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Usuário(a):DocElisa/A circulação do sangue

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Estátua de João Rodrigues, Amato Lusitano, no centro de Castelo Branco, no jardim que tem o seu nome.
Gravura da Exercitatio Anatomica de Motu Cordis et Sanguinis in Animalibus de William Harvey.

O termo circulação refere-se ao movimento de um fluido ao longo de um circuito fechado. A circulação do sangue é o movimento do sangue originado pelo bombeamento do coração que o envia para as artérias. A função circulatória é, basicamente, uma função de transporte.

A circulação do sangue faz-se em dois circuitos separados anatomicamente e com funções diferentes:

  • Circulação pulmonar ou Pequena circulação pela qual são realizadas as trocas gasosas oxigênio e anidrido carbónico
  • Circulação sistémica ou Grande circulação que permite levar os nutrientes e oxigénio aos tecidos e receber os produtos finais do metabolismo para serem excretados, assim como levar as hormonas aos seus órgãos alvo.[1]

Os mais antigos relatos sobre a circulação remontam às descrições encontradas no Ebers Papyrus (séc. 16 AC). Posteriormente, Herophilus e seu discípulo Erasistratus, no séc. IV AC. distinguem as artérias das veias porque elas pulsam. Mas como no cadáver elas se apresentavam vazias eles deduziram que continham ar e quando cortadas sagravam porque o ar ao sair da artéria era substituído pelo sangue que chegava por pequenos vasos entre as artérias e as veias (é a primeira descrição dos capilares)[2]

Mais tarde, os textos de Caio Plínio Segundo, um escritor romano que viveu entre os anos 79-23 AC., mostram a grande confusão que ainda persistia ... Assim Plínio dizia "as artérias não têm sensibilidade, nem contêm sangue e nem mesmo o sopro da vida e quando são cortadas só a parte do corpo que lhes diz respeito fica paralisada... as veias espalham-se sob a pele terminando em finos canais, estreitando cada vez mais até um calibre diminuto por onde o sangue não pode passar mas somente uma mistura em inúmeras pequenas gotas chamada suor que vem do meio do seu rabo traseiro, síndrome da hemorroida"...[3][4]

O conhecimento da circulação começa a ser mais coerente na Grécia antiga com os escritos de Hipócrates.[5]

No séc. II DC, o físico grego Galeno descobre que os vasos sanguíneos contém sangue, identifica o venoso (vermelho escuro) e o arterial (mais claro e mais fluido), cada um deles com funções separadas e diferentes. O crescimento e a energia são para ele derivados do sangue venoso criado no fígado a partir do quilo, enquanto o sangue arterial dá vitalidade por conter pneuma (ar) e é originado no coração. O sangue corre dos dois órgãos onde se forma para todas as partes do corpo onde é consumido e não há retorno ao coração ou ao fígado. O coração não bombeia o sangue, o movimento cardíaco aspira o sangue na diástole e o sangue move-se pela pulsação das próprias artérias. Galeno acreditava que o sangue arterial era criado pelo sangue venoso ao passar do ventrículo esquerdo para o direito através de 'poros' situados no septo interventricular, o ar passava dos pulmões pela artéria pulmonar para o lado esquerdo do coração. À medida que o sangue era criado formavam-se vapores que passavam para os pulmões também pela artéria pulmonar para serem exalados. Os seus registos anatómicos, baseados na disseção de macacos e porcos, permaneceu incontestável até 1543 quando as descrições e ilustrações de disseções humanas foram publicadas no trabalho De humani corporis fabrica por Andreas Vesalius[6][7] onde a teoria fisiológica de Galeno foi adaptada às novas observações.[8]

A teoria de Galeno sobre a Fisiologia humana do Sistema circulatório manteve-se até 1551 quando o Doutor Amato Lusitano (João Rodrigues de Castelo Branco, 1511-1568), médico português, descreveu a circulação do sangue na sua obra em 7 volumes Curationum Medicinalium Centuriæ Septem em 1551 e pela primeira vez afirmou que as veias tinham válvulas.[9] Esta descoberta veio contrariar o que estava admitido desde Galeno de que o sangue saía do coração tanto pelas artérias como pelas veias. Isto baseava-se no facto de que as redes arterial e venosa se tornam cada vez mais finas à medida que se afastam do coração e acreditava-se que estas redes não conetavam entre si. O microscópio ainda não tinha sido inventado e os capilares não podiam ser vistos.

Em 1628 William Harvey (1578-1657) publica o seu De motu cordis e fica na história como sendo o primeiro a descrever a circulação do sangue, estabelecendo que o sangue circula porque coração se comporta como uma bomba.[10]

A circulação pulmonar foi descrita pela primeira vez por Ibn al-Nafis no seu Commentary on Anatomy in Avicenna's Canon (1242) e também por Michael Servetus no "Manuscript of Paris",[11]

Circulação pulmonar

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Diagram of pulmonary circulation. Oxygen-rich blood is shown in red; oxygen-depleted blood in blue.

Circulação Pulmonar ou Pequena circulação é a designação dada à parte da circulação sanguínea na qual o sangue é bombeado para os pulmões e volta, livre do anidrido carbónico (CO2) e rico em oxigénio (O2) ao coração. Ao chegar à aurícula direita pelas veias cavas superior e inferior, o sangue passa da aurícula para o ventrículo direito. Quando este, por sua vez, se contrai, dá-se a ejeção ventricular direita para a artéria pulmonar que dividindo-se em direita e esquerda vai levar o sangue aos dois pulmões. As artérias pulmonares dividem-se e sub-dividem-se até se tornarem numa rede capilar nas paredes alveolares onde vão ter lugar as trocas gasosas com difusão do Dióxido de carbono ou Anidrido carbónico (CO2) dissolvido no plasma e captação do O2, que compõe 21% do ar, o qual se fixa nos glóbulos vermelhos, mais exatamente na hemoglobina contida nesses glóbulos. Para que essas trocas sejam possíveis as paredes alveolares estão revestida por surfactante, uma molécula tensoativa ( complexa segregada continuamente pelos pneumócitos alveolares de tipo 2. Uma vez oxigenado, o sangue flui da vertente venosa capilar das paredes alveolares, para pequenas vénulas que juntam e formam veias cada vez de maior calibre até se tornarem as veias pulmonares que drenam na aurícula esquerda. Esta, ao contrair-se envia o sangue para o ventrículo esquerdo e a Circulação sistémica ou Grande circulação, começa.[1]

Circulação sistémica

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Chegado ao ventrículo esquerdo o sangue arterializado é bombeado para a artéria aorta seus ramos, atingindo todas as partes do corpo humano, ramificando-se em artérias de calibre cada vez menor até atingir a vertente arterial capilar e libertar o tão precioso oxigénio aos tecidos para que a respiração celular seja possível. Recolhe os produtos finais do metabolismo celular e volta, percorrendo o caminho inverso, ou seja: vertente venosa da rede capilar, vénulas, veias até atingir a veia cava inferior ou a veia cava superior, dependendo da região e drena de novo na aurícula direita. As veias contêm cerca de 70% do volume sanguíneo total, ao contrário das artérias que transportam só cerca de 15%.[1][12]

Circulação capilar

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Rede capillar

A circulação capilar faz parte da microcirculação. É a este nível circulatório que se dá a função major de toda a circulação: a troca de nutrientes entre o sangue e as células e a recolha das substâncias nocivas, produtos finais do metabolismo celular. Ao chegar às células as arteríolas transformam-se em metarteríolas adquirindo pequenos esfíncteres que se relaxam e contraem 5 a 10 vezes por minuto regulando o débito de sangue a este nível. Este débito depende das necessidades da célula em oxigénio. Por sua vez as metarteríolas transformam-se em capilares, perdendo a camada muscular e os esfíncteres. Os capilares têm assim uma parede muito fina, constituída só pela íntima (a camada interna vascular), com poros que deixam passar os iões e as moléculas hidrossolúveis para o tecido intersticial e posteriormente atravessam a membrana celular para o interior da célula. Isto facilita as trocas gasosas e de outros nutrientes, sem necessidade de mecanismos de transporte, permitindo uma difusão bi-direcional dependente de gradientes osmóticos como descrito na tão conhecida equação de Starling:

Onde

  • força de drenagem,
  • é a constante de proporcionalidade,
  • o movimento do fluido entre o capilar e o tecido intersticial.

De acordo com esta equação, simplificada para o capilar sanguíneo, o movimento de um fluido, neste caso o sangue, depende assim de 5 variáveis:

  1. Pressão hidrostática capilar ( Pc )
  2. Pressão hidrostática intersticial ( Pi )
  3. Pressão oncótica capilar ( πz )
  4. Pressão oncótica intersticial ( πi )
  5. Coeficiente de filtração ( Kf )

O coeficiente de reflexão ( R ) que exprime a impermeabilidade da parede a proteinas é, em condiçóes normais, igual a 1. A parede capilar não deixa passar proteinas. Só será considerado em casos patológicos com aumento da permeabilidade às proteinas e R <1.[1]


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Referências

  1. a b c d Guyton Textbook of Medical Physiology, 10e edition, Arthur Guyton and John Hall, 2000, ISBN-10: 072168677X
  2. Anatomy - History of anatomy
  3. Beagon, Mary (translator) (2005). The elder Pliny on the human animal: Natural History, Book 7. [S.l.]: Oxford University press. ISBN 0-19-815065-2 
  4. Healy, John F. (1999). Pliny the Elder on science and technology. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 0-19-814687-6 
  5. Young, R. A. (1940). «The Pulmonary Circulation--Before and After Harvey: Part I». BMJ. 1 (4122). 1 páginas. PMC 2176288Acessível livremente. PMID 20782884. doi:10.1136/bmj.1.4122.1 
  6. Andreas Vesalius (1543). De humani corporis fabrica, Libri VII 🔗 (em Latin). Basel, Switzerland: Johannes Oporinus. Consultado em 7 August 2010  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  7. O'Malley, C., Andreas Vesalius of Brussels, 1514–1564, Berkeley: University of California Press
  8. Siraisi, Nancy G., (1991) Girolamo Cardano and the Art of Medical Narrative, Journal of the History of Ideas. pp. 587–88.
  9. Amatus Lusitanus discovered valves in veins and arteries; by David Hashavit, citação: "Há bases verosímeis para afirmar que foi o Dr. Amatus quem primeiro descobriu o fenómeno da "Cirdulação do sangue"
  10. Harvey, W., Exercitatio anatomica de motu cordis et sanguinis in animalibus, Frankfurt, W. Fitzeri, 1628
  11. 2011 “The love for truth. Life and work of Michael Servetus”, (El amor a la verdad. Vida y obra de Miguel Servet.), printed by Navarro y Navarro, Zaragoza, collaboration with the Government of Navarra, Department of Institutional Relations and Education of the Government of Navarra, 607 pp, 64 of them illustrations, p 215-228 & 62nd illustration (XLVII)
  12. «Fisiologia Cardiovascular» (PDF). Consultado em 25 de novembro de 2012