O escape room caseiro desenvolvido por Johnny passou milhares de quilômetros longe da área onde aquilo, de alguma forma, daria certo. E, enquanto ele desmontava tudo que havia feito para a "brincadeira", recebeu uma visita inesperada.
Daniel LaRusso não estava em um dos seus melhores dias. Na verdade, aquele era, provavelmente, o pior dia dele em meses.
Johnny não precisou de muito tempo para entender que o colega, ou amigo, não estava nada bem. Principalmente depois de LaRusso começar a gritar e ameaça-lo, tudo porquê ele disse que não o ajudaria com a nova missão para destruir Terry Silver, uma, que assim como as ideias de Lawrence para reconciliar os meninos, não estava nem perto de funcionar.
Daniel estava virado, mal dormira aquela noite. Seu café da manhã foram copos de whisky, e ele só não terminou com uma garrafa inteira porquê Chozen trocou a taça em sua mão pelo café. Mas, após uma conversa com Johnny, LaRusso percebeu que a melhor opção era deixar o caratê de lado e tentar recuperar sua família. Pediu, até mesmo, para Chozen voltar para casa, no Japão. E o asiático, por mais que tivesse dito que faria aquilo, mentiu.
Ele não poderia, de forma alguma, desistir da missão de destruir o Cobra Kai agora. Na casa da frente dos LaRusso morava Akemi Miyagi, a garota que ele considerava sua filha, e que por muito tempo foi a coisa mais importante de sua vida. Veio para Los Angeles para ajudar Daniel, é claro, mas agora que sabia que ela estava ali, não voltaria até ter certeza de que a garota estava segura.
Se recusava a arriscar que a adolescente de quem cuidou por tantos anos voltasse a ser a mesma garota de doze anos, que facilmente pararia em um reformatório se continuasse por aquele caminho.
Chozen precisava deixar Akemi longe do Cobra Kai.
Três toques levemente fortes na porta fizeram com que Johnny se levantasse a caminhasse até ela para atende-la. Sabia quem estava do outro lado.
- Que bom que chegou.
- Por que você me chamou aqui?
Akemi franziu as sobrancelhas, confusa. Lawrence ligara para ela a cerca de meia hora, pedindo para que ela viesse até seu apartamento para resolver um assunto urgente, depois desligou e não deu mais nenhum detalhe. A garota precisou de algum tempo para tomar coragem de levantar da cama e se arrumar para vir, então demorou mais do que Johnny esperava, tanto que ele ponderou sobre ligar de novo e dizer que Robby sofreu um acidente, para saber se ela chegaria mais rápido. Por sorte, ela apareceu antes que ele decidisse fazer a nova ligação.
O homem loiro deu um passo para dentro de casa, se inclinou para pegar algo atrás da porta, depois voltou para perto dela. Segurou o braço de Akemi, a puxando junto dele para o meio do pátio entre os apartamentos. Ergueu o braço, apertando o botão da buzina de pressão azul na mão. O barulho agudo ecoou por todo o lugar por bons segundos. Akemi levou as mãos aos ouvidos, os tampando enquanto gritava para que Johnny parasse com o barulho. As portas dos apartamentos ao redor se abriram, Miguel saiu do seu, Robby do dele, e um homem aleatório que morava no local não parecia muito feliz com o que estava acontecendo.
- Que que ta acontecendo aqui? - perguntou o barbudo.
- Vê se não enche, balofo, se manda. - retrucou Johnny, fazendo com que o homem voltasse para dentro do apartamento. Miguel e Robby aproximaram-se, tão confusos quanto a garota. - E vocês, parados.
- Eu nem sei quantas vezes mais...
- Que saco.
- QUIETOS! - gritou Lawrence, interrompendo as reclamações dos dois.
- Aí, você apertou isso no meu ouvido! - reclamou Akemi, irritada, o encarando, mas sendo completamente ignorada.
- Querem continuar com essa rixa? Ótimo. Pelo menos sejam homens e usem os punhos em vez da boca.
- Quer que a gente faça o que? - perguntou Robby.
- Eu quero que lutem. Sem pontos. Sem tatame. Vocês vão lutar até o problema acabar.
- Como assim? - questionou Miguel. - Agora?
- É a hora e o lugar. Ou era só papo furado?
- Não pra mim. - afirmou Miguel, olhando para Robby, que balançou os ombros.
- Nem pra mim.
- Eu não vou lutar com eles. - afirmou Akemi, ainda confusa por ter sido convidada.
- Não. Você não. - murmurou Johnny. - Você daria uma surra neles. Te chamei pra assistir.
- O que? Eu não quero ver isso. É uma idiotice.
- Cala a boca, mané. - resmungou Johnny, bagunçando o cabelo da garota com um cascudo. - Vocês dois, comecem.
Eles viraram-se um para o outro, posicionando-se. Miguel foi o primeiro a atacar, tendo o soco defendido. Iniciaram, entre eles, uma simples troca de socos que não chegava nem perto de atingir uma o ao outro.
- Que lutinha furreca é essa?
Miguel chutou Robby duas vezes, mas não conseguiu obter nenhum efeito, já que foi defendido.
- Achei que fossem arqui-inimigos. - murmurou Akemi, cruzando os braços.
Eles continuaram a luta, ignorando os comentários da plateia composta apenas por duas pessoas. Durante os ataques, Robby foi atingido no rosto por um chute rodado de Miguel. Agora, o nariz do garoto escorria uma fileta de sangue, o que o deixou nitidamente irritado, já que ele voltara para luta ainda mais agressivo, conseguindo jogar Miguel no chão com uma rasteira.
