⁕Capítulo 10⁕

                                    

                                          

⚠️ Esse capítulo contém: Menção de overdose, menções de sexo, menção de bebidas, menção e de drogas ⚠️
                          
⚠️ A cena escritas na forma itálica indica uma memória⚠️
                          
O mar é uma das paisagens mais apreciadas pelos amantes de praia e até mesmo expedições marinhas. Suas ondas variam entre tamanhos pequenos e grandes dependendo de como está o clima e até mesmo como o mar está reagindo a suas próprias mudanças. Assim como sua beleza é vista para muitos, ele é profundo, e em sua profundidade abriga segredos perigosos jamais vistos. 
                          
Lyra era o vasto oceano. Extremamente profundo e cheio de enigmas que só podem ser decifrados se as pessoas se empenharem para descobrir o que se abriga abaixo do mesmo. Como todo o ser humano, a garota tinha suas inseguranças— por mais que não gostasse de mostrar-las—, e seus traumas. Medos implantados na mente confusa da Deusa, assim como rastros da personalidade da menina que poderiam ser comparados com o de seu pai. Por mais que muitos tentassem mostrar seu brilho, Lyra não conseguia entender seu valor porque não conhecia seu próprio interior. Muitos dizem que quando temos um problema, devemos o cortar pela raiz, mas como cortar pela raiz se você não sabe nem ao menos onde se encontra o caule?
                          
O som da chuva forte batia contra a janela semi aberta do quarto de Lyra. Peter e Laufeyson decidiram que iriam intercalar quem ficaria no quarto principal e quem dormiria no quarto de hóspedes durante as semanas do mês. Os olhos pouco marejados da Deusa foram levados ao seu gato que dormia em seus pés. Às vezes, Lys pensava em se transformar num animal e fugir para a natureza na intenção de não lidar com seus problemas e ser completamente invisível. Sua barriga roncava pelo fato de não ter comido nas vinte horas passadas, porém sua exaustão psicológica e física a impedia de se levantar para ir comer.
                          
De repente, o som de uma batida na porta chama a atenção da morena. A garota torna seu corpo em direção ao som, e a imagem de Ned aparece com uma bandeja com o café da manhã. O moreno com um moletom vermelho entra no comodo com cuidado, fechando a porta com um de seus pés. 
                          
—O que faz aqui?— Lyra diz rouca, se sentando na cama de lençóis claros.
                          
—Vim falar com você.— O jovem afirma, ficando de frente para a cama da mesma.
                          
—E qual é a da comida?— Lys abaixa seus olhos mais uma vez para a bandeja, fazendo com que sua boca salivasse ao pensar no gosto amargo do café entrando em contato com sua língua.
                          
—Peter disse que você não comeu, então vim te trazer isso. Ele saiu faz alguns minutos, então você não vai encontrar ele aqui, caso queira.— O menino de pele parda se senta nos pés da cama, e logo os braços de Lyra se estendem para segurar o objeto com alimento.
                          
Suas mãos fracas seguram na asa da caneca, virando-a brevemente e bebendo o café com leite posto na mesma. Um gemido breve saiu dos lábios da morena ao sentir o gosto que tanto desejava. Seus olhos se abriram mais uma vez, porém como se tudo ao seu redor mudasse assim que seu corpo recebeu o pingo de energia que faltava para poder começar seu dia. As íris claras da menina foram ao encontro dos olhos de Ned, esperando com que ele falasse com ela.
                          
—Peter me disse o que aconteceu ontem, e como tem sido viver com você.— Ned torna seus olhos para um canto vazio do quarto, tentando não manter o contato visual com Lyra.— Ele me disse que está cansado e sobrecarregado com todas as coisas que tem acontecido e que eu deveria falar com você no lugar dele, porque nas palavras dele: "Se eu falar com ela, eu irei sair do controle."
                          
A sobrancelha de Lys curva para cima, analisando cada palavra minuciosamente. Se coração batia mais forte a cada momento onde os flashbacks da noite passada insistiam em parecer em sua cabeça. Os gritos de dor em meio ao choro. O som do vidro estilhaçando no chão, e principalmente, a cara de desgosto e ódio que Parker direcionava para a mesma. Assim que deitou sua cabeça no travesseiro após aquela briga, seu corpo entrou em transe, como se nada daquilo que havia vivido fosse real. Sua vulnerabilidade foi exposta, e com certeza aquilo foi o pior sentimento que sentiu.