Se você me dissesse que algum dia eu, Clarisse La Rue, a filha de Ares, acabaria me apaixonando por uma filha de Zeus, eu provavelmente te daria uma porrada. Mas, adivinhe? Foi exatamente isso que aconteceu.
O nome dela é Helena. E, sinceramente, o nome combina bem com ela. Alta, cabelos escuros como uma tempestade, e aqueles malditos olhos azuis que pareciam soltar faíscas. Desde o momento em que ela chegou ao Acampamento Meio-Sangue, eu sabia que ela ia ser problema. Filhos de Zeus sempre são. Arrogantes, convencidos de que o mundo gira ao redor deles só porque o pai é o rei do Olimpo. E, por algum motivo, ela olhou direto pra mim quando desceu da Colina Meio-Sangue, como se soubesse que eu seria seu alvo.
E que alvo.
No começo, era óbvio que a gente não ia se dar bem. Eu sou filha de Ares. Somos competitivos, impulsivos, briguentos. E Zeus e Ares? Bom, a história dos nossos pais não ajuda muito. O primeiro treino de Helena no acampamento foi um desastre. Ela tentou dominar todo mundo, como se já fosse a líder ali. E, claro, isso não rolou bem comigo.
"Você acha que manda aqui só porque seu pai joga raios?" eu disse, estreitando os olhos quando ela entrou na arena, pronta para provar que era a melhor.
Ela sorriu de lado, aquele tipo de sorriso que te faz querer socar alguém. "Só acho que ninguém aqui vai me desafiar. Mas se você quiser tentar, filha de Ares, não vou impedir."
Foi aí que eu soube que as coisas iam sair do controle.
Entramos em combate. Lança contra espada. Vento e trovões contra força bruta. O acampamento todo parou pra assistir. Clarisse La Rue contra Helena, a filha de Zeus. Ninguém sabia em quem apostar.
O problema é que, durante a luta, eu comecei a perceber algo estranho. Não era só raiva que eu sentia ao enfrentá-la. Era outra coisa. Uma faísca diferente. Cada vez que nossos olhares se cruzavam, eu sentia um calor crescendo no meu peito, como se, de alguma forma, o relâmpago que ela controlava estivesse atingindo direto o meu coração.
E isso me irritava.
Claro, eu a venci naquele dia. Empurrei Helena no chão, coloquei minha lança contra seu pescoço e esperei que ela pedisse para parar. Mas, para minha surpresa, ela riu. Uma risada curta e baixa, como se tivesse ganhado mesmo perdendo. Ela olhou direto nos meus olhos e disse: "Isso foi divertido. Devíamos fazer de novo."
Eu revirei os olhos e dei um passo para trás. "Você é louca."
"Talvez," ela respondeu, levantando-se e limpando a poeira da roupa. "Mas acho que você gosta disso."
Eu me virei e saí dali, porque sabia que, se ficasse, ia acabar jogando ela no chão de novo. E, dessa vez, não seria só pra lutar.
A partir desse dia, Helena fez questão de me irritar em cada oportunidade. Ela treinava ao meu lado, desafiava minhas ordens, e, às vezes, até aparecia do nada durante as minhas missões. Era como se ela soubesse que eu não podia resistir a um bom confronto, tanto físico quanto mental. E, no fundo, isso me deixava... viva. Porque lutar contra ela era diferente de lutar com qualquer outra pessoa. Ela me entendia de um jeito estranho, como se pudesse ler as minhas fraquezas e ainda assim quisesse estar perto.
O pior momento foi durante uma missão que fizemos juntas. Estávamos no meio de um campo de batalha, monstros por todos os lados, quando Helena ficou cercada. Eu podia ter deixado ela se virar sozinha. Ela é filha de Zeus, afinal, poderosa o suficiente para lidar com algumas criaturas. Mas, de alguma forma, meus pés se moveram antes que minha cabeça processasse. Corri até ela, a raiva misturada com algo que eu não conseguia definir, e lutei ao seu lado como se nossa vida dependesse disso.
Depois que tudo terminou, suadas e cobertas de poeira, ela olhou para mim de um jeito diferente. Não arrogante. Não desafiador. Apenas... grata.
"Você não precisava ter feito isso, sabia?" ela disse, respirando fundo.
"Eu sei," respondi, tentando controlar o batimento do meu coração. "Mas alguém precisava salvar sua bunda arrogante."
Ela riu. E dessa vez, foi uma risada sincera, sem sarcasmo. "Sabe, Clarisse, você é mais do que só músculos e raiva."
Eu bufei. "E você é mais do que só relâmpagos e trovões."
Ficamos em silêncio por um momento, o campo de batalha ao redor de nós, mas parecia que éramos as únicas duas pessoas no mundo. E, naquele momento, percebi que a faísca entre nós não era só raiva, competição ou orgulho. Era algo mais. Algo que eu estava tentando negar desde o dia em que ela chegou.
Ela deu um passo à frente, perto o suficiente para que eu sentisse a eletricidade no ar. "Você sente isso também, não sente?" perguntou, baixinho.
Olhei nos olhos dela, aqueles olhos azuis que poderiam queimar o mundo inteiro se quisessem, e finalmente admiti para mim mesma o que eu estava tentando ignorar.
"Sim," eu disse, minha voz firme, como se estivesse aceitando uma batalha que sabia que não podia vencer. "Sinto."
E, pela primeira vez, a guerra dentro de mim não parecia uma maldição. Porque, de alguma forma, lutar ao lado dela, estar perto dela, fazia o caos dentro de mim se acalmar.
Helena sorriu, e dessa vez, não era um sorriso de vitória. Era algo mais suave, mais íntimo. E, pela primeira vez, eu senti que talvez, só talvez, o amor não fosse uma fraqueza.
Talvez, lutar ao lado de alguém pudesse ser a coisa mais forte de todas.