História da Mitologia/XXIX
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As Aventuras de Ulisses[editar]As aventuras de Ulisses, Os comedores de Lótus, Ciclopes, Circe, Sereias, Cila e Caríbdis, Calipso O Retorno de Ulisses[editar]O romântico poema da Odisseia será agora o alvo de nossas atenções. Ele narra as aventuras de Ulisses (Odisseu em grego) ao retornar de Troia para o reino de Ítaca. De Troia os navios fizeram o primeiro desembarque em Ísmaro, cidade dos Cicones, onde, num conflito com os habitantes, Ulisses perdeu seis homens em cada navio. Partindo desse porto, foram surpreendidos por uma tempestade que os arrastou durante nove dias por mar adentro até que chegaram ao país dos comedores de Lótus. Aí, depois de conseguirem água, Ulisses mandou que três de seus homens descobrissem quem eram os habitantes. Estes homens, ao encontrarem os comedores de Lótus, foram cordialmente recebidos por eles, que até lhe chegaram a oferecer alguns alimentos para comer, algumas amostras de lótus. O efeito deste alimento foi tão devastador que aqueles que experimentaram o lótus se esqueceram completamente de casa e desejaram permanecer nesse país. Ulisses teve de usar sua força para convencer seus homens, sendo até mesmo obrigado a amarrá-los sob as bancadas dos navios. O poeta Alfred Tennyson (1809-1892) em seu poema "Comedores de Lótus" expressou com muita beleza a sensação de languidez e encantamento, que a ingestão de lótus dizem ter produzido. "Como era delicioso, ouvir a água correndo Foram em seguida ao país dos Ciclopes. Os Ciclopes eram gigantes, que habitavam uma ilha de quem eram os únicos donos. O nome ciclope quer dizer "olho redondo," e estes gigantes eram assim chamados porque eles tinham apenas um olho, que ficava localizado no meio da testa. Eles moravam em cavernas e se alimentavam de plantas silvestres, as quais eram produzidas na ilha, e do que seus rebanhos forneciam, pois eles eram pastores. Ulisses havia deixado ancorado seus principais navios, e fazendo uso de um deles foi até a ilha dos Ciclopes em busca de suprimentos. Desembarcou com seus companheiros, e levou com eles uma botija de vinho como presente, e chegando numa enorme caverna, entraram nela, e não encontrando ninguém dentro, começaram a examinar o seu interior. Eles a encontraram repleta de produtos fornecidos pelo rebanho, grandes quantidades de queijo, baldes e tigelas de leite, cordeiros e cabritos em suas baias, tudo muito bem organizado. Nesse instante, entra o dono da caverna, Polifemo, carregando um enorme feixe de lenha para fogueira, que foi logo jogada na entrada da caverna. Em seguida, empurrou para dentro da caverna ovelhas e cabras para serem ordenhadas, e, depois que entrou, rolou para a boca da caverna uma pedra enorme, a qual vinte bois não conseguiriam arrastar. Então, ele se sentou e começou a ordenhar as ovelhas, separando uma parte para fazer queijo, e pondo o resto de lado como sua bebida habitual. Depois, girando seu grande olho, vislumbrou os estranhos, e rosnou para eles, perguntando quem eram eles, e de onde vinham. Ulisses respondeu com a maior humildade, dizendo que eles eram gregos, e que estavam voltando da grande expedição que ultimamente havia trazido tanta glória na conquista de Troia, e que eles estavam agora retornando para casa, e concluiu implorando a hospitalidade do gigante em nome dos deuses. Polifemo não se dignou responder, mas, esticando a sua mão, pegou dois dos gregos, a quem ele arremessou contra as paredes da caverna, estourando-lhes a cabeça. Começou então a devorá-los para seu grande deleite, e depois da deliciosa refeição, estendeu-se no chão para dormir. Ulisses desejou aproveitar a oportunidade e mergulhar nele a sua espada enquanto dormia, mas lembrou-se de que isso iria expô-los ainda mais à destruição, mesmo porque a pedra com a qual o gigante havia fechado a entrada era muito pesada para ser removida por eles, e portanto ele ficariam presos sem nenhuma chance. Na manhã seguinte o gigante pegou mais dois dos gregos, e os devorou da mesma maneira como havia feito com seus companheiros, deleitando-se com sua carne até que nenhum fragmento houvesse restado. Ele então, removeu a pedra da porta, colocou para fora o seu rebanho, saindo, em seguida, colocando cuidadosamente o obstáculo depois que saiu. Depois que ele saiu, Ulisses pensou como ele poderia vingar seus amigos que tinham