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Eduardo 
A ausência de retorno juntando ao fato dela parecer não se importar me fez arrumar minhas malas para ir atrás dela, Maria não pode se envolver com aquele desgraçado, sei que com minha presença, ela vai entender que o melhor é ficar longe dele. 
Estou saindo do quarto com minhas malas quando minha mãe junto com meu pai aparece entrando em minha frente. Eu assumi minhas responsabilidades como um bom filho, tomando posse da presidência da empresa e sendo um bom administrador.
Sei bem que meu pai fez isso para afastar Maria de mim e evitar que vá atrás dela, mas não estou preocupado com isso, irei até ela em qualquer lugar que tiver. Agora que não estou com compromisso marcado com Carina, nada vai me impedir.
— Onde pensa que vai, Eduardo? 
— Se vocês não estão preocupados com Maria e o envolvimento dela com um total desconhecido, eu estou. Vou atrás dela e acompanhar a obra de perto. 
O meu pai foi na minha direção segurando a gola da minha camisa como se fosse um moleque, ele nunca fez isso comigo. 
— Isso precisa parar! Você nunca vai poder ficar com Maria, entendeu? Deixe sua irmã em paz!
— Jesus, solte nosso filho, por favor. Precisamos contar a verdade para ele, quando souber vai parar com tudo isso. 
Meu pai soltou a gola da minha camisa pedindo para conversar comigo, eu não queria saber de nada apenas de viajar logo, mas o olhar insistente da minha mãe adiou meus planos. 
— Eduardo, não cometa um erro que vai se arrepender. Maria jamais pode ser sua mulher, sei que na adolescência, se encantou com ela, mas tem que parar com tudo isso.
— Mãe, eu tentei esquecê-la, deixar esse sentimento de lado, mas não consigo, é mais forte que eu. 
Eu sinto saudades dela, na verdade, quando foi fazer o intercâmbio, quis ir atrás dela, mas a sua negativa em aceitar o sentimento que possuía por ela causou um certo desânimo. Mas revê-la depois de tanto tempo fez retornar todo sentimento de antes.
— Filho, eu cometi um erro na mesma idade que você tem hoje. Jovem e imaturo demais acabei me envolvendo com uma garota de programa. Eu não me orgulho disso, sua mãe estava com você ainda pequeno, deveria ter sido fiel e não tratado meu casamento como algo banal. Fui infiel com ela e com minha promessa perante Deus no dia em que nós casamos na igreja. 
Não consigo entender o que Maria tem haver com isso, minha irmã veio para cá ainda bebê, eu lembro como desde daquele dia fiquei encantado com ela, a paparicando como se fosse um presente dado por Deus para mim, e foi assim até a adolescência quando percebi que não era só amor de irmão.
— O que Maria tem haver com sua traição? Mãe, como pode perdoá-lo depois do que fez? 
— A prostituta acabou engravidando, mas ela não queria Maria, me procurou para pedir dinheiro para o aborto. Dei a quantia que ela me pediu e uma casa, me arrependo por ter feito isso, e sei que você estar apaixonada por Maria é um castigo por ter decidido patrocinar um assassinato. 
Eu não queria ouvir o restante, toda essa história me enoja. Além de ter errado com minha mãe, ele ainda queria acobertar o erro com outro pior. 
— Ela não abortou, meu filho. A mulher mentiu para seu pai, soube de tudo e fui atrás dela. Eu não me orgulho da forma que agi, fiquei curiosa para saber porque ele quis outra ao invés de mim. A vi e soube o motivo, a mulher era lindíssima, uma negra exuberante e uma boa mãe, tive inveja do que ela tinha. Eu tentei por tantas vezes ser mãe de uma menina, mas seu parto foi complicado, e os médicos acharam melhor não tentar de novo. Até que eu me aproximei com uma amiga, e logo percebi que ela não era garota de programa porque queria e sim por ter entrado nessa vida para ajudar os pais doentes. 
Senti ainda mais ódio de saber que minha mãe se rebaixou a tanto por culpa da traição do meu pai. 
