Eu não poderia começar a contar essa história sem, antes, traçar com palavras o caminho que essas terras fizeram.

No princípio de tudo... havia apenas sombra.
O solo não tinha forma, pois nunca sentiu o peso de algo sobre ele.
O horizonte era monótono, como em uma cor só. Tons de cinza pintavam a paisagem que se misturavam com as próprias sombras, ainda mais cinzas.
Mas então veio o fogo. E o fogo trouxe consigo disparidade. De dentro do fogo, o primeiro grito foi ouvido.
O corpo do primeiro ser vivo queimava dentro das chamas. Assim que consciente, correu para fora da brasa e se deparou... com a escuridão.
Essa é a história do primeiro Lorde.
Da primeira chama, se resvalou o Pai Asriel. Eventualmente, o fogo de seu corpo deixou de queimar e deu lugar à um semblante cinzento, como se fosse a própria cinza que a chama deixa para trás ao ir embora.
O Pai cinzento logo descobriu que a escuridão não lhe confortaria, pois era um ser de luz. E com a luz do primeiro fogo, expulsou as sombras.
Levou consigo, então, a primeira chama. Deixando para trás, como de costume, as cinzas e brasas do fogo.
Daquela penumbra... Vieram os primeiros humanos, tão facilmente esquecidos.
Enquanto isso, o Pai Asriel domava a superfície da terra desconhecida brandando sua luz, impiedosa que cortava o próprio escuro ao meio, fazendo caminho para que os raios de luz passassem.
Eventualmente, o pai cinzento fundou sua cidade, mas agora havia um novo mal, tão assombroso quanto as sombras.
O Pai Cinzento sentiu... solidão, em sua forma mais verdadeira.
E, bom, nós o chamamos de "pai" por um motivo.
O Pai Cinzento despedaçou o próprio fogo que o dava vida para criar criaturas menores que ele.
Estes são os filhos da primeira chama.
Cada um desses filhos criou seu próprio reino. Foram-lhes concedidos títulos e dominância sobre cada aspecto da vida, exceto a vida em si, pois esta já tinha um Rei.
Três filhos escolheram três aspectos.
O primeiro, escolheu a morte.
O segundo, escolheu a justiça.
O terceiro, escolheu o tempo.
A harmonia entre estes é que tece a história da existência até hoje.
Porém, não há história sem crise.
O fogo tem várias propriedades interessantes... Em síntese, ele queima e dá luz.
Mas tudo que queima, eventualmente apaga.
Então o Reino construído por sobre o fogo era ameaçado pelo próprio fogo. Sem fogo, não haveria luz e, sem a luz, não haveriam deuses.
Desde a primeira tremulação do fogo, incontáveis soldados cedem seus corpos como combustível à chama primordial, à fim de que ela queime por, pelo menos, mais um pouco de tempo.
As cinzas que adornam o chão da fornalha são resquícios de esperança dos deuses.
Mas é em tempos de crises que nascem os heróis e seus gênios.
Mesmo assim... é como dizem. Não existe genialidade sem um pouco de loucura.
Mesmo em seus tempos mais dourados, o reino dos Deuses ainda assistia aquele horizonte nebuloso todos os dias.
A escuridão sempre estava logo ali, os encarando, como em desafio.
Foi então que o Grande Pai teve uma ideia, nascida de loucura ou genialidade.
E se ele conseguisse fazer com que o fogo queimasse para sempre e, ao mesmo tempo, fazer com que sua luz toque até mesmo os confins do horizonte?
Desde que essa ideia acordou na mente do primeiro Lorde... ela nunca mais dormiu.
E se essa ideia não dormisse... Quem a pensava também não dormiria.
No meio desse devaneio a mente do Pai Cinzento tocou no maior mistério de sua existência:
Sua existência em si.
O que deu vida a ele? Ele não descansaria até saber...
Então os Deuses se reuniram e pensaram num plano:
Eles abririam o corpo de Asriel para descobrir o que queima dentro dele, então o trariam de volta dos mortos para que continuasse governando.
Enfim chegara o dia em que o tecido do mistério seria incinerado pela chama da ciência...
O que eles não sabiam é que eles não eram as únicas fontes de poder nesse universo.
Quando os três filhos de Asriel abriram o corpo de seu pai encontraram um orbe de fogo que, aparentemente, queimaria para sempre.
A resposta de tudo, a solução de tudo.
Ansiosamente, o primeiro filho, usando o poder sobre a morte que lhe foi dado, devolveu a vida ao pai.
E foi aí que o reino dos Deuses desmoronou.
O primeiro filho tinha regência apenas sobre a morte... Ao ♥♥♥♥♥ a morte de seu pai, devolvendo-lhe a vida, traiu seu próprio aspecto. O primeiro filho se tornou cinza que o vento, então, assoprou.
Quando a cinza do corpo do primeiro filho tocou o chão o segundo filho, defensor da justiça, também sentiu sua pele se despedaçando.
Como ele poderia concordar em devolver a vida de seu pai... Mas observar outras criaturas morrerem de longe sem ajuda-las, também?
Asriel abria seus olhos para encontrar seu terceiro filho chorando as lágrimas do tempo, apagando a brasa dos resquícios de seus irmãos.
Essas lágrimas que o senhor do tempo derramou fizeram com que ele perdesse o foco por um minuto apenas... e então, um minuto se perdeu.
Agora, o corpo do terceiro filho também se despedaçava na frente dos olhos de seu pai, que não suportava mais a dor.
O mistério havia sido revelado: o que deu ao Primeiro Lorde o poder de criar vida foi a chama inextinguível que carrega dentro de si.
Em agonia, Asriel rasgou seu peito com as próprias mãos, agarrou o orbe de fogo e o jogou aos céus apenas um instante antes de seus músculo cederem, pois foram desfeitos, também.
Essa é a história do primeiro nascer do Sol.