sido mortos, e realizar a fuga com seus companheiros que sobreviveram. Ele mandou que seus homens preparassem uma haste de madeira enorme cortada pelo Ciclope para servir de cajado, a qual eles tinham encontrado dentro da caverna. Eles afinaram a extremidade da madeira, temperando-a no fogo, escondendo-a depois sob a palha do chão da caverna. Então, quatro dos mais corajosos foram escolhidos, com quem Ulisses se juntou para formar um grupo de cinco. O Ciclope chegou em casa à noite, rolou a pedra de entrada e fez o rebanho entrar como de costume. Depois de ordenhá-los e se preparar como fazia sempre, ele pegou mais dois dos companheiros de Ulisses, esmagou-lhes o crânio, e com eles fez o seu jantar, assim como tinha feito com os outros. Depois que tinha ceado, Ulisses se aproximou dele e lhe entregou uma cuia com vinho, dizendo, "Ciclope, isto é vinho, prove e beba depois da tua refeição com carne humana." Ele pegou a cuia e bebeu, e ficou imensamente satisfeito com a bebida, pedindo mais. Ulisses o serviu novamente, e isso agradou tanto ao gigante que este lhe prometeu, como favor, que Ulisses seria o último a ser devorado. Em seguida, perguntou seu nome, ao que Ulisses respondeu, "Meu nome é Ninguém." Depois da ceia o gigante se deitou para repousar, e em pouco tempo caiu no sono. Então, Ulisses, com os quatro amigos que havia escolhido, lançou a extremidade da haste sobre o fogo até que tudo estivesse incandescente, depois, posicionando-o exatamente em cima do único olho do gigante, enterraram-na profundamente na entrada, girando continuamente assim como um carpinteiro faz com seu arco de pua. O monstro uivava e seus gritos se espalharam pela caverna, e Ulisses junto com seus auxiliares saíram da frente do gigante e se esconderam na caverna. Ele, aos berros, gritava em voz alta para todos os Ciclopes que habitavam a caverna nas imediações, os que estavam longe e os de perto. Ao ouvirem os seus gritos eles correram até o local, e perguntaram o que de grave havia acontecido com ele para ficar gritando daquele jeito e interromper o sono deles. Ele respondeu, "Oh meus amigos, estou morrendo, e Ninguém me feriu." Eles responderam, "Se ninguém te feriu então, essa foi uma decisão de Jove, e tu deves aceitá-la." E assim dizendo, foram embora, deixando-o se lamentar. Na manhã seguinte o Ciclope afastou a pedra para permitir que o seu rebanho saísse para pastar, mas ficou parado na porta da caverna para acompanhar a saída de todo o rebanho, para que Ulisses e seus homens não fugissem junto com o gado. Mas Ulisses fez com que seus homens colocassem os carneiros do rebanho em fila de três lado a lado, utilizando os vimes que eles encontraram no chão da caverna. Um dos gregos ia suspenso no carneiro no meio dos três, sendo assim protegido externamente pelos carneiros que ficavam de lado. Quando eles passavam, o gigante tocava as costas e as laterais dos carneiros, mas nunca tocava a barriga dos carneiros, então, todos os homens saíram sãos e salvos, sendo Ulisses o último a sair da caverna. Quando eles estavam à alguma distância da caverna, Ulisses e seus amigos se soltaram de seus carneiros, levando uma boa parte do rebanho até a costa onde estavam os seus barcos. Rapidamente o rebanho foi colocado para dentro, e assim se afastaram da costa, e quando estavam à uma distância segura Ulisses gritou bem alto, "Ciclope, os deuses bem te recompensaram por teus atos abomináveis. “Saibas que deves a Ulisses tua perda vergonhosa da visão." O Ciclope, ao ouvir isto, pegou uma pedra que se projetava na lateral da montanha, e arrancando-a das encostas, levantou-a no ar, e então, exercendo toda sua força, arremessou o rochedo na direção da voz. O projétil caiu pesado, esvaziando a popa do barco. O oceano, ao ser varado por tão assustador rochedo, arremessou o navio em direção à terra, de modo que ele por pouco escapou de ser engolido pelas ondas. Quando eles haviam escapado da costa com a maior dificuldade, Ulisses se preparou para saudar o gigante novamente, mas seus amigos lhe imploraram para que não fizesse isso. Entretanto, ele não conseguiu deixar de fazer com que o gigante soubesse que o rochedo não os havia atingido, mas esperou até terem alcançado uma distância mais segura do que antes. O gigante retribuiu com maldições, mas Ulisses e seus amigos remaram com mais força, alcançando logo seus companheiros. Em seguida, Ulisses