Seus olhos inocentes se fixavam em mim enquanto eu rolava a tela do meu Facebook lendo as notícias sobre Aleppo nessa manhã. Coberto com poeira, ensanguentado, atordoado, sentado em uma cadeira laranja brilhante. Um vídeo mostrava o menino tentando limpar o sangue de suas mãos na cadeira, quieto, sem entender o que estava acontecendo ao seu redor.

Uma imagem do vídeo mostra Omran, o menino de 5 anos de idade que foi retirado dos escombros após um ataque aéreo em Aleppo, Síria. 17 de Agosto, de 2016. © 2016 Aleppo Media Centre via Youtube

As imagens de Omran, o menino de 5 anos de idade que foi resgatado dos escombros após um ataque aéreo em Aleppo, na Síria, foram feitas por um jornalista sírio no dia 17 de agosto. Elas me fizeram lembrar da foto de Alan Kurdi, o menino encontrado em uma praia da Turquia no ano passado, cuja imagem chocante serviu como um lembrete sobre tragédia na Síria e o sofrimento causado a seu povo. E agora o vídeo de Omran parece fazer o mesmo para o leste de Aleppo, lembrando o mundo que quase 300.000 pessoas vivem sob o medo constante de ataques aéreos e bombardeios.

A Human Rights Watch documentou ataques aéreos ilegais pela operação militar russo-síria na Síria em áreas civis em Aleppo, fazendo escolas e hospitais fecharem, bombardeando mercados e destruindo lares. A Human Rights Watch analisou fotografias e vídeos do momento do ataque e dos destroços. A análise indica que foram pelo menos 18 ataques com armas incendiárias em áreas controladas pela oposição em Aleppo e Idlib, entre 05 de junho e 10 de agosto. Testemunhas e socorristas nos contaram que ao menos 12 civis ficaram feridos em cinco desses ataques.

Armas incendiárias são armas ilegais que queimam vítimas e dão início a incêndios. Omran não foi o único – a Human Rights Watch entrevistou dezenas de civis sírios feridos por ataques aéreos, incluindo crianças, que foram levados às pressas para o sul da Turquia para receberem tratamento. Alguns perderam membros, outros sofreram hemorragia cerebral, e todos descrevem o choque e o trauma assombroso.

Há seis semanas nenhuma assistência internacional entra no leste de Aleppo, acentuando a crise humanitária dentro da cidade e arriscando fome e doença. A Organização das Nações Unidas estima que pelo menos um terço das pessoas na cidade dependem da chegada de assistência por meio da Estrada Castello, que, segundo funcionários da ajuda humanitária, agora está fechada por conta dos ataques aéreos dos governos sírio e russo.

A Human Rights Watch fez repetidos apelos às partes envolvidas no conflito, inclusive aos governos da Síria e da Rússia, para que tornassem a proteção de civis sua principal prioridade, como parte de suas obrigações sob o Direito internacional. Também temos insistido que os Estados Unidos e a Rússia honrem a promessa feita em 9 de maio, de investigar os ataques na Síria que “levaram a baixas de civis" e divulgar os resultados com a Força Tarefa para o Cessar-Fogo do Grupo Internacional de Apoio à Síria e com o Conselho de Segurança de Segurança. Passaram-se três meses e, no entanto, a Human Rights Watch ainda não tem conhecimento de quaisquer avaliações conjuntas.