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Sertanismo

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Sertanismo foi uma atividade, que se iniciou durante o século XVII no Brasil, em que homens adentravam o sertão brasileiro com objetivo de capturar indígenas, explorar metais preciosos e para conhecimento de riquezas naturais e espécies, tanto vegetais quanto animais. Apesar de não ser a causa que impulsionou essa atividade, o sertanismo teve grande contribuição para a interiorização brasileira. No período colonial brasileiro, esses homens, que eram denominados bandeirantes, foram os principais responsáveis pela extensão das fronteiras do país, fazendo-as chegar à sua configuração atual.[1] Eram violentos, faziam invasões armadas e saqueavam tudo o que podiam. Costumavam sequestrar os moradores das vilas e aldeias que saqueavam, sobretudo mulheres e crianças indígenas. Seus interesses em tais sequestros era utilizar-se da mão de obra dessas pessoas para a agricultura.[1] Os sertanistas e bandeirantes equivalem aos "batedores" (scouts) da América do Norte.

Já no século XX, a palavra "sertanista" passa a designar o indivíduo que conhece profundamente a parte do território mais afastada das áreas urbanizadas e ainda não colonizada pelos "brancos". Nessa acepção, o Marechal Rondon pode ser considerado um grande sertanista. A partir dos anos 1940, após a instituição do Conselho Nacional de Proteção aos Índios (CNPI), através do Decreto n.º 1 794, de 22 de novembro de 1939, as práticas sertanistas passaram a ser questionadas por antropólogos como Heloísa Alberto Torres, Darcy Ribeiro, Roberto Cardoso de Oliveira e Eduardo Galvão, que passaram a influir na formulação das políticas indigenistas brasileiras. Embora considerassem inevitável a integração dos índios à sociedade nacional, esses antropólogos defendiam que o órgão indigenista não se comprometesse a estimular este processo.[2] Na nomenclatura de cargos da Funai, no entanto, a denominação 'sertanista' permanece.

No período colonial, os sertanistas, embora tivessem a ambição de encontrar metais preciosos, se ocupavam principalmente da captura e escravização de indígenas.[3] Como afirma o historiador John Manuel Monteiro,

Com certeza, atrás das façanhas desses intrépidos desbravadores (os bandeirantes) esconde-se a envolvente história dos milhares de índios – os negros da terra – aprisionados pelos sertanistas de São Paulo

 [4]

Dessa forma, os sertanistas penetravam no interior do território da América Portuguesa, por meio das Entradas e das Bandeiras e das Monções, povoando e ocupando áreas que hoje pertencem aos atuais estados brasileiros de Paraná, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Na época, tais regiões, de acordo com o meridiano estipulado pelo Tratado de Tordesilhas (1494), pertenciam ao Império Espanhol. Elas viriam a ser incorporadas pela América Portuguesa só no século XVIII, com o Tratado de Madri (1750), que se valeu do princípio jurídico do Uti possidetis para legitimar a posse portuguesa dessas áreas. No entanto, conforme pondera o historiador Sérgio Buarque de Holanda, é inadequado afirmar que os sertanistas tivessem o desejo de "ampliar deliberadamente a área da colonização lusitana".[3] Muitos sertanistas se miscigenavam com indígenas e boa parcela dos bandeirantes era mameluca. Ademais, os costumes e hábitos sertanistas incorporaram diversas técnicas de matriz indígena de caça, coleta, medicação,[5] orientação geográfica, navegação fluvial, lavoura e vestimenta, como analisa Sérgio Buarque de Holanda na obra Caminhos e Fronteiras. Uma modalidade do sertanismo particularmente vigente no século XVII foi o sertanismo de contrato, que consistia na contratação de sertanistas para captura de tribos indígenas que resistiam à dominação colonial e de escravizados fugidos. Essa repressão era legitimada pela doutrina católica da guerra justa. Um notório caso de sertanismo de contrato foi a expedição, liderada pelo paulista Domingos Jorge Velho, para a destruição do Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, oeste do atual estado de Alagoas, em 1694. A expedição havia sido contratada pelo governo da Capitania de Pernambuco.[6]

Referências

  1. a b Elaine Campos e Castro. «O Sertanismo» (PDF). UFMG. Consultado em 19 de fevereiro de 2012 
  2. «Os principais personagens do sertanismo». Povos Indígenas no Brasil. Consultado em 11 de março de 2011 
  3. a b HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Extremo Oeste.   São Paulo: Brasiliense: Secretaria da Cultura, 1986, p. 28.
  4. MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra - índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Cmapanhia das Letras, 1994. Apud PEIXOTO, Fernanda. Revista de Antropologia Vol. 38, No. 2 (1995), pp. 241-243
  5. GURGEL, Cristina Brandt Friedrich Martin. "Índios, jesuítas e bandeirantes. Medicinas e doenças no Brasil dos séculos XVI e XVII". Tese de Doutoramento. Faculdade de Ciências Medicas da Universidade Estadual de Campinas, 2009.
  6. LARA, Silvia. Palmares & Cucaú: O Aprendizado da Dominação. São Paulo: EdUSP, 2021.
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