desembarcou na ilha de Éolo. E a este monarca Júpiter havia confiado o domínio dos ventos, soprando-os com força ou retê-los de acordo com a sua vontade. Ele tratou Ulisses com hospitalidade, e em sua partida o rei ofereceu a ele, fechado num pacote de couro, amarrado com fios de prata, ventos tão poderosos que poderiam ser danosos e perigosos, ordenando que os bons ventos conduzissem os barcos para o seu destino. Durante nove dias viajaram levados pelo vento, e durante todo esse tempo Ulisses permanecera no comando, incansavelmente. Finalmente, estando totalmente exausto, deitou-se para dormir. E enquanto dormia, a tripulação começou a discutir sobre o pacote misterioso, e concluíram que ele deveria conter tesouros oferecidos pelo hospitaleiro rei Éolo ao seu comandante. Tentados a garantir uma parte para si próprios, soltaram as amarras, e os ventos imediatamente começaram a soprar forte. Os navios foram desviados de seus cursos, e estavam retornando para a ilha de onde eles tinham acabado de sair. Éolo ficou tão indignado com a loucura que haviam cometido, que se recusou a continuar a ajudá-los, e eles foram obrigados a retomar o curso do navio mais uma vez somente com o uso dos remos. Os Lestrigões[editar]A próxima aventura aconteceu com as tribos bárbaras dos lestrigões. Todos os barcos entraram no porto, atraídos pela paisagem segura da enseada, totalmente protegida por terra, apenas Ulisses ancorou seu barco do lado de fora. Assim que os lestrigões perceberam que os barcos estavam totalmente em seu poder, estes os atacaram, lançando pedras enormes que se despedaçavam, derrubando-os, e com suas lanças atacavam os marinheiros que se debatiam nas águas. Todos os barcos com suas tripulações foram destruídos, com exceção apenas do barco de Ulisses, que havia ficado do lado de fora, e percebendo que não tinham segurança, exceto se fugissem, exortou seus homens para que remassem vigorosamente, e assim conseguiram escapar. Tomados de pesar pela morte dos companheiros ao mesmo tempo em que se rejubilavam por causa da fuga, eles prosseguiram viagem até que chegaram à ilha Ea, onde morava Circe, a filha do sol. Aí desembarcando, Ulisses subiu uma montanha, e olhando ao redor, não viu nenhum sinal de habitação, com exceção de um local no meio da ilha, onde ele avistou um palácio cercado de árvores. Mandou metade da sua tripulação, sob o comando de Euríloco, para verificar, que chance de serem bem recebidos, eles poderiam ter ali. E a medida que se aproximavam do palácio, foram imediatamente cercados por leões, tigres, e lobos, não ferozes, mas, domados pelos encantos de Circe, pois que era uma poderosa feiticeira. Todos esses animais anteriormente tinham sido homens, porém, transformados pelos encantamentos de Circe na forma de animais. Tons de música suave eram ouvidos do lado de dentro, e uma voz feminina que cantava. Euríloco chamou em voz alta e a deusa apareceu convidando-os para entrarem, todos entraram felizes com exceção de Euríloco, que desconfiava de algum perigo. A deusa convidou seus hóspedes para que sentassem, e mandou servir para eles vinho e outras guloseimas. Depois que tinham se divertido bastante, ela tocou todos eles, um a um, com sua varinha mágica, e eles foram imediatamente transformados em porcos, com "cabeça, corpo, voz, e cerdas," muito embora conservassem a inteligência de antes. Ela os prendeu em seus chiqueiros e forneceu a eles algumas bolotas, e muitas outras coisas que os suínos adoram. Euríloco correu rapidamente até o navio e contou o acontecido. Ulisses então, decidiu ir ele mesmo, e tentar de alguma maneira a libertação de seus companheiros. Assim que ele caminhava sozinho, encontrou um jovem que com aspecto familiar, parecendo ser conhecedor de suas aventuras. Ele se apresentou como sendo Mercúrio, e informou a Ulisses a respeito da feitiçaria de Circe, e sobre o perigo de se aproximar dela. Como Ulisses jamais desistiria de seus planos, Mercúrio deu a ele um ramo da planta Moly[1], com poderes mágicos para resistir à feitiçaria, e ensinou a ele como devia fazer. Ulisses continuou, e chegando ao palácio, foi gentilmente tratado por Circe, que o recebeu como ela havia feito com seus companheiros, e depois que ele tinha comido e bebido, tocou nele com a varinha mágica, dizendo, "Vai, procura teu chiqueiro e vai chafurdar junto com teus amigos." Mas ele, ao invés de obedecer, sacou