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Controle do fogo pelos primeiros humanos

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Introdução (a ser escrita)

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Origem e primeiras evidências de uso do fogo

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Fogo em um poço, demonstrando o pleno domínio do fenômeno para uso humano

O fogo, embora seja um fenômeno natural, atualmente, pode ser obtido tanto de maneira natural como artificial. Há milhares e milhões de anos atrás, no entanto, o uso de fogo era obtido eventualmente, principalmente em tempestades em que relâmpagos atingiam certos ambientes e provocavam incêndios[1]. Em eventos como esse, muitos animais reagiam a essa forma de emancipação de energia se afugentando, ou mesmo se aproveitando da atividade do fogo, caso de alguns pássaros que caçavam mais eficientemente em momentos como esse, quando suas presas se mostravam aturdidas. No entanto, somente os humanos aprenderam a dominar o fogo e usá-lo em benefício próprio[1].

O uso do fogo pelo homem foi considerado por Charles Darwin a descoberta mais importante da humanidade depois da linguagem e estaria, assim, inteiramente associado a questões de sobrevivência[1] com seu uso se desenvolvendo de maneira gradativa a partir das reais necessidades enfrentadas no ambiente em que os hominíneos viviam[2][1].

Alguns pesquisadores classificam o uso do fogo em três processos integradores: primeiro, para forrageamento; segundo, para cozimento, proteção e uso doméstico e social do fogo; e terceiro, para uso em processos tecnológicos[3] [1]. Tais processos não ocorreram simultaneamente e baseiam-se em hipóteses que embora sejam distintas, não são mutuamente exclusivas, como as da consumo de alimentos que necessitavam ser cozidos em suas dietas, e a hipótese social, associada ao desenvolvimento cerebral dos hominíneos e a importância de suas relações sociais e auxílio mútuo (como para sobrevivência ao frio) com o uso do fogo[4][1].

Primeiras evidências registradas

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Os ancestrais de nossa espécie comumente designados como hominíneos pela comunidade científica, coevoluíram com o uso do fogo. Este processo acompanhou, portanto, as necessidades e o desenvolvimento tecnológico de nossa linhagem, servindo-se como uma ferramenta essencial para o caminho da civilização humana[3][1] . As evidências mais antigas demonstram que há cerca de 1,9 milhões de anos havia comida cozida, embora o fogo provavelmente não tenha sido utilizado de forma controlada até um milhão de anos atras. Novos estudos e o surgimentos de evidências estão auxiliando a traçar o caminho da evolução humana com utilização do fogo como artifício essencial em seu aprendizado e na sobrevivência de sua linhagem[5][6].

O fogo foi dominado a partir de eventos de manifestação natural que causavam incêndios, como relâmpagos que atingiam florestas e áreas de campos abertos

Por muito tempo, o chamado Peking-Man (Homo erectus perkinensis) de Zhoukoudian, localizado em uma província chinesa, foi considerado o primeiro hominíneo a produzir e manusear o fogo em benefício próprio[7][3]. Seus fósseis foram identificados pelo antropólogo canadense Davidson Black e sua equipe como um membro da linhagem hominínea, datado de meados de 500,000 anos antes de Cristo. Alguns compostos queimados encontrados no sítio arqueológico junto com alguns agregados de poeira foram indicativos de que aquela seria a evidência mais antiga do uso de fogo por hominíneos[7]. No entanto, estudos surgidos nas décadas posteriores demonstraram que tais compostos, embora tenham sido queimados por fogo, não entraram em estado de combustão de maneira intencional e sim gerado por elementos por combustão espontânea de material orgânico[8][7]. Até hoje em dia, não há inteiro consenso na comunidade científica se esta situação representou o uso de fogo pelo ancestral da linhagem humana de maneira intencional, visto que embora a evidência do fogo fosse forte, a evidência de envolvimento humano no processo era superficial e com interpretações não consolidadas[4].

Sítio arqueológico de Zhoukoudian, China, onde foram encontrados os restos de Peking Man, aceito por muito tempo como a evidência mais antiga de uso do fogo intencional pelo homem

Estudos posteriores, realizados na década de 70 e 80, demonstraram, então, que provavelmente a evidência mais antiga do uso e manejo do fogo pelo homem data de cerca de 1 milhão e 420 mil anos atrás e estaria na África do Sul, na caverna de Wonderwerk [9]. Estudos de fósseis realizados neste local indicaram que o Homo erectus já fazia uso e manejo do fogo no início do Pleistoceno, a partir de evidências de combustão de matéria no local[10][3].

