Capítulo 12

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De certo modo é bom saber que há deuses gregos lá fora, porque aí temos alguém para culpar quando as coisas dão errado, por exemplo, quando você está se afastando a pé de um ônibus que acaba de ser atacado por bruxas monstruosas e explodido por um relâmpago, e ainda por cima está chovendo, a maioria das pessoas acha que na verdade isso é apenas muita falta de sorte, mas quando se é um meio sangue, a gente sabe que alguma força divina está tentando estragar o nosso dia, ou tentando nos matar. Então lá estávamos nós, Sabina, Noah e eu, andando pelos bosques ao longo da margem do rio em New Jersey, as luzes de Nova York tornando o céu amarelo atrás de nós e o fedor do rio Hudson entrando por nosso nariz, Noah estava tremendo e balindo, e seus grandes olhos de bode, cujas pupilas haviam se transformado em fendas, estavam cheios de terror.

— Três Benevolentes!! As três de uma vez!!

Eu mesma estava em estado de choque, a explosão das janelas do ônibus ainda ecoava em meus ouvidos

— Vamos! Quanto mais longe chegarmos, melhor – disse Sabina

— Como você pode estar tão calma? Seu pai literalmente tentou nos matar!! – Noah fungou concordando

— Acho que ele pode estar bravo por eu ter me juntado a você

Rir em nervosismo.— Isso é loucura.. você ainda é filha dele.. isso.. isso..

— Está tudo bem Sina – Sabina tentou me acalmar.— E não é como se ele se importasse de qualquer forma – deu de ombros.— Vamos temos que continuar andando

Abri a boca para rebater, mas Noah tocou meu ombro, sinalizando para deixar pra lá. Caminhamos pelo que pareceram horas e não avistamos nenhuma casa para nos abrigarmos da chuva

— Como eu gostaria de um belo taco com queijo agora – Sabina resmungou baixinho

— Todo o nosso dinheiro ficou lá atrás – a lembrei.

— Bem, quem sabe se você não tivesse decidido entrar na briga.. – resmungou

— O que queria que eu fizesse? Que deixasse vocês serem mortos?

— Você não precisava me proteger Sina, eu iria ficar bem

— Fatiada como pão de fôrma – interveio Noah.— Mas bem

— Cale a boca garoto bode – rebateu Sabina.

Noah baliu, triste.— As latas... Uma sacola de latas perfeitamente boa

Dei alguns tapinhas em seu ombro o confortando.— Sinto muito amigão..

Nós caminhamos pelas terras lamacentas, por entre horríveis árvores retorcidas que tinham um cheiro azedo de roupa suja. Depois de alguns minutos, Sabina veio para o meu lado

— Olhe, eu..– sua voz vacilou.— Eu gostei de você ter voltado para nos defender, ok? Aquilo foi realmente corajoso

— Somos uma equipe, certo? – sorrio de lado

Ela ficou em silêncio por mais alguns passos, até falar.— É só que, se você morresse... além do fato de que seria realmente uma droga para você, isso
significaria o fim da missão, e esta pode ser a minha única chance de ver o mundo real, entende?

— Então foi por isso que se voluntariou? – perguntei, suas bochechas coraram, eu deveria me sentir chateada por estar sendo usada, mas achei fofo... E o troféu para a mais trouxa vai para... Sina Deinert

A tempestade havia finalmente acalmado, as luzes da cidade diminuíram atrás de nós, nos deixando em uma escuridão quase total

— Acho que devo me desculpar com você - Sabina disse depois de um tempo.— Eu realmente quero ajudar, mas também queria me sentir livre

A filha de Poseidon | SiyoonOnde histórias criam vida. Descubra agora