento.

Viella abriu um dos pergaminhos com cuidado, passando os dedos pelas linhas desbotadas, como se pudesse extrair algum segredo apenas pelo toque.

- Esse aqui descreve as substâncias proibidas que nossas curandeiras catalogaram ao longo dos anos - ela disse, deslizando o pergaminho em minha direção. - Muitas delas são derivadas de plantas e misturas de origem desconhecida.

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