A África representa um local em que surgem muitos registros de uso do fogo pelo homem de forma intencional, principalmente pelo fato de que este continente, ao que tudo indica, seria o "berço" dos primeiros hominíneos [11]. Como exemplo, pode-se citar registros de evidências do uso controlado do fogo intencionalmente no Lago Baringo, Koobi Fora e em Olorsesaille, todos sítios localizados no Quênia[12]. Na Etiópia também ja fora encontrados restos queimados que poderiam inferir no uso controlado do fogo, em Gadeb e na Região de Afar, mais precisamente[12]. No Marrocos, fora usado técnicas termoluminescentes para se descobrir restos de alimentos cozidos utilizados por Homo sapiens[13].

No entanto, a Ásia também oferece enormes evidências do uso do fogo intencional, ou pelo menos aponta inferências a respeito. Além das evidências estudadas do Peking man, temos evidências registradas em Xihoudu, na China, nas ilhas Java, e também em Israel, com evidências no Pleistoceno inferior e médio[14][15][12].

Domínio do fogo

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É sabido que o fogo desempenhou um papel crucial para a humanidade nos últimos milhares de anos, com papéis que vão desde adaptação ao ambiente, criação de novas tecnologias, valores socioculturais e ideológicos, papéis esse muitas vezes interligados entre si [16]. Porém, uma questão que intriga os pesquisadores da área é como se desenvolveu essa descoberta. Tradicionalmente, o estudo da relação humana com o fogo estava mais preocupada em saber quando começamos a usar o fogo e quando ele se incorporou ao cotidiano das adaptações dos hominínios[17]. Porém, existem alguns problemas com essas abordagens: buscar uma data exata para determinar a partir de que momento os hominínios começaram a usar o fogo não é tão simples[16] quanto determinar a data da invenção de uma máquina atualmente, por exemplo. Além disso, não é fácil diferenciar em alguns sítios arqueológicos o que seria um fogo de causas naturais, como resultado de um relâmpago, de um fogo feito por humanos.[17] Outra questão tem a ver com uma confusão, ou ausência de padronização nos termos usados por pesquisadores para descrever a relação dos antigos com o fogo.[17]

Uma dessas confusões tem a ver com a terminologia para o “controlled use of fire”, ou uso controlado do fogo, que é o termo mais usado atualmente.[17] Principalmente a partir do fim da década de 1970 e início da década de 1980,[18][19] o foco das pesquisas nessa área era encontrar vestígios desse uso controlado do fogo.[17] O problema está justamente na atribuição de significado que pesquisadores davam às evidências de uso de fogo, nas quais o seu “controle” tinha um significado de manejo ou domínio básico do fogo,[17][20] o que por sua vez gerava a interpretação de que qualquer evidência antiga significava que ele já estaria “controlado”.[17] Haveria então uma ausência de discussões sobre um domínio do fogo em etapas, de forma gradual, dando margem para um cenário de descoberta pontual das técnicas de produção de fogo, e que a partir desse momento, toda a humanidade teria acesso e conhecimento a essa descoberta.[17][16] Poucos pesquisadores tentaram propor novas terminologias para elucidar diferentes graus de “controle” do fogo. Então também se encontram na literatura termos como “uso vs controle”,[21][20] “uso oportunístico vs uso controlado”[22] e “uso fortuito vs controle do fogo”.[17][23][24]

Uma proposta recente para diferenciar melhor como os hominínios teriam desenvolvido o controle do fogo foi feita por Pruetz & LaDuke,[25] na qual haveria três etapas, ligadas tanto cronologicamente e cognitivamente, ao domínio do fogo. A primeira etapa seria caracterizada pela conceitualização do fogo, ao entender como o fogo se comportava e quais suas propriedades, permitindo que fossem feitas atividades próximas a ele; a segunda etapa consistiria na habilidade de controlar o fogo, ou seja, um conjunto de conhecimentos atrelados a contenção, alimentação e apagamento das chamas. Por fim, a terceira etapa estaria atrelada à habilidade de fazer o fogo à vontade, por meio de conhecimentos e tecnologias diversas.[17]

Uma outra proposta levantada classificaria os estágios de controle do fogo em quatro fases: 1 - habituação; 2 - uso; 3 - curadoria/manutenção; e 4 - manufatura.[17] Há, ainda, uma terceira ideia para como a relação da humanidade com o fogo teria sido moldada ao longo do tempo e que também é composta de três estágios:[16] 1º estágio: por volta de 1 milhão de anos atrás, talvez um pouco antes. O fogo seria sazonal, esporádico, com limitações em sua manutenção. Não haveriam evidências de produção própria do fogo ou fogueiras que durassem muito tempo, o que descartaria a possibilidade de controle sobre o fogo. 2º estágio: haveria uma melhora na capacidade de manutenção do fogo, associada a acampamentos. Essa etapa teria se consolidado entre 400 e 200 mil anos atrás,[16][26][27] e conta como evidências a ocorrência de deposição de cinzas e carvão, associados com ossos queimados e artefatos líticos.[16] A dúvida maior seria se o fogo era antropogênico ou de causas naturais. Se o fogo fosse causado naturalmente e os humanos já soubessem coletá-lo e mantê-lo, é de se esperar que sua ocorrência em sítios seria necessariamente próxima a locais com ocorrências naturais de fogo.[16] Além disso, se o fogo era apenas coletado e de certa forma estava mais intrincado com adaptações dos hominínios ao meio, isso já seria um passo a mais para se valorizar sua manutenção. Isso estaria relacionado à ocorrência dos acampamentos e também de possíveis divisões de tarefas, com indivíduos responsáveis por cuidar do fogo enquanto outros fariam a caça e coleta de alimento, reforçando assim um vínculo entre a tecnologia do fogo e aspectos socioculturais.[28] Por fim, o terceiro estágio seria marcado por uma maior contenção das fogueiras e com evidências para técnicas e habilidades de criar fogo (embora nem sempre seja possível saber qual técnica teria sido usada). Além disso, também estaria associado com adaptações para cozimento de alimentos ao longo do ano, não apenas de maneira esporádica. Por fim, supõe-se também que haveria uma mudança na concepção do fogo em si, passando de um fenômeno natural para uma criação humana, um artefato, o que também traria impactos na organização social da população.[16][29]

Percebe-se que essas tentativas apelam para critérios mais objetivos e claros para classificar as evidências de uso de fogo nos sítios arqueológicos para melhor reconstrução de como era a relação dos hominínios com o fogo,[16] pois quanto mais antigo é o registro, maior a dificuldade em identificar se esse fogo seria antropogênico ou de causas naturais.[17]

Uma outra terminologia bastante presente em publicações mais atuais é o “habitual use of fire”, ou uso habitual do fogo. Esse termo aparece mais em trabalhos que estudam locais com evidências de uso contínuo, sistemático e repetitivo do fogo, sobretudo em sítios individuais.[22][30][20] Outros significados encontrados em pesquisas sobre o “uso habitual do fogo” são de “regular”, “persistente”, “contínuo”.[17] O que falta é uma certeza sobre qual a diferença de tempo entre uma fogueira e outra. Seria uma diferença diária, semanal, mensal? Ou estariam separadas uma da outra por anos, décadas e até mesmo milênios? Ainda há muito a ser estudado para preencher essas lacunas importantes de conhecimento sobre o processo de domínio do fogo.[17] Lugares que possuem evidências inequívocas desse tipo de uso de fogo são sítios em cavernas em Israel, com os registros datando entre 350 e 200 mil anos atrás.[17] Com isso, esses sítios também representam locais onde teria havido um comportamento repetitivo e regular de uso de fogo, o que provavelmente também teria influência na organização da população local.[17] Cavernas são especialmente importantes para buscar essas evidências de uso de fogo pois estão menos expostas às ações erosivas do ambiente em relação a sítios ao ar livre, como ventos, chuvas, e até mesmo incêndios.[17][22]  

Como é de se esperar, nem todos os sítios arqueológicos com presença de fogo são parecidos entre si. Quanto mais antigo, menor é a probabilidade de encontrar registros de uso de fogo, além de haver a possibilidade de perda de resíduos efêmeros de fogo ao longo do tempo. Além disso, os achados também estão condicionados a locais em latitudes mais próximas ao Equador e aos trópicos, bem como em regiões com condições climáticas favoráveis para ocorrência de fogo naturalmente.[17] Por fim, ressalta-se que embora as propostas que tratam o domínio do fogo como um processo gradual, em etapas, seja de certa forma direcional, elas não são necessariamente uma seguida da outra. Isto é, nada impede que uma população tenha pulado uma das etapas no controle do fogo. Também é muito provável que estes processos não aconteceram ao mesmo tempo para todas as populações de hominínios e, por consequência, talvez a descoberta das técnicas de manufatura do fogo tenham surgido mais de uma vez, em lugares distintos, ao longo da história.[17]

Estudos das evidências de fogo e da interação humana em sítios arqueológicos

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As investigações do uso do fogo não podem ser interpretadas com base em uma única evidência local. A ciência necessita de reconhecer a contextualização e unificar os dados obtidos para que, então, se tenha conhecimento que aquela situação demonstra a utilização do fogo intencional em questão[4].

O estudo do papel do fogo ao longo da história da evolução humana, e de seus ancestrais, através da análise de artefatos e estruturas encontradas em sítios arqueológicos é complexo. Pesquisadores e estudiosos devem integrar uma série de etapas no processo de análise dos sítios arqueológicos para que se possam estabelecer interpretações que sejam adequadas às, em geral, poucas evidências que têm em mãos. Arqueólogos chamam atenção para o fato de que a maioria das interpretações das primeiras interações dos hominíneos com o fogo não levam em conta o enorme viés de preservação de artefatos, o que pode implicar em consequências significativas para a forma que o passado é mapeado. Em muitos casos de análise de evidências, a pesquisa se limita a determinar se houve ou não a presença de fogo, falhando em reconhecer que as primeiras interações dos hominíneos podem ter ocorrido com fogos naturais e pode nem mesmo ter incluído o uso intencional de fogueiras, por exemplo. Resquícios de fogueiras são o tipo de artefato que mais provém dados científicos para que arqueólogos consigam determinar a associação do fogo com os primeiros humanos e seus ancestrais[31][32][4].