— Ela não era culpa, Eduardo, mas decidiu mentir para cuidar da bebê, era uma boa moça e nunca mais procurou seu pai. Eu acompanhei tudo que fazia por sua irmãzinha, até que com seis meses de vida, a bebezinha ficou órfã. A mãe morreu de maneira trágica em um tiroteio na comunidade que viviam, os avós não tinham como cuidar da menina, e eu era a melhor opção. 
Estou em negação. Maria não é minha irmã, isso não pode ser verdade.
— Se estiverem mentindo para mim, seria muito baixo da parte dos dois. 
— Não, filho. Trouxe Maria para ficar conosco, a minha menina nascida de outra mãe. Eu jamais imaginei que você sentiria isso por ela, seu pai me contou tudo e quis me separar no começo, mas pensei em você e na sua irmã, vocês mereciam uma família, e eu fiz o melhor que pude. 
— Com certeza! Mentindo pra mim, e ainda por cima mentindo para Maria. Eu sei que ela não sabe dessa merda que vocês fizeram com nossas vidas. 
Estou totalmente desesperado a minha vontade é de gritar como um louco, rasgo minha camisa em total dor. Imagens de Maria vem em minha mente, seu aniversário de 15 anos, em como ela parecia uma princesa e dançou comigo a noite inteira, quando falou que era seu herói e o melhor irmão do mundo. 
— Filho, nós temos total consciência de como formos errados em mentir para vocês, mas não queríamos criar nenhuma distinção entre Maria e você. Entendo se nunca nos perdoar, mas não podíamos deixar que estragasse sua vida e de sua irmã. Maria iria sucumbir a qualquer momento, pois o ama e não iria querer machucar você.
Eu não quero acreditar nisso, não posso aceitar que Maria é minha irmã. 
— A mãe dela era prostituta, poderia ser de qualquer um.
— Maria é minha filha, Eduardo, fizemos o teste de paternidade apenas para confirmar. Filho, sei que não temos direito de pedir nada, mas não vá até sua irmã, deixe que eu e seu pai contemos a ela.
Mentirosos. Enganaram a mim e a Maria por anos, e agora pedem para não contar. Só podem estar loucos. 
— VOCÊS MENTEM E PENSAM QUE VAI FICAR TUDO BEM? SÓ PODEM ESTAR DE BRINCADEIRA.
Minha mãe já estava chorando lamentando por tudo, olhei para ela sentindo o peso que com certeza carregou por toda vida por escolher meu pai e o seu erro. 
— Eu não vou contar nada a Maria, e não por vocês que mentiram a vida inteira, e sim por ela. Não merece saber que veio de uma puta, amante do pai que sempre acreditou ser adotivo. Eu tenho nojo de vocês.
Sai de casa entrando no carro, eu não sabia para quem ligar, sempre que tinha algum problema, a única pessoa que conseguia desabafar era Maria, agora só me basta ligar para ela e dizer o que sinto.
A chamada é atendida depois de algum tempo, estou indo em direção da casa de Carina sem entender bem o motivo.
— Eduardo, eu não quero brigar, de verdade, se você quiser vir não vou me importar. Estou exausta e realmente não quero continuar com isso.
— Eu também não, Maria. Eu te amo, e preciso de você, mas sei que é impossível ter você comigo. Confio no seu trabalho e sei que fará o melhor, é uma excelente profissional. Não irei para Bela Esmeralda, sei que estou sendo um babaca esses últimos dias, mas vou mudar.
— Está tudo bem? Ed, estou preocupada.
— Tem muitos anos que não me chama assim. Ed ou irmão Ed, eu sempre vou amar você, Maria e independente do que acontecer sei que também vai me amar como seu irmão mais velho.
É como se estivesse vendo seu sorriso, não poderia tê-la como queria, mas também não iria destruir sua vida. Não queria ser o vilão da sua história.  
— Ed, Carina me ligou, conversamos muito, irmão, eu acho que deveria reconsiderar. Um sentimento tão bonito que vocês tem não deveria acabar assim.
— Eu sei, estou indo atrás dela, me deseje sorte. 
— Você não precisa de sorte, irmão, já tem o principal. Muito amor, e quem tem amor, tem tudo, Ed.
Eu ainda tinha o amor da minha irmã, não o amor que desejei por uma vida quase inteira, mas o amor que sempre deveria ter.