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Saudosismo

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Teixeira de Pascoais com o seu conterrâneo, o pintor António Carneiro, autor do ex-libris da Renascença Portuguesa.

Saudosismo foi um movimento estético e literário, religioso e filosófico, de carácter nacionalista, ocorrido em Portugal no primeiro quartel do século XX, de que foi mentor Teixeira de Pascoaes. Intimamente ligado à revista A Águia, órgão da Renascença Portuguesa, congregou intelectuais como Jaime Cortesão, Leonardo Coimbra, António Carneiro, António Sérgio e, pela sua vertente de sebastianismo messiânico, Fernando Pessoa.

O saudosismo consubstancia uma atitude humana perante o mundo que tem como base a saudade, considerada por Pascoaes o grande traço espiritual definidor da alma portuguesa[1]: — o que, segundo o poeta, é testemunhado pela literatura portuguesa ao longo dos séculos. No entanto, mais do que sentimento individual, a saudade é elevada a um plano místico (relação do Homem com Deus e com o mundo, ânsia nostálgica da unidade do material e do espiritual) e corresponde a uma doutrina política e social.

Surgido no clima mental nacionalista, tradicionalista e neo-romântico de inícios do século, o saudosismo pretendia, tomando a saudade como princípio dinâmico e renovador (de forma algo obscura) levar a cabo, pela acção cultural, a regeneração do país. Seria, de acordo com o seu teorizador, a primeira corrente autenticamente portuguesa. Ligado a uma expectativa messiânica e profética, o saudosismo acabou por dar azo ao afastamento de alguns dos seus adeptos — como António Sérgio, que não reconhecia no seu passadismo capacidade de renovação, ou até Fernando Pessoa, que, embora partilhando este elemento messiânico, acabou por preferir o projecto cosmopolita e revolucionário da Revista Orpheu.

O saudosismo, embora tenha desaparecido como corrente literária e espiritual, mantém ainda ecos na obra de alguns escritores e pensadores ligados à análise do carácter nacional e dos seus traços definidores.

Referências

  1. "Elegia do amor", v. 76/77 em Vida etérea, 1906
  • Fernando Pessoa: A nova poesia portuguesa. Inquérito, Lisboa 1944, p. 51, 73.
  • Jacinto do Prado Coelho: Prefácio a "Teixeira de Pascoaes, Obras Completas". Volume I. Bertrand, Lisboa 1965.
  • Georg Rudolf Lind: Teoria poética de Fernando Pessoa. Inova, Porto 1970.
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