Exemplo do domínio do fogo utilizado por um nativo do Namíbia

Para dificultar as investigações, o uso do fogo deixa poucas evidências e o registro arqueológico de atividade hominínia geralmente é superficial, com poucas chances de ser preservado ao longo do tempo. Os traços do fogo desaparecem e podem, inclusive, desaparecer durante a coleta em uma investigação, se não forem tomados os devidos cuidados pela equipe profissional, visto que os restos possuem uma densidade muito baixa de coleta também. Dessa maneira, tem-se que a preservação e a coleta das evidências são cruciais para que se inicie a investigação e para que ela tenha progresso[4][1][33].

Mesmo assim, por vezes, o estudo do fogo se mostra controverso. Para resolver algumas questões, as equipes de arqueólogos tomam como base alguns pontos para nortear sua investigação[10]:

  1. Fogo natural sempre vem primeiro, ocorrendo em áreas frequentadas por seres humanos. Caso contrário, os hominíneos naquele local não teriam como dominá-lo[10].
  2. As fogueiras intactas (chamadas também de “coração”), representam uma das evidências mais fortes de domínio e utilização intencional do fogo[10].
  3. Para discriminar fogo artificial de natural, o uso de métodos tradicionais, como a medição de temperatura, não se mostra unicamente eficaz, necessitando do estudo de todo o contexto e de restos de objetos queimados que promovam uma inferência conclusiva[10].

Dificuldades e métodos de investigação

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Uma das dificuldades enfrentadas pela equipe de investigação, portanto, é a distinção entre fogo natural e fogo intencional quando são encontrados sítios de uso de fogo. As pistas encontradas no local que auxiliam no processo podem ser variadas: o povo aborígene do deserto australiano, por exemplo, utilizava métodos tradicionais com gravetos para acender o fogo, indicando ali um uso artificial[34][35].

O uso do trabalho conjunto multidisciplinar é essencial na investigação das origens do fogo. Na imagem, grupo de pesquisadores ligerados pelo paleontologista Bill Parker, estudando um sítio arqueológico

No processo de análise de materiais e artefatos queimados em sítios arqueológicos, pesquisadores sugerem que haja uma investigação que integre múltiplas técnicas, numa tentativa de se estabelecer um link mais direto entre os materiais queimados e atividade humana. Antes de tudo, a primeira parte do trabalho de investigação deve ser determinar se o artefato em questão está de fato queimado, isto é, se foi sujeitado a calor no passado. Para isso, testes minuciosos devem ser realizados em laboratório, a nível microscópico, uma vez que simples testes de campo não são capazes de determinar o histórico de fogo de determinados materiais. Somente então o pesquisador passa a elaborar hipóteses a respeito da causa do fogo, através de técnicas especializadas. Uma, particularmente interessante, é determinar se o artefato em questão está no mesmo local em que houve a queimada ou se foi transportado, indicando manipulação. Isso é ideal para que se crie um contexto, que irá explicar como diferentes materiais foram associados naquela camada ou sítio em particular. Isso ajuda a estabelecer o papel do ser humano na formação de artefatos queimados remanescentes nos sítios arqueológicos. É importante saber diferenciar hipóteses em andamento de fatos estabelecidos, como fazem outras ciências, por exemplo a Astronomia, que está acostumada a lidar com hipóteses que vão sendo aceitas ou rejeitadas ao longo do tempo com acúmulo de dados factuais. Fatos estabelecidos por si só não são capazes de determinar controle humano de fogo para além de um milhão de anos atrás[32][4].

Para facilitar o método de investigação, as equipes arqueológicas focam em locais de atividade humana no passado, com evidências de assentamentos em que o fogo poderia ser utilizado para se proteger do frio à noite, por exemplo[1]. Por vezes, o registro do artefato se mantém intacto, nesses locais, como na caverna de Guitarrerro, no Peru, onde o local onde foi acendida a fogueira, ou “coração”, estava inteiramente preservada[36][37]. Uma das evidências utilizadas para se fazer inferências sobre o uso do fogo são as pedras e ferramentas de pedras[1]. Ferramentas ou artefatos de madeira também podem ser utilizados e, quando parcialmente queimadas, facilitam o processo. Na Zâmbia, por exemplo, próximo às Cataratas de Kalambo, artefatos de madeira foram encontrados e datados de há mais de meio milhão de anos[38]. No entanto, tais artefatos por si só não são suficientes para que uma conclusão seja tomada. Atualmente, a arqueologia trabalha de forma multidisciplinar, e uma vasta equipe de profissionais mostra-se atuante, e de diferentes setores da ciência, antes de ser fazer qualquer inferência. Assim, paleontólogos, arqueólogos, biólogos, geógrafos e até mesmo a perícia podem ir até o local onde se há uma evidência ou registro de atividade humana. Para que se tome uma conclusão, hoje em dia, são necessários estudos de micro e macro sedimentos utilizando métodos magnéticos, estudos de DNA, medição de temperatura e umidade, estudos da estratigrafia local, entre outros[39][10][40][1].

Fogo e a evolução humana

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Cada vez mais se vê crescente o número de sítios arqueológicos de fogo, mas, relativamente, a quantidade de material ainda é bastante escassa. No entanto, o interesse no tópico “fogo e evolução” vêm crescendo, principalmente por descobertas importantes recentes feitas em sítios na Europa, Oriente Médio e África, e arqueólogos fazem um apelo para que se tenha cuidado na preservação e no estudo das evidências, sugerindo que haja uma integração com diferentes áreas da ciência, como por exemplo primatologia e psicologia evolucionária, a fim de se estabelecer hipóteses melhores fundamentadas. A arqueologia por si só não é capaz de realizar um panorama geral com acurácia das primeiras interações com o fogo, geralmente ressaltando apenas momentos particulares. Isso se dá porque apenas em circunstâncias específicas e favoráveis arqueólogos são capazes de reconhecer fogo manipulado por humanos. No entanto, tais circunstâncias são incrivelmente raras e dependem de condições de preservação de materiais excepcionais. É por essa tendência de processar eventos fundamentalmente raros que, na busca de um cenário amplo para a presença do fogo e sua influência na evolução do ser humano, a arqueologia deve integrar-se com outras disciplinas[41][4].

Quando se tenta avaliar o histórico de fogo de determinada ocupação antiga, pesquisadores estão limitados pela abundância e qualidade dos materiais presentes. A inspeção de materiais queimados como pedra, madeira e carvão podem ser suficientes para determinar um “passado de fogo” mas não são capazes de determinar a causa, natural ou antropogênica. No entanto, o enorme corpo de dados científicos, acumulado principalmente na tentativa de prevenção de incêndios, permite que as interpretações de causa de fogo sejam mais precisas[42].

Fogo e relações antropogênicas

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Pesquisadores do sítio arqueológico de Gesher Benot Ya’aqov (GBY), em Israel, conseguiram, através da associação do histórico arqueológico da região com dados científicos das áreas da ecologia do fogo e paleoecologia, determinar que a causa para o grande número de materiais queimados no sítio não eram grandes queimadas naturais recorrentes do passado, como se acreditava anteriormente, e sim, devido a causas antropogênicas. O conhecimento para criar fogo e as habilidades tecnológicas dos hominíneos antigos os permitiam atear fogo à vontade, organizando grandes queimadas intencionais, com o intuito de desmatar a vegetação e também de caça. A noção das habilidades desses hominíneos é um passo significativo para compreender melhor o comportamento e habilidades dos primeiros humanos em relação ao fogo. A presença de artefatos em GBY é escassa e apenas com a junção dos dados de outras ciências é que os arqueólogos foram capazes de realizar essa descoberta.[42]

Um outro exemplo de sucesso recente na integração da arqueologia com outras ciências permitiu que pesquisadores em uma caverna na Espanha, aparentemente utilizada por hominíneos antigos como um mortuário, determinassem que a presença de inúmeras pequenas fogueiras adornadas com chifres fossem puramente cerimonial, e associadas com a cerimônia de morte de uma criança[43].

Sítios arqueológicos e mudanças causadas por queimadas

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O maior problema dos sítios arqueológicos é o risco constante de serem afetados por queimadas, danificando estruturas e artefatos e dificultando a pesquisa, escavação e interpretação dos materiais. Além disso, a tarefa de reconhecer incêndios passados e determinar as mudanças causadas é difícil. O fogo pode afetar a densidade e composição da vegetação local, podendo carbonizar e consumir ou preservar matérias orgânicas que desapareceriam naturalmente com o passar dos anos. A queimada pode causar a presença inesperada de determinadas espécies de plantas em evidências arqueológicas, bem como pode ser a causa de súbitas mudanças em comunidades de plantas do sítio. Incêndios naturais afetam sítios arqueológicos em praticamente todas as camadas e relevos, causando mudanças significativas que podem ser óbvias e imediatas, como uma estrutura histórica queimada, ou menos óbvias e mais abrangentes, como alterações de calor em um conjunto de pedras. Exemplos de composições naturais que são afetadas por fogo são a vegetação, rochas, solo superficial, drenagens, planícies, encostas e terraços. O fogo também afeta os artefatos, que podem ser completamente consumidos ou parcialmente danificados, bem como altera a visibilidade das evidências arqueológicas[44][45].

Para realizar um panorama eficiente de mudanças causadas por queimadas em um determinado sítio arqueológico, deve-se realizar experimentos sob condições controladas bem como utilizar-se de observações das consequências de incêndio naturais em uma série de localidades e contextos distintos. As mudanças podem ser de magnitude catastróficas, isto é, radicais e imediatas, ou também podem ocorrer de maneira gradual com o passar do tempo, como por exemplo erosões de solo. A partir da observação de vários incêndios naturais, sabe-se que o fogo pode alterar substancialmente evidências naturais e culturais, e, além disso, pode criar “falsos artefatos” que se assemelham aos artefatos culturais do sítio arqueológico. O incêndio pode servir como um guia para incêndios passados no mesmo sítio. Os dados científicos que podem ser obtidos em sítios vítimas de queimadas de diferentes intensidades, podem ser úteis para pesquisa e interpretação de artefatos queimados presentes em sítios arqueológicos de fogo. Um bom indicativo do histórico de queimada de um determinado sítio é a presença de artefatos culturais de madeira. Uma vez que houve queimada, e portanto estabelece-se a hipótese de que a região já foi propensa a outras queimadas, recursos de madeira não-carbonizados são bons indicadores de que a região não sofreu queimadas de alta intensidade desde que o sítio arqueológico foi abandonado por humanos do passado, assim criando um histórico mais preciso[45][44].

A noção das mudanças causadas pelo fogo e a capacidade de avaliar potenciais mudanças, fundamentadas pela observação precisa e com as especificidades da arqueologia local em mente, são ideais para que arqueólogos possam compreender o processo de formação dos sítios arqueológicos, tomando decisões mais eficientes e exercendo pesquisas e escavações de forma que a interpretação dos recursos seja mais exata[45].

Arqueologia e o combate a incêndios

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No Brasil, os governos estaduais e o federal, através do Ministério do Meio Ambiente, provém apostilas educativas sobre os efeitos dos incêndios naturais nos ecossistemas e nos artefatos arqueológicos, bem como um guia para prevenção e formação de esquadrões de combate aos incêndios[46][47].

Arqueólogos podem participar de cursos profissionalizantes para se tornarem bombeiros funcionais e estarem aptos a participarem de brigadas de combate contra incêndios naturais em sítios arqueológicos. Nos esquadrões de combate, um “arqueólogo-bombeiro” pode assumir diferentes funções a depender do tamanho do fogo e do time de combate, ajudando a manter recursos culturais em mente nas atividades de repressão do fogo[48].

Incêndios controlados e suas vantagens em sítios arqueológicos

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No entanto, nem todos os efeitos de incêndios naturais são negativos. Em geral, as chamas são capazes de consumir largas porções de vegetação que impedem arqueólogos de acessarem e pesquisarem com eficiência alguns locais dentro de sítios arqueológicos. Isso também é vantajoso para que se possa expandir a área de exploração de sítios, além de tornar viável a exploração de sítios que há muitos anos não são pesquisados devido à impossibilidade de localização e visitação. A exploração de novos sítios arqueológicos é muito facilitada e poupa inúmeros recursos, uma vez que retira a necessidade de “shovel tests”, método padrão de levantamento arqueológico, que é muito trabalhoso e, muitas vezes, inconstante, portanto, não confiável[49][50].

Queimadas, quando controladas e utilizadas corretamente, permitem certas vantagens ao expandir os sítios de exploração, embora exista o risco de perda de artefatos. Na imagem, a floresta Bandipur está em fogo controlado devido ao mato seco e à baixa umidade local.

Por ser um conceito controverso e contra-intuitivo, as vantagens de queimadas em sítios arqueológicos ainda estão sendo estudadas aos poucos, com os poucos dados científicos disponíveis. Pesquisadores estão apenas começando a compreender as oportunidades que surgem de eventos naturais como esse, muitas vezes por acaso. O arqueólogo, Larry Todd, que trabalhava na Floresta Nacional de Shoshone, em Wyoming, EUA, um sítio montanhoso, observou, após o sítio ser quase inteiramente consumido por um incêndio natural em 2006 que ficou conhecido por “Pequena Vênus”, mudanças significativas. Uma comparação entre os registros do inventário do sítio anterior aos efeitos da “Pequena Vênus” com as novas descobertas de artefatos pós-incêndio, mostrou um aumento de mais de 2000% no número de artefatos totais do sítio. Mais que isso, Todd encontrou evidências de que os povos indígenas que habitavam aquela região montanhosa tinham contato com comerciantes europeus, algo que não se sabia anteriormente. Anos depois, em 2011, no mesmo sítio, o arqueólogo Kyle Wright descobriu, após o sítio arqueológico ter sido novamente sujeito a um incêndio natural intenso, denominado “Incêndio de Norton Point”, novas evidências que variam de artefatos pré-históricos, datados de 13.000 anos atrás, até modernos do século XIX. Isso permitiu a descoberta de que os povos indígenas da região habitavam a floresta montanhosa ao longo do ano todo, e não apenas em determinadas estações do ano. No entanto, artefatos recém-expostos através do fogo são vulneráveis e frágeis. Animais podem interagir e adulterar áreas importantes para pesquisa, e artefatos podem ser levados com iminência da erosão, por exemplo. Por isso, após queimadas em sítios arqueológicos, a velocidade é crucial para determinar condições de preservação e pesquisa adequadas. O ideal é que arqueólogos já estejam preparados para avaliar as mudanças enquanto ainda haja fumaça remanescente do incêndio[51].

