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8.0 hrs on record (4.3 hrs at review time)
Early Access Review
Depois de experimentar um bocado de jogos de sobrevivência, parece agora que era esse jogo em específico que eu estava procurando.
Ainda em alfa, o jogo tem muito a oferecer; são apenas dois mapas, não há NPCs, não há nenhum objetivo senão tentar ficar vivo o maior tempo possível, o inventário poderia ser reformulado pra ser menos "listas de coisas" (embora você se acostume com ele). É o que se espera de um jogo em alfa, é um esqueleto de jogo, mas puxa vida, que esqueleto!

O que mais me agrada nesse jogo é como o gameplay e o ambiente andam juntos. É um jogo desafiador (o recorde de dias sobrevividos ainda é menos de dois meses no tempo do jogo), mas não é desafiador como geralmente se entende em jogos single player. Poucas coisas em The Long Dark te matam de uma vez (os lobos. Oh céus, os lobos), mas não há a dicotomia geralmente encontrada nos jogos em que ou você está completamente ferrado ou você está bem. Em The Long Dark, os recursos acabam muito rápido, mas o jogo não recompensa sua falta de habilidade em abrir latas de feijão com uma morte misericordiosa e simples, oh não, você vai passar frio e fome e sede e vai começar a correr no meio de uma nevasca, mal vendo o que há na sua frente, desesperado por uma barra de chocolate, qualquer água não-congelada, um pacote de fósforos para fazer uma fogueira, qualquer coisa. O tempo todo é "se ao menos eu encontrar X, eu posso sobreviver mais umas horas" e aí você encontra, e come, bebe, se aquece... apenas para o tormento começar de novo. Ok, você sobreviveu umas horas, mas agora deve sobreviver mais algumas.

O tempo passa elegantemente no jogo. Ações como construir novas ferramentas e dormir fazem ele avançar mais rápido, mas num geral, ele está em um limbo em que é muito mais rápido que tempo real, mas mais vagaroso do que geralmente ocorre nos jogos. Após fugir de lobos, encontrar uma cabana e, graças a deusa, uma valiosa barra de chocolate, você percebe que todo esforço te fez viver menos de um dia e que chegar ao fim da semana vai exigir muitas barras de chocolate e pernas pra que te quero fugindo de muito lobo.

Dito tudo isso, eu espero que o jogo ainda vá mudar muito. O desafio dos desenvolvedores será constantemente balancear realismo e jogabilidade, especialmente porque o tempo é algo tão vital no jogo, uma vez que dias sobrevividos é a única maneira de marcar seu progresso. Armas se tornam praticamente inúteis após serem usadas menos de 10 vezes; as suas roupas aparentemente derretem do seu corpo em poucos dias (talvez o apocalipse tenha sido causado por um vírus que se alimenta de tecido); na sua luta por sobrevivência e material para fogo, é frustrante não poder quebrar cadeiras e mesas de madeira para conseguir combustível.

E, como dito, ainda é um esqueleto de jogo; depois que você pega um pouco as manhas de sobreviver, o desafio se torna simplesmente fazer a mesma coisa, mas um pouquinho melhor. Assim, essa é uma típica recomendação de jogo em acesso antecipado na medida em que temos algo brilhante e inovador, mas de forma alguma algo como um jogo completo. Certas coisas animam a pensar que os desenvolvedores estão planejando algo pro longo plano; a história pelo jeito será feita em episódios, um novo mapa já foi anunciado e a galeria de atores emprestando suas vozes ao jogo inclui os atores de ambos os Shepards masculino e feminino de Mass Effect e David "kept you waiting, huh" Hayter.

