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Stuart Carvalhais

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Stuart Carvalhais
Stuart Carvalhais
Quim e Manecas de Stuart Carvalhais
Nascimento 7 de março de 1887
Vila Real
Morte 12 de março de 1961 (74 anos)
Lisboa
Nacionalidade portuguesa
Ocupação artista gráfico, pintor, Caricaturista
Guardado está o café para quem o há de pagar, 1927, tinta-da-china e grafite sobre papel, 19,7 x 18,2 cm (publicado no Sempre Fixe, 23 de Junho de 1927)
João Manuel aprendiz de gafanhoto, 1940, tinta-da-china sobre papel, 31,9 x 24,2 cm (publicado no Sempre Fixe, 15 de Fevereiro de 1940)

José Herculano Stuart Torrie de Almeida Carvalhais (Vila Real, 7 de Março de 1887Lisboa, 2 de Março de 1961), mais conhecido por Stuart Carvalhais, foi um artista português multifacetado: fez carreira sobretudo como pintor, desenhador, ilustrador, caricaturista, autor de banda desenhada e artista gráfico, mas dedicou-se também à fotografia, decoração, cenografia e mesmo ao cinema.[1]

Filho de pai português, oriundo de abastadas famílias rurais do Douro, e de mãe escocesa e inglesa, passa parte da infância em Espanha e regressa a Portugal em 1891. Frequenta o Real Instituto de Lisboa (1901-1903); trabalha como pintor de azulejos no ateliê de Jorge Colaço (1905). Com uma formação convencional incipiente, Stuart Carvalhais será sobretudo autodidata.[2]

A sua primeira experiência nos jornais é como repórter fotográfico; publica os primeiros desenhos no jornal O Século em 1906; no ano seguinte, dá início ao trabalho em banda desenhada.[3] Em 1911 é um dos responsáveis pela revista humorística A Sátira;[4] colabora na fundação da Sociedade de Humoristas Portugueses, que terá como presidente Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (filho de Rafael Bordalo Pinheiro). Participa nas duas exposições organizadas por esse grupo em 1912 e 1913 – I e II Exposições dos Humoristas Portugueses –, juntamente com Cristiano Cruz, Jorge Barradas, Emmerico Nunes e Almada Negreiros, entre outros.[5]

Em 1912-13 faz uma permanência de alguns meses em Paris, sobrevivendo precariamente; colabora como ilustrador, no jornal Gil Blas; vê trabalhos de Corot, Seurat e Daumier. Casa-se com Fausta Moreira (varina – vendedora de peixe) pouco após o regresso a Lisboa; um ano mais tarde nasce o seu único filho, Raul Carvalhais.[6]

Embora republicano (e mais tarde, antifascista), a sua crítica incidirá sobre quem a merece e, em 1914, colabora no jornal satírico monárquico Papagaio Real [7] (1914), então sob a direção artística de Almada Negreiros.[1] Dá início à sua banda desenhada pioneira, inicialmente intitulada Quim e Manecas (1915-1953), a série mais longa da BD portuguesa, com mais de 500 episódios; essas duas personagens dão origem ao primeiro filme cómico português (1916), hoje desaparecido, onde o próprio Stuart desempenha o papel de pai de Manecas.[8][9]

Os anos de 1920 correspondem à época de maior sucesso de Stuart. Dirige ABC a Rir, publica trabalhos na revista Ilustração[10] (a cuja fundação está ligado), no Diário de Lisboa, Diário de Notícias, A Corja, O Espectro, A Choldra[11] (1926), O Sempre Fixe, ABC-zinho. As encomendas são muitas e a sua atividade gráfica diversifica-se, incluindo os postais ilustrados, diversos trabalhos para o Bristol Clube e a casa de edição musical Sasseti; vence dois prémios em concursos internacionais (Itália e Espanha). Participa com uma pintura na decoração do café A Brasileira, Chiado (1925).[1][12]

Ainda na area da imprensa, encontra-se colaboração artística da sua autoria em diversos jornais e revistas, nomeadamente na Gazeta dos Caminhos de Ferro de Portugal e Hespanha[13] (1888-1898) e na sua continuação, a Gazeta dos Caminhos de Ferro[14] (1899-1971), nas revistas Illustração portugueza[15] iniciada em 1903, O Zé [16] (1910-1919), O século cómico[17] (1913-1921), Contemporânea[18] (1915-1926), Renovação (1925-1926) [19] O Riso da vitória [20] iniciado em 1919, O domingo ilustrado[21] (1925-1927), no semanário Repórter X [22] (1930-1935) e na edição mensal do Diário de Lisboa[23] (1933).

Em 1932 realiza, na Casa da Imprensa, a sua única exposição individual; em 1948 é-lhe atribuído o prémio Domingos Sequeira na exposição do SNI.

