CAPÍTULO 01

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    Há tantas pessoas andando pelo corredor da escola que eu preciso tomar cuidado para não tropeçar em meus próprios pés enquanto sigo em direção ao refeitório. Posso até ser um pouco baixo e magrelo, mas cada vez que recebo uma cotovelada de um engraçadinho que quer andar mais rápido do que a situação permite, devolvo na mesma moeda sem sequer olhar para vem quem é. Uma garota solta um grunhido quando piso certeiramente no seu pé um milissegundo depois de ter recebido um empurrão. Ela ergue o rosto e me encara como se estivesse prestes a me empurrar de novo, então sustento o olhar e tento passar silenciosamente a mensagem de que se ela fazer isso vai acabar com os dedos esmagados.

    Preciso ficar empurrando as armações dos óculos para cima de vinte em vinte segundos para que eles não caiam no chão devido aos movimentos bruscos que faço de forma involuntária. Eu poderia esperar até que todos passassem na frente? Sim, mas isso significaria perder os poucos minutos de intervalo que temos entre as aulas, além de que ser o último na fila da comida definitivamente não é muito animador — já que as melhores opções de lanche acabam em questão de segundos e só ficam coisas ruins.

     Eu quase pulo de alegria quando finalmente chegamos ao refeitório espaçoso e a multidão se dispersa, de modo com que eu possa inspirar profundamente pela primeira vez em um bom tempo. Multidões sempre me deixam um pouquinho enjoado e desorientado por causa dos inúmeros cheiros e feromônios que as pessoas exalam. Com uma simples cheiradinha eu conseguiria saber o que determinada pessoa é. Conseguiria distinguir os feromônios doces — e as vezes até um pouquinho enjoativos — dos ômegas; saberia quem é alfa pelo cheiro imponente e meio desconcertante que seus feromônios exalam; e também poderia saber quem é beta pela forma como seus cheiros são simples como uma brisa fresca. O problema é que em grandes multidões, todos os cheiros se misturam e viram uma espécie de bomba atômica de fedor.

     Pego uma das bandejas de plástico e entro na fila ao lado do imenso balcão que vai de uma parede à outra da cantina rapidamente. O lugar tem aquecedor, mas eu estou com um pouquinho de frio, mesmo que esteja vestindo um suéter cinza que é um pouquinho grande demais para mim — Ele esticou um pouco depois de ser usado e lavado umas três mil vezes —. Felizmente, como cada pessoa segura sua própria bandeja na frente do corpo, há um espaço considerável entre uma pessoa e outra e eu não preciso me preocupar com ninguém sarrando nas minhas costas, principalmente se for algum alfa espertinho.

    Basta que eu olhe para qualquer direção para ver algumas garotas ômegas roçando seus corpos em algumas alfas altos, assim como alguns garotos ômegas também — mesmo que sejam um pouco raros —. É normal sentir vergonha alheia disso? Porque eu definitivamente sinto. Tenho medo de todos acharem que por eu ser ômega, vou ser assim também, oferecendo meu corpo pra qualquer alfa que chegar perto e exalar um pouquinho que seja dos seus feromônios, implorando por um pouco de atenção e por alguém para transar até perder a consciência.

    Tenho 17 anos e a única pessoa que tocou um mim foi...  Eu mesmo. Não porque acho que devo preservar minha virgindade até encontrar alguém que me interesse ou algo assim, mas porque simplesmente não gosto da ideia de ficar com pessoas que sequer conheço. Gosto de ficar sozinho, e se o problema for só aguentar durante os poucos dias do meu cio, posso cuidar disso sozinho sem problema algum.

    Quando a fila anda e finalmente chega a minha vez de escolher a comida, coloco uma maçã, uma caixinha de achocolatado e um sanduíche de pasta de amendoim na bandeja. Nós não precisamos pagar, mas é necessário mostrar o cartãozinho da cantina que comprova que somos alunos, então caminho até o canto do balcão, onde há uma espécie de caixa. Eu tiro o cartão retangular de plástico que possuí o meu nome e uma série de número gravados logo abaixo dele e o entrego para a beta de trinta e poucos anos que está do outro lado do balcão.

     — Otto Benson. Terceiro ano, sala B? — Ela pergunta ao passar o cartão no caixa, alternando o olhar entre meu rosto e a tela do computador, onde provavelmente há uma foto minha.

    — aham. — confirmo, empurrando os óculos de grau um pouquinho para cima e tirando algumas mechas loiras do meu cabelo que estão caindo sobre meus olhos. Quando ela me entrega o cartão de volta, eu o coloco no bolso, pego a bandeja e saio da fila rapidamente.

    Meu olhar recai sobre o imenso refeitório, onde dezenas de mesas estão espalhadas. Algumas delas são quadradas, retangulares e circulares, com cadeiras ou bancos ao redor delas. A maioria já está ocupada por determinados grupinhos. Alfas populares. Ômegas patricinhas. Os inteligentes — geralmente são betas —. E também tem aqueles grupinhos menores que são mistos, sem pessoas populares ou que se encaixem em outra roda de amizades.

    Onde eu me encaixo em tudo isso? Em lugar nenhum, suponho. Eu tenho alguns amigos com quem converso durante as aulas, mas eles tem seus próprios grupinhos, e mesmo que me chamem para fazer parte deles, eu fico um pouco desconfortável com pessoas que não conheço direito, ainda mais quando não fazem questão da minha presença.

    Depois de olhar com mais calma, encontro uma mesinha circular vazia no canto do refeitório, e é justamente para lá que caminho rapidamente antes que outra pessoa sente na única cadeira que há ao lado dela.

    Quando chego até lá, coloco a bandeja em cima dela e sento na cadeira, soltando um suspiro aliviado por não ter precisado ir comer em um dos corredores, sentado encostado nos armários. O lugar em que estou é um pouco calmo e há alguns metros de distância até outras mesas, o que faz eu me sentir minimamente confortável, então começo a comer sem muita cerimônia, sacando o celular do bolso e vendo se há alguma coisa interessante para ver.

     Estou prestes a dar uma mordida na maçã quando sinto uma sensação estranha descer pela minha coluna, como se dedos quentes estivessem roçando por debaixo da minha pele, fazendo a maçã escorregar da minha mão e cair na mesa. Eu arregalo os olhos e olho para trás rapidamente, embora saiba que não vou encontrar ninguém, pois o toque não foi físico e sim uma sensação.

    Meu coração dá um salto desenfreado quando uma presença estranha toma conta da minha mente, como se fosse nova e sempre estivesse estado lá ao mesmo tempo. Um formigamento cruza todo o meu corpo quando sinto a pessoa do outro lado da ligação se dar conta dela também, se sobressaltando junto comigo.

     — N-não. — Digo em voz alta, embora o barulho que ecoa pelo refeitório abafe completamente a minha voz. Isso não pode tá acontecendo comigo!! Não não não não! A pessoa do outro lado está eufórica, como se fosse legal ser ligado à um pessoa que sequer conhece.

    Eu levanto da cadeira apressadamente e começo a andar em passos rápidos até o corredor, tentando disfarçar que estou meio desorientado e olhando para os lados para ver se tem alguém me seguindo. Assim que saio do refeitório e entro no corredor quase deserto, começo a correr com o máximo de velocidade que consigo em direção aos banheiros que ficam do outro lado da escola, ignorando totalmente quando um professor tenta falar comigo e ainda sentindo uma sensação estranha de leveza e formigamento cruzar o meu corpo, como se outra pessoa estivesse interferindo na minha mente à distância.

     Isso não pode tá acontecendo comigo!!

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DOIS ALFAS E EU [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora