Tarcuna
Tarcuna ou Tarcuna/i (em hitita: Tarḫunna ou Tarḫuna/i[1]) era o deus do tempo hitita.
Nome
[editar | editar código-fonte]Tarcuna (Tarḫunna) é um cognato do verbo hitita tarḫu-zi, "prevalecer, conquistar, ser poderoso, ser capaz, derrotar"; do deus do tempo proto-anatólio *Tṛḫu-ent-, "conquistador"; finalmente de PIE *terh₂-, "atravessar, passar, superar".[2] O mesmo nome foi usado em quase todas as línguas da Anatólia: luvita Tarḫunz-; cário Trquδ-; milíaco Trqqñt-, e lício Trqqas (A) e Trqqiz (B).[3][4][5]
Norbert Oettinger argumentou que as funções do deus do tempo da Anatólia vêm, em última análise, do deus protoindo-europeu Perkwunos, mas que eles não preservaram o antigo nome e cunharam, em vez disso, o novo epíteto Tṛḫu-ent- ("conquistador"), que soava próximo ao nome do deus da tempestade hatita Taru.[6]
Função
[editar | editar código-fonte]Como deus do clima, Tarcuna era responsável pelas várias manifestações do clima, especialmente trovões, relâmpagos, chuva, nuvens e tempestades. Ele governava os céus e as montanhas e decidia se haveria campos férteis e boas colheitas, ou seca e fome, e era tratado pelos hititas como o governante dos deuses.[7] Tarcuna legitimou a posição do rei hitita, que governava a terra de Hatti em nome dos deuses.[8] Ele vigiava o reino e as outras instituições do estado, mas também fronteiras e estradas.[9]
Genealogia
[editar | editar código-fonte]Tarcuna é o parceiro da deusa do Sol de Arina. Seus filhos são os deuses Telipinu e Camama,[10] as deusas Mezula[11] e Inara,[10] o deus do tempo de Zipalanda e o deus do tempo de Nerique.[12] Como resultado de sua identificação com o deus hurrita Tessupe, Tarcuna também é o parceiro de Hepate (que é sincretizado com a deusa do Sol de Arina) e o pai do deus Xarruma e das deusas Alanzu e Cunzixali.[13] Seus irmãos são Xualiate (identificado com o hurrita Tasmixu) e Aranzaque, a deusa do rio Tigre.[14]
Descrições
[editar | editar código-fonte]Tarcuna era o deus principal dos hititas e é retratado na frente de uma longa linha de deuses masculinos em relevos de pedra no santuário de Iazelecaia. Lá, é retratado como um homem barbudo com um boné pontudo e um cetro, de pé nas costas dos deuses da montanha Namni e Hazi e segurando um raio de três pontas em sua mão. Representações posteriores o mostram com um machado de batalha na forma de uma enxó.[15]
Equivalentes
[editar | editar código-fonte]O deus tinha cognatos na maioria das outras línguas antigas da Anatólia. Em hatita (uma língua não indo-europeia), era chamado de Taru; em luvita, Tarcunz (cuneiforme: Tarḫu(wa)nt(a)-, hieróglifo: DEUS TONITRUS); em palaico, Ziparua; em Lício, Trecas / Trequiz (Trqqas/Trqqiz);[16] e em cário, Trecude (Trquδe; dat.).[17] O deus luvita Tarcunz adorado pelos Estados neo-hititas da Idade do Ferro era intimamente relacionado a Tarcuna,[18] Nomes pessoais que se referem a Tarcunz, como "Trocondas", são atestados na época romana.[19][20]
Referências
- ↑ Taracha 2009, p. 93.
- ↑ Melchert 2003, p. 221.
- ↑ Kloekhorst 2008, p. 835.
- ↑ Mouton, Rutherford & Yakubovich 2013, p. 433.
- ↑ Arbeitman 2000, p. 206.
- ↑ Hutter 2003, p. 221.
- ↑ Haas & Koch 2011, p. 228.
- ↑ Taracha 2009, p. 46f.
- ↑ Haas & Koch 2011, p. 211f.
- ↑ a b Taracha 2009, p. 46.
- ↑ Taracha 2009, p. 52.
- ↑ Taracha 2009, p. 91.
- ↑ Taracha 2009, p. 119.
- ↑ Taracha 2009, p. 45.
- ↑ Watkins 1995, p. 430.
- ↑ Taracha 2009, p. 107.
- ↑ Popko 2008, p. 107.
- ↑ Watkins 2007, p. 331f.
- ↑ Smith 1997, p. 36.
- ↑ ten Cate 1961, p. 125ff.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Arbeitman, Yl (2000). The Asia Minor Connexion: Studies on the Pre-Greek Languages in Memory of Charles Carter. Lovaina e Paris: Peeters Publishers. ISBN 9789042907980
- Haas, Volkert; Koch, Heidemarie (2011). Religionen des alten Orients: Hethiter und Iran. Gotinga: Vandenhoeck & Ruprecht
- Hutter, Manfred (2003). «Aspects of Luwian Religion». In: Melchert, Craig. The Luwians. Handbook of Oriental Studies. Section 1 The Near and Middle East. Vol. 68. Leida: Brill. ISBN 90-474-0214-6
- Kloekhorst, Alwin (2008). Etymological Dictionary of the Hittite Inherited Lexicon. Leida: Brill. ISBN 9789004160927
- Melchert, Craig (2003). The Luwians. Leida: Brill. ISBN 9789047402145
- Mouton, Alice; Rutherford, Ian; Yakubovich, Ilya (2013). Luwian Identities: Culture, Language and Religion Between Anatolia and the Aegean. Leida: Brill. ISBN 9789004253414
- Popko, Maciej (2008). Völker und Sprachen Altanatoliens. Viesbade: Harrassowitz
- Smith, Tyler Jo (1997). «Votive Reliefs from Balboura and Its Environs». Anatolian Studies. 47: 3–49. ISSN 0066-1546
- Taracha, Piotr (2009). Religions of Second Millennium Anatolia. Viesbade: Harrassowitz
- ten Cate, Philo H. Houwink (1961). The Luwian Population Groups of Lycia and Cilicia Aspera during the Hellenistic Period (= Documenta et Monumenta Orientis Antiqui. Volume 10). Leida: Brill. ISSN 0169-7943
- Watkins, Calvert (1995). How to Kill a Dragon. Aspects of Indo-European Poetics. Oxônia e Nova Iorque: Oxford University Press. ISBN 0-19-508595-7
- Watkins, Calvert (2007). «The Golden Bowl: Thoughts on the New Sappho and its Asianic Background». Classical Antiquity. 26