- Vamo.
Ele chamou pelo moreno, esperando que ele se levantasse. Irritado, Dias levantou e revidou os golpes com dureza, um outro chute atingindo a barriga de Robby e o jogando contra a parede, que o ajudara a retomar o equilíbrio. Toda vez que um deles era atingido, voltava para a briga ainda mais irritado do que antes. Agora, Robby apoiada um dos pés no banco de praça branco encostado na parede para conseguir impulso e pular, rodando a perna direita no ar, que foi de encontro ao rosto de Miguel. Keene não parou de atacar, nem ao menos deu tempo o suficiente para Miguel se recompor. Ele deu outro chute, jogando Miguel contra uma porta, que se abriu no mesmo instante, os levando para uma nova área.
- Ei, ei, escada é fora dos limites! - gritou Johnny, mais uma vez sendo ignorado.
Logo os garotos estavam na pequena varando do segundo andar, onde ficavam outros apartamentos. A porta se abriu e eles caíram no chão, um se esforçando para ficar sobre o outro e obter vantagem.
- Tá bom, já chega, a luta acabou!- Eles não estão parando!
Robby, agora, estava por baixo, levando socos no rosto que não conseguia defender. Finalmente, quando conseguiu revidar, jogou Miguel contra uma das paredes e passou a ataca-lo, mas não demorou muito para que o garoto contra-atacasse. A luta havia ficado mais rápida e consequentemente mais intensa. Os garotos já não olhavam mais para o que havia ao redor, muito menos ligavam para os chamados de Johnny.
- Robby! Miguel! Parem com isso!
- Merda! - murmurou Akemi, correndo para o andar de cima quando viu Miguel pressionar Robby contra o corrimão que os protegiam da queda e ataca-lo com brutalidade, sem dar chances para que ele se recuperasse e começasse a se defender.
Keene caiu no chão, a mão agarrando o corrimão e forçando para se reerguer de novo. Miguel fechou os punhos, os olhos fixos no garoto, que tinha uma expressão assustada no rosto, como se soubesse que o ataque seguinte o derrubaria do segundo andar. Dias gritou, pronto para atacar, as lembranças da luta na escola que por pouco não o deixou permanentemente na cadeira de rodas passando em sua mente, uma atrás da outra.
Antes que ele atacasse, no entanto, um novo rosto entrou em sua visão. Os olhos castanhos claros, o maxilar fino e rígido, os fios do cabelo bagunçados com a corrida que ela precisou fazer para chegar até eles, as linhas de expressões, como sempre, muito demonstrativas, dessa vez com uma mistura de raiva e preocupação.
Akemi estava parada na porta da escada, o coração acelerado, o medo tomando conta.
Não queria que Miguel cometesse o mesmo erro que Robby.
Não queria que Robby passasse pelo mesmo que Miguel.
Dias deu um suspiro, depois outro, enquanto abaixava os braços e recuperava o fôlego perdido na luta. Robby se levantou, a atenção ainda no garoto, nem ao menos havia percebido a presença de Akemi, logo atrás dele.
- Por que você parou?
- Não entrei no caratê pra machucar pessoas. Entrei pra parecer maneiro e encontrar equilíbrio.
- É, eu sei como é.
Johnny também chegou ao segundo andar, parando ao lado de Akemi e observando a conversa dos dois garotos.
- Da última vez que a gente lutou assim, porquê você não parou?
- Eu só queria terminar a luta. Quer dizer, não daquele jeito, eu só queria... Eu fiquei cego. Eu tava com tanta raiva que... eu mal sabia onde a gente tava, cara. Se desse, eu voltaria atrás num segundo. Eu fui a causa do pior momento da sua vida. E se serve de consolo, - Robby virou o rosto, os olhos encontrando-se com os de Akemi, como se não transmitisse aquela mensagem só para Miguel. Virou-se novamente para o moreno, terminando de falar: - também foi o pior momento da minha.
- Serve, sim.
- Então, acabou? - perguntou Johnny, levantando os braços. - Tão de boa?
Miguel deu de ombros em resposta.
- Graças a Deus, porquê se ainda se odiassem quando o bebê chegar...
Ele parou de falar.
- O bebê? - repetiu Miguel. - Como é que é? Tipo, você e minha mãe?
- É, a gente vai ter um bebê. Era pra gente contar junto, então finjam surpresa.
- Ai caramba! - Miguel gritou, sorrindo.
- É, assim mesmo.
- Isso é incrível.
Robby sorriu, aproximando-se do pai e o abraçando. Miguel foi logo atrás dele, tornando um abraço triplo.
Akemi caminhou até eles, pegando a buzina de pressão que Johnny deixara cair no chão e gargalhando ao apertar o botão, assustando os três, que viraram-se para ela.
- Aí, Akemi, para com isso! - gritou Johnny, a voz sendo abafada pela buzina.
- Isso é demais!
Miguel e Robby gargalharam quando viram a garota correr para longe de Johnny, impedindo que ele tirasse a buzina de sua mão. Os dois então iniciaram um tipo de pega-pega pela garagem entre os apartamentos e era evidente que Jonny Lawrence estava perdendo feio para a garota.
- Akemi! Para!.
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Sol & Lua - Cobra Kai - Livro 2
Teen FictionEssa história é a continuação do livro "Sol & Lua - Cobra Kai - Livro 1". Não dá pra ler essa história sem ler a outra antes. Sinopse do Livro 1: Uma mudança repentina de país fez com que Akemi tivesse que se adaptar a um novo local. Vizinha dos L...