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Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé

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Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé
Categoria VI da IUCN (Área Protegida de Manejo de Recursos)
Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé
Foto aérea da RESEX Marinha do Pirajubaé
Localização
País  Brasil
Estado Santa Catarina
Mesorregião Grande Florianópolis
Microrregião Florianópolis
Localidade mais próxima Florianópolis
Dados
Área 1 712 ha[1]
Criação 20 de maio de 1992[2]
Gestão ICMBio[3]
Coordenadas 27° 39' 4.9" S 48° 31' 42.2" O
Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé está localizado em: Brasil
Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé

A reserva extrativista marinha do Pirajubaé é uma unidade de conservação brasileira de uso sustentável da natureza localizada na Baía Sul da Ilha de Santa Catarina.

A reserva foi criada por demanda dos próprios pescadores da região em 20 de maio de 1992, através de Decreto Federal Nº 533.[2] A área total da reserva equivale a 1 712 ha, dos quais 759 englobam manguezais e 953 área marítima, abrangendo coroas e bancos de areia.[3] Pirajubaé foi a primeira reserva extrativista marinha criada no Brasil e sua administração cabe atualmente ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

A ReseX Pirajubaé tem como principais objetivos:

  • a exploração autossustentável e a conservação dos recursos naturais renováveis pelos pescadores artesanais;
  • valorizar o conhecimento, a cultura e a economia da população tradicional;
  • proteger os ambientes naturais, necessários à manutenção da vida marinha na região, berçário natural de aves, peixes e crustáceos.
  • Até fins da década de 1980 a extração do berbigão na região ocorria quase exclusivamente para fins de subsistência e era realizada através da "catação" com as mãos.
  • A partir da década de 1980, a introdução de um petrecho de pesca conhecido como "gancho" permitiu o início da pescaria do berbigão para fins comerciais. O petrecho "gancho" foi um artefato introduzido pela empresa depuradora Maricá que tinha como objetivo o beneficiamento e a comercialização do berbigão para o sudeste do país.
  • Projeto piloto da Fazenda marinha de Berbigão: com o objetivo de racionalizar a exploração do berbigão, a SUDEPE promoveu a criação experimental de uma fazenda marinha de bebrigão. Foi iniciado em 13 de maio de 1988 um projeto piloto que consistia na realização de estudos sobre os aspectos biológicos, tecnológicos e econômicos da extração do berbigão com a participação de pescadores da comunidade. O local escolhido foi o baixio das Tipitingas, área adjacente ao manguezal do Rio Tavares, atualmente chamdo banco principal ou banco A, que era somente acessível pelo mar e pouco explorado pela população extrativista.
  • Com o advento da Conferencia Rio Eco 92, um grupo de extrativistas, para assegurar a continuidade do projeto piloto com o apoio técnico e financeiro, reivindicou ao Conselho Nacional de Populações Tradicionais (CNPT) a realização de um estudo que subsidiasse a criação de uma reserva extrativista na área. A proposta da RESEX abrangia a área do Baixio da Tipitingas, o manguezal do Rio Tavares e um baixio adjacente, denominado Praia de Base, que na realidade, constitui-se em uma única planície de maré.
  • É criada a Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé através do Decreto Federal n° 533/92. Pirajubaé foi a primeira reserva extrativista marinha criada no Brasil.
  • 2011: Criação do Conselho Deliberativo da RESEX Marinha do Pirajubaé.

Extrativistas

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Rastel para coleta de berbigão
Pescadores no interior da reserva

Reservas Extrativistas são espaços territoriais que configuram uma territorialidade identificada a uma determinada população tradicional, legitimando as práticas e saberes que essa população detém a respeito do ecossistema, sobretudo no manejo produtivo da natureza.

O manejo dos recursos marinhos é fundamental para garantir sua exploração atual e pelas futuras gerações. Se o uso for inadequado, a tendência é a extinção desse recurso causando perdas incalculáveis relacionadas ao desaparecimento de seres vivos e ameaçando o modo de vida tradicional que compõe a história da região.

Os pescadores artesanais de Florianópolis têm no mangue e nos bancos de areia da RESEX, áreas que oferecem condições para reprodução, alimentação, e crescimento para diversas espécies de peixes, moluscos e crustáceos que são capturados comercialmente fora da unidade de conservação. Ou seja, indiretamente a RESEX Marinha do Pirajubaé contribui significativamente para manutenção dos estoques pesqueiros na região, visto que dispõe do maior e menos alterado manguezal da Baia Sul.

Bergigão ou amêijoa (Anomalocardia brasiliana)

Nos bancos de areia localizados no estuário do Rio Tavares, entre outras espécies, ocorre o molusco berbigão ou amêijoa (Anomalocardia brasiliana), principal recurso utilizado pelos extrativistas beneficiários da RESEX e pela população do entorno. A extração do berbigão é uma atividade tradicional na Costeira do Pirajubaé e se constitui uma alternativa de renda para muitas famílias.[4]

Rio Tavares

O rio Tavares nasce no Morro do Sertão e do Badejo e juntamente com o Ribeirão da Fazenda, seu principal afluente, forma a segunda maior bacia hidrográfica da Ilha de Santa Catarina com uma superfície de 48,64 km².[5][6] Esses rios percorrem áreas de planície e são quase inteiramente navegáveis, desaguando na Baía Sul, após atravessar uma grande extensão de manguezal. Ao se juntarem formam o maior manguezal da Ilha com aproximadamente 8km², e um dos últimos grandes manguezais do limite austral de distribuição desse ecossistema, que praticamente circula o bairro Carianos e o aeroporto Hercílio Luz.