Trabalha para o teatro como cenógrafo e figurinista; experimenta a realização em cinema (O Condenado, com Mário Huguin), desdobrando-se ainda como ator, decorador, cenógrafo e gráfico.[1]

Será nas áreas do desenho e ilustração que a sua obra mais se individualizará. Ao longo da vida Stuart produziu milhares, numa atividade constante onde dificilmente se poderão isolar expressões ou estilos balizados no tempo; "a mestria de traço de Stuart, que lhe permite variar os registos, evidencia sobretudo o manifesto desejo de liberdade criativa, nutrido por enorme apetência experimental". Até a sua vida pessoal, ensombrada pelo alcoolismo e a instabilidade financeira, o forçaram à experimentação de materiais inesperados, não ortodoxos, dos suportes aproveitados (papel de embrulho, tampas de caixotes), às tintas e materiais riscadores improvisados (café, vinho, paus de fósforo queimados). "Profundo conhecedor do basfond lisboeta, fixa da capital um registo que cruza com o seu, servindo-o com resultados surpreendentes no uso da mancha […] e de texturas, na definição ou languidez da linha, nos ritmos do traço". Assim, desenvolto e elegante na ilustração, essencial na caracterização fisionómica, em cada personagem, em cada situação representada, Stuart revela com eficácia os conceitos que lhe estão associados. Utilizará esses instrumentos para falar, antes de mais, de uma Lisboa contraditória, "viva, inteira, elegante por vezes, amarga outras mais".[1]

Casa de Stuart Carvalhais

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Casa de Stuart Carvalhais em Queluz

Stuart Carvalhais residiu em Queluz na Rua Conde de Almeida Araújo. O seu nome foi atribuído a uma das escolas da cidade: a Escola Secundária Stuart Carvalhais.

Ainda que senso património histórico da cidade, a sua casa foi demolida pelos novos proprietários em Outubro de 2009, após venda em hasta pública onde a Câmara Municipal não exerceu o seu direito de preferência.[24]

Referências

  1. a b c d e FERREIRA, Emília – Stuart Carvalhais. In: A.A.V.V. – Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão: Roteiro da coleção. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, p. 28
  2. COTRIM, João Paulo – Stuart: A Rua e o Riso. Lisboa: Assírio & Alvim; El Corte Inglés, 2006, p. 11-13. ISBN 972-37-1113-3
  3. COTRIM, João Paulo – Stuart: A Rua e o Riso. Lisboa: Assírio & Alvim; El Corte Inglés, 2006, p. 18. ISBN 972-37-1113-3
  4. Rita Correia (7 de fevereiro de 2011). «Ficha histórica:A Sátira. Revista humorística de caricaturas (1911)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 16 de Janeiro de 2015 
  5. FRANÇA, José Augusto – A arte em Portugal no século XX. Lisboa: Livraria Bertrand, 1991, p. 33
  6. COTRIM, João Paulo – Stuart: A Rua e o Riso. Lisboa: Assírio & Alvim; El Corte Inglés, 2006, p. 23
  7. Rita Correia (16 de novembro de 2014). «Ficha histórica: Papagaio real : semanário monarchico : política, caricatura e humorismo (1914)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 19 de fevereiro de 2015 
  8. BOLÉO, João Paiva; PINHEIRO, Carlos Bandeiras – Stuart Carvalhais: aventuras de Manecas e João Manuel. Lisboa: Contador-Mor, Bedeteca de Lisboa, 1996, p. 8
  9. COTRIM, João Paulo – Stuart: A Rua e o Riso. Lisboa: Assírio & Alvim; El Corte Inglés, 2006, p. 22, 23
  10. Ilustração (1926-1975) cópia digital, Hemeroteca Digital
  11. A choldra : semanario republicano de combate e de critica à vida nacional (1926) cópia digital, Hemeroteca Digital
  12. FRANÇA, José Augusto – A arte em Portugal no século XX. Lisboa: Livraria Bertrand, 1991, p. 110
  13. Gazeta dos Caminhos de Ferro de Portugal e Hespanha (1888-1898) cópia digital, Hemeroteca Digital
  14. Gazeta dos Caminhos de Ferro (1899-1971) cópia digital, Hemeroteca Digital
  15. Illustração portugueza (1903-1980) cópia digital, Hemeroteca Digital
  16. Pedro Mesquita (24 de fevereiro de 2014). «Ficha histórica:O Zé : sucessor do jornal O Xuão (1910-1919)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 28 de março de 2016 
  17. O século cómico : suplemento humorístico de o século (1913-1921) cópia digital, Hemeroteca Digital
  18. Contemporânea (1915-1926) cópia digital, Hemeroteca Digital
  19. Jorge Mangorrinha (1 de Março de 2016). «Ficha histórica:Renovação : revista quinzenal de artes, litertura e atualidades (1925-1926)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 18 de maio de 2018 
  20. Helena Bruto da Costa (14 de Julho de 2007). «Ficha histórica: O riso d'a vitória : quinzenário humorístico» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 1 de outubro de 2015 
  21. O domingo ilustrado : noticias & actualidades graficas, teatros, sports & aventuras, consultorios & utilidades (1925-1927) cópia digital, Hemeroteca Digital
  22. Rita Correia (11 de janeiro de 2016). «Ficha histórica: Repórter X : semanário de grandes reportagens e de critica a todos os acontecimentos sensacionais de Portugal e Estrangeiro (1930-1935)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 14 de Outubro de 2016 
  23. Diário de Lisboa : edição mensal (1933) cópia digital, Hemeroteca Digital
  24. «Património histórico da cidade restaurado: casa de Stuart Carvalhais restaurada pelos proprietarios actuais». Cidadania Queluz. Consultado em 28 de Outubro de 2009 

Ligações externas

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