Ah, e sobre os lobos, sim, eles são perigosos, mas também podem ser seus melhores amigos, desde que sua noção de melhor amigo seja alguém que não percebe sua existência, mas que mata outros animais deixando os restos pra você depois que ele vai embora. E se isso não é um melhor amigo, eu não sei o que é.
Posted 28 December, 2014.
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10 people found this review helpful
13.6 hrs on record (6.0 hrs at review time)
Um dos maiores desafios de uma democracia é atacar os ricos e os poderosos, que são "os ricos e os poderosos" pelo motivo de terem as riquezas e os poderes.
Não aqui e é principalmente isso que me impede de recomendar esse jogo.
Eu sou um cara razoavelmente de esqueda, que apóia o bolsa-família, votou na Dilma, coisa do tipo; não sou nenhum comunista, mas quando comprei o jogo pensei, de acordo com meus próprios preconceitos e valores, que gostaria de fazer um país bem paternalista, mas livre e que isso seria um desafio.
Que nada. Talvez eu tenha dado azar de ter apostado em uma boa estratégia logo de cara; balancear as finanças nos primeiros anos para pagar pelo populismo perto da eleição (tudo de modo bem maquiavélico, fazendo tudo de ruim e pouco popular de uma vez e aí fazendo as coisas boas as pouquinhos).
Três termos depois e meu país era incrivelmente rico, tinha todas as redes de segurança social possíveis, o número de religiosos caiu a zero (podemos apenas sonhar), a tecnologia nas alturas, etc etc.; em 12 anos eu fiz minha utopia na primeira tentativa.

Tentei então começar outro jogo colocando a população para se opôr a mim o máximo possível, 0% de socialismo, 0% de liberalismo, 200% de dificuldade. "vou ter que enfiar um bom país goela abaixo dessa gente agora quer eles queiram ou não", pensei, de modo ingênuo. Que nada. Com o DLC de extremismo instalado, não há nenhuma dificuldade em particular em ser extremista, a população aceita feliz e contente que você proíba as pessoas de possuir uma segunda casa ou que você coloque um limite no salário dos CEOs. Atacar sistematicamente os ricos não exige nenhum tipo de galvanização dos socialistas, sindicalistas ou dos pobres em geral. Você simplesmente ataca os ricos, todo mundo ama isso.
A estratégia eternamente funciona. Você aumenta alguns impostos, coloca as finanças em dia, e aí faz o que quiser, desde que seja meio de esquerda, meio democrático.

O problema principal do jogo não é exatamente que ele é injusto em favor da esquerda, mas sim que não há oposição vinda da direita, nem da direita religiosa, nem da direita capitalista, nem da nacionalista, nem de nada que você associe a "direita". Quando a marvada mídia controlada pelos ricos e poderosos decide te atacar, a penalidade na sua popularidade é insignificante. Aí eu decidi mandar os religiosos pro inferno e numa tacada só liberei geral aborto, proíbi geral ensino de criacionismo nas escolas, liberei dorgas (se tivesse a opção de distribuir LSD na entrada de circos pra criançada aproveitar melhor o espetáculo, eu provavelmente faria também), etc e tal; em menos de um ano de mandato, líderes religiosos me chamavam de amoral e corrupto. Agora, isso é uma sentença de morte política, certo? Errado. Eu criei uma nação de ateus muito antes de ser punido por isso.

Do ponto de vista dos meus valores políticos, todo mundo é razoável demais nesse jogo. Ninguém se opõe ferozmente a impostos sobre mansões por conta de uma esperança pamonha de que terá uma mansão no futuro. Não há nenhuma massa de religiosos ou de conservadores que vão se agarrar aos seus valores independente dos resultados; nesse jogo não tem meus parentes no facebook falando sobre "bolsa-esmola", tendo medo do comunismo quando se anuncia voucher para faculdade particular, comparando aborto a assassinato de crianças, daí por diante.

