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Peço desculpas com antecedência. Pela música e pelo capítulo.

"Eu não posso te amar no escuro, parece que estamos a oceanos de distância."

Tenho ficado com um pé atrás.

Fico pensando nas divergências que eu tenho com Harry, e apesar dele sempre estar na minha casa, ele nunca me convidou para ir para a dele. Apesar de me amar entre quatro paredes, ele não parece sentir o mesmo quando está rodeado de pessoas. Apesar de confirmar que está tentando, eu não consigo ver esse esforço com clareza.

Depois do evento no Liam, não tive coragem de chamá-lo para qualquer lugar que fosse público. Tenho medo de sentir novamente  o que senti aquele dia, e não foi uma sensação que eu quero ter que sentir de novo.

As vezes sinto como se falássemos, e falássemos e falássemos, mas no fim, não dizemos nada. Sinto estar em uma corda bamba ㅡ  eu sei que não chegarei ao fim, mas também não sei ao certo quando irei cair.

Ligo meu computador pessoal, deixando o meu profissional de lado por um instante e acesso a sala da terapia que Dr. Antony reservou para a nossa sessão quinzenal. Gosto de marcar nossas consultas à tarde. É uma maneira de tentar me desligar do trabalho, e focar um pouco mais em mim. Coloco o meu fone de ouvido, e batuco os dedos ansiosamente em minha mesa, esperando até ele aparecer na tela.

ㅡ Bom tarde, Louis. ㅡ Sua voz inunda os meus fones de ouvido e ele ajeita a câmera antes de sentar novamente na cadeira atrás de seu corpo.

ㅡ Boa tarde, Dr.

ㅡ Como estamos hoje?

Nessas horas gostaria que nossas sessões fossem feitas só com áudio, já que por câmera ele consegue ler os meus semblantes. Dou um aceno leve com a cabeça e dou um sorriso contido.

ㅡ Não sei. ㅡ Engulo em seco. ㅡ Estou com o coração apertado.

ㅡ E por que está se sentindo assim?

ㅡ Não sei ao certo. ㅡ Digo honestamente. ㅡ Sinto como se estivesse andando em círculos. Eu sinto como se não fosse capaz de chegar a lugar algum.

ㅡ Isso não é bom, Louis. Pra quem não sabe onde ir, qualquer caminho serve. E nem sempre gostamos do que encontraremos no trajeto.

ㅡ Eu estou confuso, Dr. Antony. ㅡ Confesso pesaroso. ㅡ Sinto aquele gelo no coração como se eu só estivesse esperando pelo susto.

ㅡ Isso em relação a qual aspecto da sua vida?

ㅡ É sobre Harry.

ㅡ Você sente que ele está fazendo o esforço suficiente para te provar que ele realmente quer estar contigo?

ㅡ Esse é o problema. ㅡ Bufo frustrado. ㅡ Às vezes sinto que sim, e às vezes tenho certeza que não. Eu não consigo decifrar o Harry. Eu sinto como se eu conhecesse só o que ele me permite conhecer, como se eu só visse a ponta do iceberg.

ㅡ Existe uma fábula antiga sobre a raposa e o leão. ㅡ Ele ajeita os óculos redondos. ㅡ Você conhece essa fábula, Louis?

ㅡ Não.

ㅡ Então eu vou contá-la a você. ㅡ Ele dá uma pausa longa antes de continuar: ㅡ Existia uma raposa presa em seu covil na floresta. Ela estava gemendo de dor por estar doente. O leão daquela floresta ouviu os gemidos e chegou até a porta perguntando como a raposa estava. Quando soube que ela não estava nada bem, ele lhe disse que tinha o poder na língua; se ele a lambesse, logo ela ficaria curada. A raposa de dentro da sua segurança respondeu: não irei abrir a porta, não por duvidar de sua língua, mas por não confiar em seus dentes.

Backfire [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora