6° dia.

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A manhã chegou com o retorno de minhas alergias.
Prezei tanto pela saúde ontem, mas mesmo assim, me expus demais...
O lado bom, é que grande parte da minha enxaqueca foi embora junto com meu olfato.
Samael também parecia adoecido, mas não tão cansado quanto eu.
Talvez toda a questão tenha feito Mamãe voltar a me vigiar — isto, levando em consideração o sumiço de Lucius e sua volta repentina, além do bilhete vermelho que dizia que eu deveria tomar meus remédios na cabeceira.

A mesma trajetória ordinária foi feita.
Cada passo estava sendo vigiado pelos guardas, desta vez.
Lucius demonstrava a aversão ruidosa por Samael à medida que ele se aproximava de mim. Talvez, uma demonstração de ciúmes, ou, uma hipótese, seria a indignação constante que Mamãe tem sobre os "peões" que não são dela para controlar. Entendo como se fosse pouco provável que ele tenha se rendido tanto assim à vontade dela, mas, nada é impossível.
Segregando os dois, pude ver que, nem um nem o outro, fica à vontade quando estão juntos.
Se assemelham muito a duas crianças nestas horas...

Tive de preparar o café para os dois e repetir o monótono de ontem.
Lucius parecia mais distante, mais agressivo e mais observador. Não sei exatamente o que Mamãe preparou para hoje, então, talvez haja alguma ligação entre o calendário.
Não tão mais tarde, Dmitry apareceu na porta, com uma expressão pecaminosa.
—Gostaria que me acompanhasse, preciso de uma opinião — ele disse.
Quando me levantei do sofá, Samael e Lucius também se moveram para me acompanhar.
—Não, eles não. Você — insistiu Dmitry. Me surpreendi, admito.
Compreendi e presumi que eles também entenderam. Apenas olhei para eles e eles ignoraram a situação, porém, espero que eles não se matem até eu voltar.

Dmitry estava guiando o caminho até depois da Ala Vermelha, estávamos indo para a Ala Leste — vulgo, a Ala da Ciência.
Diversos cientistas me observaram quando passei por eles, sussurrando coisas e admirando o que quer que fosse.
Dmitry estava sério, não como normalmente é, parecia que algo havia ocorrido. Não especificamente algo ruim, coisas ruins acontecem aqui o tempo todo, mas uma coisa terrível.
Depois das tenebrosas salas de pesquisa, ele abriu uma sala cor de chumbo, pouco iluminada e úmida. O interior da sala não era de todo modo aconchegante, mas se assemelhava muito mais à um quarto de hospital do que os Dormitórios.
—É terrível, cometi um erro terrível. Não sei se devo tentar consertá-lo, posso quebrar ainda mais — disse Dmitry, enquanto andava pela sala de um lado para o outro.
Tentei achar alguma pista, mas a única coisa que eu encontrei foi o prontuário na porta.

"MIKAEL"

Presumo ser outro dos Anjos.
Entrei na sala depois de analisar as atitudes de Dmitry. Não parecia ser uma armadilha.
Olhei em volta, e achei um corpo: uma migalha de vida, estirado no canto mais escuro da sala, exalava o cheiro de medo e seus olhos estavam cansados.
Se até mesmo eu senti o medo daquela criatura, quem dirá Dmitry com as consequências de seus atos.
Tive pena.
—O que tem de errado? — perguntei.
—Ninguém consegue chegar perto dele, ele não come, não dorme, não fala e tenho minhas suspeitas de se ele ainda ouve — respondeu Dmitry.

O silêncio permaneceu.
Não parecia ser neurológico, nem psiquiátrico.
Talvez, sim, psiquiátrico... Não tenho certeza.
Questões médicas não são meu forte.
Me aproximei devagar, em silêncio, e percebi que seus olhos só começaram a me seguir depois que já havia dado alguns passos. Algo realmente tinha dado errado.
Nada de movimentos bruscos.
Me abaixei ao seu lado e esperei por alguma reação, mas não houve resposta durante um bom tempo.
Dmitry parecia inquieto, visto que aquele talvez tenha sido um projeto caro.
O que minha irmã faria?

Injury - InjúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora