37 | O FIM

                                    

                                          
⚠︎ GATILHO: SUICÍDIO
— ALYA TAIWO
Comprei minha passagem para uma longa jornada
Duas garrafas de uísque para o caminho
E eu com certeza adoraria uma doce companhia
E estou partindo amanhã, o que me diz?
Quando eu for embora, quando eu for embora
Você vai sentir minha falta quando eu for embora
CUPS | Anna Kendrick
Você nunca saberá o dia em que vai morrer.
A menos que decida morrer.
Os primeiros raios de sol do dia 3 de janeiro atravessam as cortinas do meu quarto refletindo sobre o meu rosto, fracos o bastante para não esquentar minha pele. Fico feliz que é um dia bonito. Detestaria morrer em um dia feio.
"Preciso levantar". Fico repetindo a mesma frase até que ela perca o sentido. "É meu último dia aqui. Eu posso fazer isso." Adiciono mentalmente. Sou boa em conversar comigo mesma. Essa é uma qualidade que você desenvolve quando não tem alguém disposto a te ouvir. Uma coisa engraçada sobre o suicídio é que as pessoas sempre se questionam acerca de qual eram os pensamentos de quem tira a própria vida no dia do acontecido. Sou capaz de esclarecer essa dúvida agora. Em geral, elas não pensam nada no dia. Os pensamentos perturbadores vêm bem antes.
Levanto. Arrumo minha cama, principalmente porque não quero levar um sermão de Yonta antes das 7 da manhã. Diante dela já arrumada, eu faço uma sequência rápida de cinquenta abdominais. Quando termino, eu repito mais uma vez. Não que importe agora. Ou depois.
São 6 horas em ponto quando minha mãe dá uma batida sutil na porta, menos de um segundo depois, ela pressiona a maçaneta e adentra a cabeça entre o espaço livre. Ela sorri para mim que estou sentada em frente a penteadeira, passando um pouco de blush nas bochechas.
— O café está na mesa, querida. — Yonta soa doce quando diz. — Tenho que ir agora. Te vejo daqui a pouco. — Ela alerta antes de jogar um beijo no ar e desaparecer para o andar debaixo.
Yonta é uma ótima mãe. Até que você tire ela do sério.
Mas, ao longo dos meus dezesseis anos, eu aprendi a esconder dela todas as minhas falhas na tentativa de continuar sendo a filha perfeita para seus olhos. Mesmo que no final, isso não adiantasse muito, tendo em vista a capacidade de Yonta de encontrar defeitos até na mais exímia perfeição. Eu não esperava algo diferente de Yonta.
Como sua primeira filha, eu estraguei sua carreira que estava no ápice. Quando eu nasci, não sei o que ela pensou ao me ver, mas imagino que tenha sido algo como: esta pequena coisa em meus braços é a continuação da minha história. Fui criada como tal. Nunca pude sonhar com nada diferente do que mamãe preparou para mim, nada além do kart, de ser uma pilota renomada. Ela moldou toda a minha vida para ser o que ela gostaria de ter vivido. Como se eu fosse um espelho através do tempo, refletia a própria Yonta Taiwo em sua juventude esplêndida, no entanto sem um bebê para atrapalhar.
Um bebê... Assim que ele me vem a mente, tenho que tomar conta das minhas emoções, para não deixar todas elas ruírem em um choro furioso.
Quando tiram o controle da sua vida, você precisa controlar a de outras pessoas na esperança de sentir que ainda tem o poder sobre algo. Foi o que eu fiz e não me arrependo. Exceto pela parte referente a Josh Beauchamp.