Banco de areia no interior do parque

Os banhados são áreas de transição entre a restinga e o manguezal. São áreas que sofrem constantes alagamentos, tanto da água doce dos rios e chuvas, quanto da água salgada do mar. Desta forma nessas áreas se desenvolve uma vegetação típica, composta principalmente por uma espécie de ciperácea (Cladium mariscus) e em menor quantidade o junco (Juncus acutus).

Essas áreas possuem uma importante função ecológica chamada regulação hídrica.  Nos eventos de grandes chuvas, os banhados absorvem o excesso de água, abrandando a velocidade de escoamento para o Rio Tavares, seus afluentes e planície contígua, e evitam os alagamentos nas áreas urbanas próximas. Em épocas de seca, por constituir um ecossistema com alta capacidade de retenção de água, semelhante a uma grande esponja reservatória hídrica, o banhado vai liberando água aos poucos, evitando a total seca do rio ligado a ele.

No mangue da bacia do Rio Tavares podemos encontrar as três principais espécies arbóreas que compõem um manguezal: o mangue-branco (Laguncularia racemosa), o mangue-preto ou canoé (Avicennia schaueriana) e o mangue-vermelho ou sapateiro (Rhizophora mangle). Há ainda áreas ao longo do manguezal com concentração do capim-marinho (Spartina alterniflora) e diversos banhados com inúmeras outras espécies vegetais, além de microorganismos.[7]

Bergigão ou amêijoa

Podemos encontrar na área da RESEX, além do berbigão, inúmeras espécies de moluscos, caranguejos, diversos invertebrados aquáticos, e uma grande variedade de peixes. Essa grande riqueza da fauna aquática propicia a vida de pequenos mamíferos que vivem e se alimentam no mangue e favorecem muito as aves. Essas, que são as mais facilmente observadas ao longo de todo o manguezal, são compostas por 180 espécies, sendo as garças, socós, tapicurus, colhereiros e biguás, as mais numerosas.

Impactos e Ameaças

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O intenso processo de urbanização em Florianópolis provoca impactos ambientais que vem colocando em risco, tanto o modo de vida tradicional quanto os ambientes naturais, por isso o papel da RESEX Pirajubaé na conservação do manguezal é fundamental para assegurar a biodiversidade e o modo de vida dos pescadores da região.[8][9][10][11][12][13]

Referências

  1. Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé. Cadastro Nacional de Unidades de Conservação do Ministério do Meio Ambiente. Página visitada em 11 de abril de 2014.
  2. a b «DECRETO Nº 533, DE 20 DE MAIO DE 1992». Senado Federal - Subsecretaria de Informações. 20 de maio de 1992. Consultado em 4 de janeiro de 2012 
  3. a b «Resex Pirajubaé». Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Consultado em 4 de janeiro de 2012 
  4. RODRIGUES, A. M. L.; BORGES-AZEVEDO, C. M.; HENRY-SILVA, G. G. 2010. Aspectos da biologia e ecologia do molusco bivalve Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) (Bivalvia, Veneridae). R. bras. Bioci., Porto Alegre, 8 (4):77-383
  5. SCHETTINI, C.A.F.; PEREIRA F.O. J.; & SPILLERE, L..2000. Caracterização oceanográfica e biogeoquímica dos estuários dos rios Tavares e Defuntos, Reserva Extrativista de Pirajubaé, Florianópolis, SC. Notas téc. FACIMARNotas téc. FACIMAR,|, 4: 11-28.
  6. PARIZOTTO, B. A. D. M. 2009. Qualidade da água e distribuição espacial de foraminíferos bentônicos em estuários das baías norte e sul da ilha de Santa Catarina (Brasil). 2009, 244f. Tese (Doutorado em Geografia). Centro de Filosofia e Ciências Humanas, UFSC.
  7. FERNANDES; G. F..1996. Diatomáceas no rio Tavares, manguezal do rio Tavares, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Insula, 25:69-192.
  8. VEADO, L.D. Ad V. & RESGALLA Jr.,C. 2005. Alteração da comunidade zooplanctônica do Saco dos Limões após impacto das obras da via expressa sul - Baía Sul da ilha de Santa Catarina. Braz.J. Aquat. Sci. Technol., 9(2):65-73p.
  9. Eller, J. R. G., Santos, L. dos, & Nascimento, R. da S. 2013. Análise ambiental do manguezal do Rio Tavares – Florianópolis – Brasil. In 14 Encuentro de Geógrafos de America Latina EGAL (p. 15).
  10. Garcia, L. (1999). Impacto da Via Expressa Sul sobre a Reserva Extrativista Marinha de Pirajubaé. RESEX.
  11. Kons, M. G., & Mottana, C. E. 1993.[A ocupação indiscriminada dos manguezais na Ilha de Santa Catarina (um estudo específico da ocupação do manguezal do Rio Tavares) Florianópolis - SC. UFSC, Centro de Filosofia e Ciencias Humanas.
  12. Martins, A. A. 2006. Impactos da urbanização no bairro da Costeira do Pirajubaé no sul da Ilha de Santa Catarina, Florianópolis, SC: questões de saneamento básico. Universidade do Estado de Santa Catarina.
  13. Pezzuto, P. R., & Echternacht, A. M. 1999. Avaliação de impactos da construção da Via Expressa SC-Sul sobre o berbigão Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791)(Mollusca: Bivalvia) na Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé (Florianópolis, SC-Brasil). Atlântica, 21, 105–119.