Essa é uma falha crítica desse jogo; democracia tem que ser algo complicado, sujo, irracional, apaixonado; democracia não é uma vitória da razão e do debate (duas coisas que não se consegue nem em guilda de MMO com teus 5 amigos), mas sim um choque de valores e forças onde, espera-se, um tipo de neutralização que forçam as mudanças a serem gradativas e reversíveis. Não há choque nesse jogo, não há sujeira. Todo mundo concorda fácil demais comigo.
Posted 26 December, 2014.
Was this review helpful? Yes No Funny Award
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28.9 hrs on record
Quando eu vi o trailer de Spore pela primeira vez, eu disse a mim mesmo que eu tinha que comprar esse jogo! Cerca de 7 anos mais tarde, eu finalmente cumpri a promessa.
Spore foi um caso extremo de overhype. Eis um jogo que seria The Sims, Sim City, Civilization e MMO tudo junto e de uma vez. Quando o jogo foi lançado, entretanto, veio a realidade. O jogo não era o que ninguém esperava embora, em retrospecto, nenhum trailer ou preview jamais mentiu sobre ele. Todos se animaram pelo jogo por aquilo que eles queriam que ele fosse, mas não importa que o abacaxi mais gostoso do mundo esteja na sua frente se você se animou a semana toda pra comer feijoada.
Ou algo assim.
As críticas a Spore são certíssimas. O jogo é uma coleção de 5 mini-jogos, todos fáceis e rápidos. Não há decisão estratégica em Spore; Os três primeiros estágios do jogo são binários (carnívoro ou herbívoro; predador ou amigável; fazer aliados ou fazer inimigos) com uma opção neutra no meio que na verdade significa fazer um pouco de um e um pouco de outro. Nos dois últimos estágios, a opção neutra é substituída por uma opção econômica.
A skill tree incrivelmente simples recompensa consistência. Ser pacífico te dá vantagens para jogar pacificamente e ser agressivo te dá vantagens para jogar agressivamente.
Não demora para chegar no último estágio, que é basicamente passear pelo universo fazendo nada em particular (uma das expansões introduz missões que são basicamente passear pelo universo fazendo alguma coisa).
Mas eis o segredo para este ser um dos jogos mais agradáveis e, ao seu modo, ambicioso que há hoje em dia: não é um jogo de vencer.
Não há decisão estratégica em Spore; por outro lado, eis um jogo fundamentado em decisões puramente estéticas. Sim, isso é claro no poderoso editor que permite você escolher como sua criatura se parece, como ela se veste, como são suas casas, como é sua nave espacial, seu Papamóvel, daí em diante; mas a grande sacada do jogo (e é para expôr essa teoria megalomaníaca que venho a vós escrever esta análise) é transformar as decisões éticas em, também, decisões estéticas.
Você não escolhe a paz ou a guerra porque esse é o melhor jeito de vencer (todos os jeitos são fáceis de vencer); você não escolhe também porque é certo ou errado, já que o jogo não te julga ou pune ou recompensa em particular por nenhum caminho. Você escolhe paz, guerra ou um pouquinho dos dois, pois faz parte da história que você está contando que esses bichinhos que se parecem assim e se vestem assado sejam guerreiros, diplomatas ou comerciantes. É um jogo sobre evolução e o modo como ele recompensa consistência é um excelente modo de te ajudar a contar uma história coerente.
Will Wright não é Sid Meier; o meu overhype de anos atrás foi precisamente por não reconhecer isso. Spore não é um concorrente de Civilization nem de longe; ele é a expansão de Sim City e The Sims não só em tema, mas também em design: Will Wright não vem pra confundir, ele sempre tenta simplificar. Nenhum jogo de Will Wright se preocupa com o final; todos os jogos dele acabam quando você desencana do jogo e o único traço em comum com Sid Meier é como você começa simples e vai se tornando mais complexo aos poucos.
Spore, de certo modo, é uma resistência tanto a Civilization quanto Sim City nesse aspecto. Cada um dos cinco estágios é uma espécie de soft reset onde você mantém (pois, repito, este é o foco do jogo) as características estéticas de sua espécie, mas te joga em um mini-jogo diferente e praticamente independente dos outros quatro. Toda vez que o jogo começa a se tornar desafiador ou complexo (ou seja, com mais de três opções de ataque/defesa/um-pouquinho-dos-dois), você passa de fase e tudo volta a ser simples.
Mas você não vai gastar suas horas tentando descobrir como diabos invadir aquela cidade. Isso é fácil, você seleciona todos os seus bichinhos e clica no bichinho deles e com um mínimo de bom senso (usar machados ao invés de cornetas, por exemplo) você vence. Todos os equipamentos tem bônus claros e em números pequenos (isso dá 3 social e 1 health; aquilo dá 4 ataque e só), o que quer que você queira fazer você consegue.
Releia e frase acima e você vai descobrir onde está a beleza deste jogo: o que você quer fazer você consegue.
Os poucos desafios dos jogos e as poucas decisões não estão aí como um pedágio que você tem que pagar esforço para prosseguir; eles só estão aí pra te dar uma direção para sua espécie e, no fim, graças a eles, você tem uma história rica e coerente.
E uma nave espacial, o que é bacana também.
Posted 21 December, 2014.
Was this review helpful? Yes No Funny Award
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