"Todos escolhemos nosso próprio caminho, acredite no seu... Não devemos escolher como morrer, e sim como viver a nossa vida."

Passei mais de 75 horas admirando paisagens, jogando as batalhas marcantes, assistindo e revendo cutscenes, apreciando a ambientação dos esconderijos, detalhes em diálogos secundários que incrementam a construção de mundo e da história principal, caçando e derrotando as mais diversas criaturas, tudo que deveria ser apreciado. O carinho que foi deixado pelos desenvolvedores nas mensagens, na história principal e em algumas secundárias enfatizou a qualidade da obra que estava diante de mim, tal qual deveria ser apreciada até nos mínimos detalhes.

Eu fiz questão de ouvir as 181 tracks que estavam disponíveis para salvar as mais marcantes e favoritas. São um dos pontos altos que devem ser citados. Assim como nas músicas do XIV, Soken não deixou de colocar seu coração em cada nota tocada. Um carinho que perpassa um simples trabalho, que inspira a alma do ouvinte com verdadeiras obras-primas. São tracks cirúrgicas, inusitadas em alguns momentos e, com a união de um diálogo incrível, trouxeram-me reflexões e cenas que me arrancaram algumas lágrimas.

O jogo não se intimida em mostrar cenas brutais, o que se torna um ponto em destaque desse Final Fantasy para com toda a franquia. Assim como a energia é leve nos momentos em que deve ser, nos descansos das mais cansativas jornadas de Clive ou em conversas emocionantes, seguidas de linhas tão autênticas quanto conversas reais. Essa composição artística entre os componentes da cena, com a música, vozes, reações, ambientação, enfatiza a qualidade textual, assim como a produção. A complexidade da história é reconhecida pelos desenvolvedores, que disponibilizam artifícios para que esse não seja um empecilho para apreciar a trama como um todo, permitindo que cada período frasal seja integralmente assimilado. Os personagens que compõem esse papel o cumprem primorosamente, assim como os demais em qualidade de escrita, fabulosamente desenvolvidos.

Apesar dos elementos de RPG serem simplórios, é compreensível que seja dessa forma para atrair mais público à franquia. No entanto, mesmo que simples, não deixa de ser aprazível. É um elemento que conversa com a história principal, não apenas em subir de nível ou ganhar mais dano, mas adquirir novas habilidades que permitem modos de jogo distintos um dos outros. Escolher Ramuh e Bahamut para controle de campo, ou Odin e Titan para um combate em curta distância, assim como uma miscelânea sem nenhuma lógica, é perfeitamente permitido e não vai impedir um bom desempenho em batalha ou, mais importante, a diversão. Escutar Clive bradar o nome do Dominante escolhido enquanto seus aliados conjuram magias ao seu lado, torna homérica a mais simples das batalhas.

Um game sobre amar, empatia, busca de um propósito e da felicidade. Possuir grandes poderes não o faz isento de responsabilidades tão altas quanto, compreender que a liberdade é uma bênção e uma maldição, livres para sermos únicos, ‘ter e ser’ o mais puro significado da palavra, como também não estar livre de dor e sofrimento é a forma mais evidenciada tanto em Valistea quanto no nosso mundo. Perceber que o ser humano consegue ser tão cego que torna seus iguais como criaturas, descaracteriza o caracterizado. Lições a se perder em um parágrafo. Após fechar a história principal, peguei-me pensando nela, no decorrer da trajetória, a passagem e mensagem de cada personagem, cada acontecimento que eu levarei no meu coração. A ligação que tive com o Clive varia outro texto. Tive a emoção de que tristeza, determinação, raiva, angústia, ego, bondade, felicidade estavam intrinsecamente ligados a quem eu fui, sou e gostaria de ser.

Brevemente, reconheci alguns pontos negativos durante o decorrer do game. Embora as missões secundárias ajudem a inserir o jogador no universo, algumas acabam se tornando monótonas e lentas. Além disso, o desempenho em áreas com muitos NPCs causava uma queda significativa nos frames. Curiosamente, nas batalhas, que exigem maior desempenho, esse problema de queda de FPS não ocorria. Mas nada que prejudicasse a obra como um todo.

A série Final Fantasy tem adotado um novo estilo de jogo, que muitos fãs antigos não apreciaram. Este, com seu foco em Dark Fantasy, mantém os elementos que o tornam um jogo inconfundível da franquia. Seus Eikons e interações bobinhas e engraçadas comunicam ao jogador que este é, sem dúvida, um jogo Final Fantasy. Assim como a vida está em constante evolução, obras criadas em diferentes períodos se adaptam à realidade de seu tempo e devem ser apreciadas com seu devido valor. Da mesma forma, os jogos clássicos da série, que marcaram uma geração, mantêm seu valor intemporal, sendo reconhecidos como verdadeiras obras-primas de sua época e, portanto, merecedores de respeito e apreciação contínuos e mútuos aos atuais.

Difícil tangenciar o quão esse game se tornou especial para mim, um sentimento completamente inesperado e magnânimo. Dissertar sobre isso traria um texto muito mais pessoal do que eu gostaria de apresentar aqui. Entretanto, aqui está a minha carta para que você desbrave a aventura que me fez chorar como uma criancinha no final, que criou um abismo de felicidade e tristeza na minha alma e ocupou a minha mente com raciocínios e pensamentos. Assim como Clive durante a história recebe suas cartas de agradecimentos, de que provocou a diferença, mudou a vida dos personagens e que fez o que ninguém foi capaz, entrego-vos a minha, uma carta de amor a uma narrativa que marcou a minha vida. Espero que deixem os defeitos de lado e apreciem o que deve ser desfrutado. Dancem com a bela melodia que está diante de sua tela e escolha o seu próprio caminho, acredite nele. Afinal, devemos escolher como viver nossa vida, e não como morrer.

Nota: 9/10