A morte sempre soou algo normal para mim e nunca nem sequer pensei em perder alguém, pois eu nunca tive, até agora. Eu me encontro em uma ponte vazia e escura, frente ao maior lago da cidade, analisando a morte de perto e encarando a escuridão abaixo de mim — eu sou um monstro, de fato o mundo estaria melhor sem mim — balanço as pernas ao ar livre, sentindo um frio enorme abraçar meu corpo. Aqui é tudo tão calmo e silencioso, até me faz refletir se essa talvez não seja a tal paz que a morte traz. Meu peito dói ao olhar para baixo e ver, em meio à escuridão, seu rosto feliz e delicado. Encaro as estrelas e sorri instantaneamente — não me julgue, princesa, por você eu iria ao inferno. Se eu pular, vai ficar brava? — Minha pergunta não tem uma resposta concreta, mas já sabia o que ela diria — claro que você vai! — afirmo, observando o grande lugar. A ideia de pular era tentadora, mas não a faria, seria perda de tempo, eu não encontraria meu passarinho e piorou meu filho, ele não tinha nem sequer vindo ao mundo, era um anjinho. Eu não chegaria onde eles estão, meu castigo será não vê-los novamente nem na eternidade — sorri ao imaginar seu pequeno rostinho, um neném lindo, uma mistura nossa. A imagem de Lorry com a barriga grande e vestidinho de grávida faz meu coração disparar.— Grávida, meu amor? Você de fato estava grávida? — Minha voz falha em desespero, sabendo que perdi os dois — seu teste de sangue deu positivo, acho que nem você sabia... ou sabia? — Abraço minhas pernas e nego — não, acho que de fato não — apanho a caixa de cigarro em meu bolso, prendendo um entre os dentes, acendendo a ponta e dando uma grande tragada. O ar quente gostoso preenche meus pulmões, aliviando um pouco, mesmo assim as lágrimas não cessam. Voltei a fumar com frequência agora, não estou suportando ficar um só dia sem essa merda na qual nem vejo sentido, porém não solto, é o que me alivia. É o fundo do poço saber que a porra de uma fumaça quente que, com certeza, vai me matar mais cedo é o que me acalma no momento.
Fito as luzes dos postes da cidade ao longe, as estrelas brilhantes e grandes vagando pelo ar, pintando um quadro bonito sobre a cidade. Solto a fumaça, tornando ao meu redor uma sauna. Trago mais uma vez e inclino a cabeça para trás, soltando fumaça para o alto — não, Henrique, isso é muito baixo, até para você — balanço a cabeça em negação de meus próprios pensamentos intrusivos, que insistem para que eu me jogue. Isso acabaria com as malditas vozes, mas não traria a minha paz de volta.
— Eu não vou a lugar nenhum com você... seu desgraçado... Criança maldita... Henrique, vim te buscar... compreende minha dor agora... papai?... te peguei, pestinha... monstro... Henrique, me ajuda...ore! " — aperto meus punhos fortemente.
— Faz parar, faz parar, por favor, vida... — sinto meu ar faltar novamente, enxergando seu rosto em meio ao escuro, como se iluminasse tudo.
— Amor, vem cá, não fique longe. — Me chama, no fundo do abismo.
— Hellory, você me prometeu, princesa, lembra? Não me deixe, que eu não vou te abandonar. Você me deixou, me deixou como todos me deixaram. Eu não admito te perder, você não! — balanço a cabeça, atirando o cigarro lá embaixo. Respiro com dificuldade, sentindo meu peito pesar, trazendo arrependimento consigo, enquanto vejo a pequena luz do fogo que queima a ponta do tabaco desaparecer no breu. Rapidamente pego mais um, incendiando a ponta e enchendo meus pulmões de ar, queimando meu corpo por dentro. Fito a merda do cigarro em minhas mãos e o jogo lá embaixo de novo, em um grito — Merda, por que você não me faz esquecer? — esbravejo, por não funcionar como antes, nada alivia meu estresse — foda-se se é baixo demais até para mim! — rosno, me levanto rapidamente, apanho meu capacete, subindo em minha moto, acelerando ponte afora em velocidade máxima.
Possuo poucas experiências com cocaína e admito que os resultados eram satisfatórios. Não quis insistir nisso, mas agora quero, comprarei uma biqueira inteira se isso me fizer esquecer a dor de perdê-la por um segundo sequer. Vou até a balada mais próxima, estaciono em frente e já vejo pessoas circulando com bebidas. Prendo a respiração ao passar pelos lugares com o cheiro intenso, aquilo me causa nojo. Sem ter que aguardar em uma fila ou algo parecido, dirijo-me a uma das mulheres que liberavam a entrada. Seus olhos se fixam em mim rapidamente e, mesmo sem eu dizer nada, seu olhar se torna bobo, fazendo-me controlar-me para não vomitar.
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My wife
FanfictionHellory vive uma vida dupla, entre a menina perfeita aos olhos de todos e assassina profissional procurada em todo o país. Max, sua personalidade oculta, busca vingança por suas irmãs do convento onde foi treinada, que foram assassinadas brutalmente...