da espada e se atirou contra ela com fúria no semblante. Ela caiu de joelhos e pediu misericórdia. Ulisses fez um juramento solene para que ela libertasse seus companheiros e não fizesse mais maldade contra ele, nem contra seus amigos, e ela repetiu o juramento, e ao mesmo tempo, prometeu soltá-los todos em segurança depois de recebê-los com hospitalidade. Ela foi fiel à sua promessa. Os homens retomaram as suas formas, o resto da tripulação que estava na costa foi chamada, e todos foram magnificamente tratados durante vários dias, até que Ulisses parecia ter esquecido sua terra natal, e ter-se conformado com uma vida inglória de facilidades e prazeres. Pouco a pouco, seus companheiros fizeram com que ele recordasse seus sentimentos mais nobres, tendo ele recebido a advertência com gratidão. Circe ajudou durante a partida, e ensinou a eles como atravessar com segurança a costa das sereias. As sereias eram ninfas do mar, que tinham o poder de encantar, com suas canções todos os que parassem para ouvi-las, de modo que os infelizes marinheiros eram irresistivelmente impelidos a se lançarem ao mar onde acabavam mortos. Circe orientou Ulisses para que ele enchesse os ouvidos de seus marinheiros com cera, para que eles não ouvissem a canção, e para que ele se amarrasse ao mastro do navio, e seus homens fossem estritamente orientados para que de modo algum deveriam soltá-lo, diante de qualquer coisa que ele dissesse ou fizesse, até que tivessem passado a ilha das sereias. Ulisses obedeceu estas orientações. Ele encheu os ouvidos de seus homens com cera, e permitiu que eles o amarrassem firmemente com cordas ao mastro. Quando eles se aproximaram da ilha das sereias, o mar estava calmo, e acima das águas bailavam as notas musicais tão arrebatadoras e atraentes que Ulisses lutou para se soltar, e gritando e fazendo sinais para os seus homens, ele implorou para que fosse solto, mas eles, obedientes às ordens que haviam recebido, avançaram em sua direção e o amarraram ainda mais forte. Eles mantiveram o curso, e a música ia ficando mais fraca até que não pode mais ser ouvida, quando com alegria Ulisses deu aos seus companheiros o sinal para que seus ouvidos fossem descerrados, e então, eles o soltaram de suas amarras. A imaginação do poeta, John Keats (1795-1821), revela-nos os pensamentos que passaram pelas mentes das vítimas de Circe, depois que foram transformados. Em seu poema "Endimião" ele representa um deles, um monarca que foi transformado em elefante, dirigindo-se desta maneira à feiticeira em linguagem humana: "Não reivindico a coroa da felicidade novamente, Ulisses tinha sido avisado por Circe sobre os dois monstros Cila e Caríbdis. Já encontramos Cila na história de Glauco, e nos lembramos de que ela fora outrora uma jovem donzela e que tinha sido transformada num monstro com corpos de serpente por Circe. Ela habitava uma caverna no alto de um penhasco, de onde ela tinha o hábito de lançar para fora seus longos pescoços (pois ela tinha seis cabeças), e e em cada uma de suas bocas ela pegava um homem da tripulação de cada navio que passasse ao seu alcance. O outro terror, Caríbdis, era um redemoinho, quase ao nível da água. Três vezes por dia a água se lançava num abismo assustador, e por três vezes era expelida. Qualquer barco que se aproximasse do torvelinho durante o avanço da maré era inevitavelmente engolido, nem Netuno poderia evitar essa tragédia. Ao aproximar-se do refúgio dos monstros assustadores, Ulisses teve de manter estrita vigilância para encontrá-los. O rugido das águas assim que Caríbdis os engoliu, os alertou à distância, mas Cila de modo algum poderia ser descoberta. Enquanto Ulisses e seus homens assistiam com olhos arregalados o terrível redemoinho, eles não conseguiam manter vigilância ao mesmo tempo contra o ataque de Cila, e o monstro, lançando suas cabeças de serpentes, agarrou seis dos seus homens, e, com guinchados estridentes, levou-os até seu esconderijo. Era a cena mais aterradora que Ulisses já tinha assistido, ver seus amigos sacrificados dessa maneira e ouvi-los gritando, sem sequer poder oferecer-lhes alguma ajuda. Circe também o havia alertado de um outro perigo. Depois de passar por Cila e Caríbdis a próxima terra que ele deveria atravessar era a Trinácria[2], uma ilha, onde o gado de Hipérion, o deus sol, costumava pastar, vigiado por suas duas filhas Lampécia[3] e Faetusa. Aqueles