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Kei sentia um aperto no peito, além da leve euforia que se alastrava pelo seu tórax e chegava no cérebro, revestindo qualquer pensamento obscuro que ele estava acostumado em ter na sua mente perturbada. Não foi causada por droga, bebida, nada disso, mas ele te olhava dormir.

Sentado na poltrona no canto do seu quarto, ele tinha os olhos fixados no seu peito, subindo e descendo com uma calma que o deixava quase anestesiado. Achava graça que você, de todas as outras pessoas, causavam essa inércia pacífica em seu ser, já que você mesma era um caos sem fim. Tinha muita curiosidade em saber como sua cabeça funcionava, como você enxergava as coisas, o mundo e o que você pensava sobre tudo.

E, principalmente, ele sentia curiosidade em saber o que você pensava sobre ele. Parecia tão feliz a algumas horas atrás, rindo alto e rolando na grama, mas ele queria saber, na verdade, precisava saber se era só com ele. Se aquela risada que fez sua barriga doer era para ele, os sorrisos, as piadas, e ele não queria apenas saber, queria realmente que fossem para ele e dele.

Ele também queria saber o que você pensava normalmente, no dia a dia, nas horas livres, o que vinha na sua mente quando sentia a água do chuveiro cair por todo seu corpo ou quando parava de prestar atenção na fala de alguém, em alguma reunião idiota, ele sempre percebia como você mantinha o olhar neutro, algumas vezes franzia as sobrancelhas e os olhos estacionados em algum lugar aleatório, na maioria das vezes, na xícara de café.

Kei tomou ciência que reparava em você desde quando se conheceram somente hoje. Na realidade, muitas questões escondidas e até desconhecidas por ele foram esclarecidas em sua mente hoje. O porquê dele não ter feito absolutamente nada pra você, afinal, você havia matado um de seus amigos, o comum seria colocar uma bala na sua testa no momento em que pousasse os olhos em você, mas ele não quis.

De começo, foi pelo seu potencial. Era boa demais. Conseguiu matar um dos principais mandantes da máfia, em poucos segundos e ainda conseguiu dar trabalho pra ser achada. Mas ele era Kei Tsukishima, podia fazer, literalmente, qualquer coisa, então, mesmo com as reclamações dos outros Corvos, ele te deixou viva. Ainda a acolheu na própria casa, junto com a irmã e os amigos. Quer dizer... Você tinha potencial para trabalhar para ele, mas você o devia, como se estivesse com uma dívida, só que ao invés de te fazer apenas trabalhar, ele criou um certo vínculo.

Não apenas ele, mas seus amigos e os dele se deram tão bem que o surpreendeu. Ele não havia se aproximado tanto assim, igual os outros, mas as vezes falava com Kuroo, o moreno enchia o saco e fazia algumas piadinhas tão sem graça, mas era divertido na maioria das vezes, mantinha o respeito por Kei, porém, ainda o tratava normalmente, como se ele fosse apenas um colega e Tsukishima gostava disso. Ele preferia que as pessoas mais próximas a ele o tratassem dessa forma mesmo.

Despertou-se dos pensamentos que voavam por todo o tempo que ele estava ali. Você havia caído no sono na grama mesmo enquanto falava, por volta de uma da manhã. Ele te levou ao seu quarto, tirou o biquíni e prendeu os botões da social, só queria te deixar um pouco mais confortável. Colocou o cobertor por cima do seu corpo e sentou ali. O tempo todo intercalava o olhar até a lua pela janela e em você, gostava de como parecia tão calma e serena o tempo todo.

Mas a feição séria não saiu do rosto, ele não gostava do que pensava, da forma que seu corpo reagia e muito menos gostava do que sentia.

Olhou o relógio no pulso, como o seu, mas preto e dourado, e se surpreendeu pela hora, quase três, o tempo tinha passado rápido demais, outra coisa que ele não havia gostado. Levantou com dificuldade pelo cansaço que sempre carregava e saiu do seu quarto em silêncio, se dirigindo à adega no subsolo.

Vazia pelo horário e ele não ter avisado o funcionário de sempre que iria lá. Não importava, só precisava de alguns goles e iria dormir. Pegou um whisky de sempre, colocando em um copo e virando de uma vez, repetindo o processo outra vez, outra, e outra. Era o suficiente, ele não podia deixar qualquer tendência viciosa existente em seu corpo tomar conta, por mais que quisesse a quinta dose, apressou-se para o quarto.

𝐀𝐃𝐑𝐄𝐍𝐀𝐋𝐈𝐍𝐄, kei tsukishimaOnde histórias criam vida. Descubra agora