Um estudo conduzido pelo arqueólogo canadense Andrew Hinshelwood demonstrou que no caso específico do bioma da taiga, o fogo proveniente de incêndios naturais é capaz de fazer surgir sítios arqueológicos em áreas remotas e que sequer foram consideradas terem alguma utilidade para processamento de artefatos e dados científicos. Por causa das especificidades do bioma, após avaliação de danos à floresta boreal por incêndios, inúmeras regiões agora possuíam conjuntos de artefatos pré-históricos reunidos em camadas superficiais e de fácil acesso. Isso demonstra a capacidade do fogo de, pelo menos nesse caso específico, ser o fator viabilizador para que se “crie” um sítio arqueológico. No entanto, deve-se manter em mente que incêndios naturais em qualquer bioma podem criar danos graves e alterar a estratigrafia e vegetação da região.[52]

Em determinados contextos específicos, arqueólogos estão tentando converter as vantagens do fogo a seu favor e utilizam-no como ferramenta para descobrimento de novos artefatos e expansão de sítios arqueológicos. É o caso do arqueólogo Josh Chase, que está conduzindo pequenas queimadas controladas em porções vegetativas do sítio arqueológico Rio Milk, em Montana, EUA. Chase argumenta que como os prados estão acostumados a ciclos constantes de queimadas naturais, surgiu aqui a oportunidade de testar os efeitos do fogo para pesquisa científica em primeira mão, e também avaliar a viabilidade do fogo enquanto ferramenta arqueológica. No entanto, os estudos para queimadas controladas em sítios arqueológicos ainda é muito recente, e deve-se manter em mente que a quantidade de conhecimento adquirido pode vir com um custo. “Incêndios expõem artefatos a saques, erosão, intemperismo e interferência de gado solto que tiram aquela bela imagem nítida de como era a vida no passado e fazem com que pareça que passou por um Cuisinart", diz o já supracitado arqueólogo Larry Todd. Pesquisadores vêm realizando experimentos em materiais para determinar como reagem a diferentes contextos de fogo, o que irá auxiliar arqueólogos a determinarem quando é seguro prescrever fogos controlados e quando artefatos devem ser protegidos de incêndios naturais, além de claro, auxiliar na interpretação de incêndio antigos em sítios arqueológicos[53].

Apesar disso, incêndios controlados estão sendo aplicados também por outros motivos, não necessariamente relacionados a sítios arqueológicos ou artefatos, mas também não os excluindo dos seus efeitos. O fato é que a força conjunta e constante de sempre tentar reprimir queimadas naturais fizeram com que muitas florestas ao redor do mundo encarasse um severo desbalanceamento ecológico. Autoridades locais e arqueólogos muitas vezes não levam em consideração o fato de que determinados biomas foram sujeitos a queimadas inúmeras vezes ao longo da história e que este é simplesmente um ciclo natural inerente a ele. Por isso, diversas regiões, muitas delas com sítios arqueológicos, estão experimentando os efeitos de incêndios controlados numa tentativa de retornar às florestas um estado mais saudável.[54]

Fogo e as pinturas rupestres

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Não existem representações de fogo em pinturas rupestres descobertas que se tenha notícia. A grande maioria das pinturas representam animais altos e largos como bisontes, cavalos, auroques e cervos, e acredita-se que eram feitas sob uma ótica espiritual, numa tentativa de caçadores de “sumonar” a caça e se conectar com ela através de magia. Outros temas incluem traços de mãos humanas e padrões abstratos de pintura, mas nada de fogo. Isso não quer dizer, no entanto, que a relação dos primeiros humanos e seus ancestrais com o fogo não tenha tido influência na criação das pinturas rupestres[55][56].