rebanhos não poderiam ser profanados, quaisquer que fossem as necessidades dos viajantes. Se essa determinação fosse transgredida, a destruição certamente cairia sobre os ofensores. Ulisses preferiria ter passado a ilha do Sol sem ter de fazer uma parada, mas seus companheiros tanto lhe imploraram por descanso e repouso que seriam auferidos com um dia de ancoragem, passando a noite no litoral, que Ulisses concordou. No entanto, fez com que eles prometessem que não tocariam nenhum dos animais que faziam parte dos rebanhos e manadas sagrados, mas que se contentassem com as provisões que ainda restava daqueles suprimentos que Circe havia colocado a bordo. Enquanto estes suprimentos duraram, as pessoas conseguiram manter o juramento, porém, ventos contrários os detiveram na ilha durante um mês, e após consumirem todo seu estoque de provisões, foram obrigados a contar com os pássaros e peixes que eles conseguiram pegar. A fome começou a oprimi-los, e finalmente um dia, quando Ulisses precisou se ausentar, eles mataram alguns dos gados, e inutilmente tentaram reparar o mal que fizeram, ofertando uma parte do gado às potencialidades injuriadas. Ulisses, ao retornar à costa, ficou horrorizado ao perceber o que seus homens haviam feito, e mais ainda por causa dos indícios agourentos que se seguiram. As peles rastejavam pelo chão, e os pedaços de carne mugiam nos espetos enquanto eram assados. O vento se tornou favorável e eles partiram da ilha. Eles não haviam se distanciado muito quando o tempo mudou, e uma tempestade com trovões e relâmpagos se iniciou. Um relâmpago explodiu no ar quebrando o mastro, o qual, com a sua queda matou o piloto. De repente o próprio navio ficou totalmente destruído. A quilha e o mastro flutuavam lado a lado, Ulisses fez com eles uma jangada, onde ele se agarrou, e, com a mudança do vento, as ondas o levaram à ilha de Calipso. Todo o resto da tripulação pereceu. A alusão seguinte aos tópicos que acabamos de considerar são encontradas no poema "Comus" de John Milton, linha 252: "... Vi muitas vezes Cila e Caríbdis ficaram muito conhecidos, quando simbolizam perigos opostos que afligem o destino de alguém. Calipso era uma ninfa do mar, cujo nome diz respeito a inúmeras classes de divindades femininas de nível mais baixo, embora compartilhem muitos dos atributos dos deuses. Calipso tratou Ulisses com hospitalidade, recebeu-o com magnificência, apaixonou-se por ele, e desejou retê-lo para sempre, conferindo-lhe imortalidade. Mas ele persistia em sua decisão de voltar para o seu país, sua esposa e seu filho. Calipso finalmente recebeu ordens de Jove para libertá-lo. Mercúrio trouxe a mensagem para ela, encontrando-a em sua gruta, que é assim descrita por Homero: "Uma videira de jardim, luxuriante por todos os lados, Calipso, com muita relutância, decidiu obedecer as ordens de Júpiter. Ela forneceu a Ulisses os meios de construir uma jangada, deu-lhe as provisões que ele precisava, além de ventos favoráveis. Durante muitos dias fez a sua viagem com relativa tranquilidade, até que finalmente, ao avistar terra, uma tempestade o visitou quebrando o mastro, e ameaçando fazer em pedaços a jangada. Nesse clima de desespero, ele foi avistado por uma piedosa ninfa do mar, que na forma de um cormorão pousou em sua jangada, e o presenteou com um cinto, e orientava-o para que o prendesse ao peito, pois se ele tivesse que se atirar nas ondas, o cinto o faria flutuar e permitira que ele fosse nadando até a praia. François Fénelon (1651-1715), em seu romance "As Aventuras de Telêmaco" relata-nos as aventuras do filho de Ulisses à procura de seu pai. Dentre os inúmeros lugares a que ele chegou, seguindo as pegadas de seu pai, estava a ilha de Calipso, e, como no caso anterior, a deusa tentou todo tipo de magia para mantê-lo na ilha, chegando até a oferecer-lhe a imortalidade ao lado dela. Mas Minerva, que na forma de Mentor[4] acompanhava o jovem, governando-lhe todos os seus movimentos, fez com que ele rejeitasse todos os seus encantos, e quando ele não encontrou mais maneiras de escapar, os dois amigos saltaram de um despenhadeiro para o mar, e nadaram até um barco que os estava esperando à beira da praia. Byron alude a este salto de Telêmaco e Mentor na estrofe seguinte: "Porém, não em silêncio atravessam as ilhas de Calipso, Notas e Referências[editar]
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