Capítulo 11

                                    

                                          
Um fogo estranho queimou em meu estômago, o mais esquisito era que não se tratava de medo, e sim de expectativa com desejo de vingança, Hades tentara me matar três vezes até agora, com a Fúria, o Minotauro e o cão infernal, por sua culpa também Bob se fora, eu estava mais que pronta para enfrentá-lo, além disso, bem lá no fundo tinha esperança de que meu padrasto estivesse preso no Mundo Inferior. Noah estava tremendo, tinha começado a comer cartas de truco pinoche como se fossem batatinhas fritas, meu pobre amigo precisava completar essa missão comigo para obter sua licença de buscador, o que quer que fosse isso, mas como poderia lhe pedir que participasse daquilo, principalmente sabendo que no final eu iria fracassar?
— Olhe, se nós sabemos que é Hades - disse a Quíron.— Zeus ou Poseidon poderiam descer ao Mundo Inferior e fazer rolar algumas cabeças.
— Suspeitar e saber não são a mesma coisa – disse Quíron.— Além disso, mesmo que suspeitem de Hades, e imagino eu que Poseidon suspeite, os outros deuses não poderiam recuperar o raio por si mesmos, Deuses não podem entrar nos domínios uns dos outros, a não ser que sejam convidados, essa é outra regra muito antiga, heróis por outro lado, têm certos privilégios
— Você está dizendo que estou sendo usada, é isso?
— Estou dizendo que não é por acaso que Poseidon a assumiu como filha justo agora, é uma jogada muito arriscada, mas ele está em uma situação desesperadora, ele precisa de você.
Meu pai precisa de mim? As emoções giraram dentro de mim como pedaços de vidro em um caleidoscópio, eu não sabia como me sentir em relação a isso, o único pai que eu conhecera não estava mais aqui. No fundo escolhi o sentimento que deveria ser o correto.. ressentimento, Poseidon não quis, ele simplesmente abandonou a mim e a minha mãe, e agora ele só me reclamara porque precisa que eu limpe seu nome, grande pai...
— Você sabia o tempo todo que eu era filha de Poseidon, não é?
— Tinha minhas suspeitas, como eu disse... também falei com o Oráculo.
Tive a sensação de que havia muita coisa que ele não estava me contando sobre sua profecia, mas percebi que não poderia me preocupar com aquilo naquela hora. Afinal, eu também estava sonegando informações.
— Então, deixe-me entender direito - falei.— Preciso ir para o Mundo Inferior e confrontar o Senhor dos Mortos...
— Confere – disse Quíron.
— Para encontrar a arma mais poderosa do universo..
— Confere – repetiu
— E levá-la de volta ao Olimpo antes do solstício de verão, daqui a dez dias.
— Isso mesmo!
Olhei para Noah, que engoliu o ás de copas.
— Cheguei a mencionar que o Maine é muito agradável nesta época do ano? – perguntou ele de um jeito cansado
— Você não precisa ir – me voltei para ele.— Não posso exigir isso
— Ah...– Ele se balançou de um casco para o outro.— Não.. é só que, os sátiros e os lugares embaixo da terra.. bem...– Ele respirou fundo, depois se pôs de pé sacudindo os pedaços de cartas e alumínio da camiseta.— Você salvou a minha vida Sina... Se... se está falando sério em querer que eu vá junto, não vou te deixar na mão
Fiquei tão aliviada que tive vontade de chorar, embora não achasse isso muito heróico. Noah era o único amigo que eu tive por mais que alguns meses, não sabia muito bem o que um sátiro poderia fazer contra as forças dos mortos, mas me senti melhor sabendo que ele estaria comigo.