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Meus olhos permanecem fechados por um longo momento, recusando-se a encarar as verdades que continuam a girar em minha mente. O calor da cama me envolve, oferecendo um conforto estranho, quase enganoso, enquanto luto para me ancorar na realidade ao meu redor. Minha mãe está viva.

Abro os olhos devagar, e o ambiente ao meu redor me atinge com uma clareza desconcertante. O quarto é luxuoso, mais do que qualquer lugar que já estive, com as paredes esculpidas em pedra lisa, mas adornadas com tapeçarias finas e tecidos que exalam riqueza. As cores profundas, bordôs e dourados, brilham à luz da lareira, criando um contraste sutil entre o selvagem da caverna e o refinado dos detalhes. Há algo imponente e ao mesmo tempo desconcertante sobre o lugar — como se eu fosse uma visitante indesejada em um palácio esculpido pela própria natureza.

No canto oposto da lareira, uma grande abertura na parede revela uma vista espetacular. Levanto-me devagar, sentindo a leve dor nas costelas enquanto caminho até a abertura. O frio do piso de pedra contrasta com o calor que ainda sinto no corpo. A janela — ou seria um tipo de sacada interna sem grades — se abre para a vastidão da floresta muito abaixo. Eu nunca vi nada assim antes. As árvores densas se estendem até onde os olhos alcançam, com o amanhecer pintando o céu de tons suaves de laranja e rosa. O horizonte, marcado pelas montanhas distantes, parece um outro mundo, silencioso e imponente.

Respiro fundo, mas o peso dentro de mim não alivia. Cada detalhe deste quarto luxuoso grita poder e riqueza, algo tão distante da minha realidade que parece sufocante. Isso não é meu mundo, penso, apertando os dedos contra a pedra fria da abertura, como se a solidez pudesse me trazer algum controle. E, no entanto, a sensação de estar sendo sufocada, de estar em um lugar ao qual não pertenço, permanece.

À minha esquerda, um arco esculpido na rocha leva a outro ambiente. Passo por ele, meus pés descalços deslizando silenciosamente sobre o chão polido. O ambiente se abre em um espaço ainda mais opulento — uma espécie de sala de banho, mas não como aquelas simples e práticas que conheci. Aqui, uma enorme banheira esculpida na pedra ocupa o centro do ambiente, com água ainda quente, liberando um vapor suave no ar. O cheiro delicado de ervas e óleos impregna o espaço, e ao redor da banheira, toalhas de tecido fino, incrivelmente macias ao toque, estão dispostas com perfeição. O ambiente é iluminado de maneira suave, como se a luz natural que entra através de pequenas aberturas nas paredes rochosas tivesse sido cuidadosamente planejada para criar uma atmosfera de calma.

Eu paro ao lado da banheira, observando o vapor subir lentamente. A água parece convidativa, um luxo tentador após tudo o que passei. Mas não consigo relaxar. Tudo aqui parece tão distante da realidade que conheço. Cada detalhe dessa sala me faz sentir ainda mais deslocada. A visão do meu reflexo em um grande espelho encostado à parede me interrompe.

Caminho até o espelho e me vejo pela primeira vez desde... desde que acordei neste lugar. O que vejo faz meu estômago revirar. O rosto pálido exibe marcas sutis: um corte cicatrizando no lábio e manchas arroxeadas no pescoço. Meus cabelos, caiem em ondas suaves, até a cintura. A camisola é fina, quase translúcida sob a luz suave. O tecido, macio e delicado, molda-se ao meu corpo magro de uma maneira que me faz corar violentamente. As rendas suaves no decote e nas alças finas parecem detalhes feitos para adornar alguém que não sou. É algo que eu nunca escolheria usar, algo tão íntimo, tão revelador. A vergonha invade meu peito quando percebo que alguém me trocou. A lembrança do homem que estava no quarto quando eu desabei, me faz sentir uma onda de calor que sobe até o rosto.

Ele me viu assim... frágil, exposta. Minha mente não consegue escapar dessa humilhação. Não apenas me viu vestindo algo tão... impróprio, mas também me viu no meu pior momento, desabando por completo. E eu ainda me agarrei a ele sem nenhum pudor. A vergonha é mortificante, e me forço a desviar o olhar do espelho, como se isso pudesse apagar o que aconteceu.

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