Um dos principais pigmentos utilizados para a criação de pinturas nas paredes cavernosas eram resquícios de carvão parcialmente queimado utilizado nas fogueiras, conhecido como negro de fumo, e também restos de ossos queimados, material conhecido como negro animal. Não é preciso ressaltar, portanto, que a interação com o fogo pelos primeiros humanos foi fundamental para viabilizar grande parte das pinturas rupestres hoje conhecidas pelo mundo[57].

A hipótese é de que, sob luzes trêmulas e fracas de uma chama, a ilusão de ótica mostraria que o cervo pintado está em movimento. Cervo ruprestre, 6000 adC. Abrigo de Chimiachas (Huesca, Espanha)

Quando a famosa caverna de Lascaux, na França, foi descoberta em 1940, mais de 100 pequenas lamparinas de pedra antigas, que costumavam queimar a gordura dos restos de caça de animais, foram encontradas. No entanto, não foi feita a documentação dos locais exatos das lamparinas no interior da caverna, uma vez que na época arqueólogos não consideraram que a posição e o brilho da luz do fogo poderiam alterar a percepção das pinturas nas paredes da caverna. Hoje em dia, Jean-Michel Geneste, curador da caverna de Lascaux e diretor do Centro Nacional de Pré-história da França, acredita que a falta de dados a respeito da posição das lamparinas prejudicou significativamente a compreensão de como os artistas antigos percebiam e expressavam as suas pinturas. Para Geneste, quando a caverna é inteira iluminada com uma luz artificial e uniforme, as pinturas são essencialmente retiradas do contexto em que foram pintadas e têm as histórias que supostamente contam prejudicadas. Todo o conceito da performance da arte da caverna é ignorada e aniquilada.[58]

Reconstruções recentes das lamparinas de pedra, mas fora de suas posições iniciais, sugerem que o brilho emitido dessas construções tinha a intenção de criar um foco de luz sobre as pinturas, numa tentativa de contar uma história em etapas, iluminando uma de cada vez, semelhante a narrativa de histórias em quadrinhos. Além disso, acredita-se que a chama trêmula do fogo, em conjunto com o brilho de baixa intensidade, criava ilusões de ótica como se as pinturas estivessem na verdade se mexendo. Segundo Geneste, é possível que pinturas que apresentam uma série de desenhos semelhantes, mas sob uma perspectiva ligeiramente diferente, estivessem tentando criar esse efeito aos olhos dos primeiros humanos que observavam-nas sob a luz de uma chama fraca. O curador chama atenção para o fato de que ao longo da história arqueólogos e pesquisadores prestaram menos atenção nos efeitos da luminosidade do fogo e seu papel na evolução do ser humano, em comparação ao uso do fogo para aquecimento e cozimento de comida.[58]

Em um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, com foco em cavernas com pinturas rupestres na Espanha e França, foi encontrada uma solução convincente para as pinturas datadas entre 40.000 e 14.000 anos atrás, encontradas em localidades profundas e passagens estreitas que só eram navegáveis com a presença de luz artificial. Os interiores mais profundos das cavernas eram raramente utilizados para atividades domésticas e cotidianas, eram portanto pouco frequentados. A explicação do porquê os primeiros humanos optaram por realizar pinturas em localidades tão remotas é a de que o fogo utilizado nas profundezas da caverna diminuia os níveis de oxigênios, deixando os humanos em um estado de hipóxia, o que levaria a liberação de dopamina conferindo alucinações e experiências extra-sensoriais. Pintar sob essas condições era uma escolha consciente que os levaria a uma interação mais próxima com os cosmos. Isso corrobora com a teoria do pesquisador David Lewis-Williams, de que as pinturas eram realizadas por shamans que se retirariam para áreas mais recônditas das cavernas, para que, num estado de transe, pintassem as imagens de suas visões, possivelmente também numa tentativa de extrair o poder da parede das cavernas. Os pesquisadores também sugerem que as pinturas podiam servir como um rito de iniciação de crianças na caça de animais selvagens[59][60].

Esse não é o único caso em que o fogo foi a resposta para um mistério relacionado a arte do paleolítico. Nos anos 20, pesquisadores na agora República Tcheca, descobriram um sítio arqueológico que aparentemente costumava servir como lugar de confecção de pequenos objetos de cerâmica em formato de animais, e também de vênus, pequenas estatuetas de mulheres nuas que, especula-se, eram consideradas símbolos de fertilidade. No entanto, quase todos os artefatos só puderam ser encontrados em fragmentos, o que é altamente incomum. Por mais de 60 anos, perdurou-se o mistério a respeito das vênus e demais cerâmicas fragmentadas, até que em 1989, um grupo de pesquisadores conduziu um estudo que foi capaz de descobrir que a argila utilizada na confecção das cerâmicas era deliberadamente manipulada para que uma vez que entrasse em contato com o fogo ela explodisse, sendo um dos primeiros exemplos de pirotecnia documentados na história. É também uma das primeiras evidências da tendência do ser humano de criar apenas para destruir.[61]

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