Reação álcali-agregado
Reação álcali-agregado (RAA) é um termo usado principalmente para se referir a reação que ocorre no concreto no estado endurecido em idades tardias[1] entre álcalis(óxido de sódio ou óxido de potássio)[2] . Essa reação normalmente causa expansão pela formação de um gel expansivo(também chamado de gel de sílica[3],/gel sílico-alcalino[4]) que absorve água por osmose e se expande entre os poros do concreto, até que os espaços vazios terminem e leve a um aumento de tensão[4]. Esse aumento nos esforços internos pode causar a fissuração [3][4], e perda de resistência do concreto.[5]
É um dos fenômenos que mais interfere na durabilidade do concreto.[4]
Esse fenômeno foi identificado pela primeira vez por Stanton nos Estados Unidos.[5][6] O maior número de estruturas atingidas está na America do Norte, porém há casos documentados recentemente no Brasil.[5] Embora seja documentado desde 1940[6], não foi formulado até hoje nenhum modelo numérico para simular sua influência sobre uma estrutura.[5] Foram propostos diferentes mecanismos de sua atuação por pesquisadores como: Léger et al e Peterson e Ulm[5].
A reação álcali-agregado é genérica, mas relativamente vaga, podendo levar a confusões. Definições mais precisas são as abaixo:
- Reação álcali-sílica[5](ASR, tipo mais comum);
- Reação álcali-silicato[5]; e
- Reação álcali-carbonato.[5]
Como existe uma dependência da umidade este tipo de reação é mais comum em obras hidráulicas(ou expostas a umidade).[5][7] Também recomenda-se maior preocupação em obras de estruturas especiais, mesmo que sejam maciças e secas.[7]
Fatores para ocorrência da reação
[editar | editar código-fonte]O surgimento está relacionada a:
- Presença de sílica reativa[5][8]
- Presença de álcalis[5][8]
- Umidade suficientemente alta[5][8]
- Temperatura[8]
Presença de álcalis
[editar | editar código-fonte]A presença de álcalis aumenta a concentração de hidroxilas(elevando o pH).[5] Normalmente esses álcalis têm origem no clínquer do cimento.[5] O máximo de álcalis no concreto varia dependendo de pesquisa de 1,8 a 2,3 kg/m³ e limite máximo do sódio entre 0,4 a 0,6 %[2][3]. Se houver alto consumo de cimento uma taxa menor 3 kg/m³ é apontado como melhor parâmetro para ignorar os efeitos da RAA.[2] Porém na literatura há divergências quanto ao uso somente da concentração de álcalis, pela possível interferência da vizinhança.[2]
O feldspato alcalino também é apontado como uma das fontes potássio e sódio. É encontrado em rochas ígneas tais como granitos e riolitos.[3]
Presença de sílica reativa
[editar | editar código-fonte]A identificação de sua presença no agregado é difícil.[5]
Entre as rochas que apresentam maior incidência são os quartzitos e quartzos fraturados, tensionados e preenchidos por inclusões.[2]
Reação álcali-sílica
[editar | editar código-fonte]A reação álcali-sílica é a mais comum forma de reação álcali agregado. Está relacionada a presença de sílica amorfa.[8] A sílica amorfa está presente em agregados como opala, calcedônia,cristobalita, tridimita, certos tipos de vidros naturais (vulcânicos) e artificiais, e o quartzo.[2]
Nessa reação há o ataque da sílica ativa pelo hidróxido de cálcio dissolvido a partir dos álcalis do cimento Portland , normalmente nos poros ou superfície dos agregados.[2]
Reação álcali-silicato
[editar | editar código-fonte]É considerada um caso particular reação álcali-sílica.[4]
Reação álcali-silicato ocorre quando uma camada de silicatos(argilo mineras), presente na forma de impureza reagem, porém mais lentamente. De forma resumida a reação se processa quando os hidróxidos dos álcalis reagem com os silicatos e agregam-se entre a pasta do cimento e o agregado constituindo um gel sílico-alcalino que expande-se.[2]
É a reação mais comum no Brasil[2][4] devido a utilização de quartzito, granito e gnaisses rochas de mineralogia: quartzo e feldspato[2].
A identificação dessa reação é mais difícil se ela estiver associada a reação álcali-sílica que processa mais rapidamente.[2]
Mecanismo de reação
[editar | editar código-fonte]Fase Inicial
[editar | editar código-fonte]O ataque dos álcalis ao grupo silanol () forma um gel expansivo (), conforme a equação:[9]
(Reação I)
Posteriormente, há o ataque ao solixano (também com a formação de um gel expansivo), conforme a equação:[9]
(Reação II)
De forma análoga, esse processo ocorre para o potássio:[9]
(Reação I)
(Reação II)
Fase de desenvolvimento
[editar | editar código-fonte]Fase de repouso
[editar | editar código-fonte]Reação álcali-carbonato
[editar | editar código-fonte]Essa reação ocorre entre alguns tipos de calcários dolomíticos e os álcalis presentes no concreto.[10] É o tipo mais agressivo além de ocorrer em idades mais jovens,[1] porém como depende de substâncias mais raras nos agregados seu número de ocorrência é menor.[11]
É a única em que não se forma um gel expansivo, mas uma combinação dos álcalis com hidróxidos de magnésio, que causa a "desdolomitização" do agregado.[2] A "desdolomitização" modifica a estrutura do calcário, provocando aumento de volume e enfraquecimento da ligação pasta-agregado..[4]
Essa reação também é a única que o uso de pozolana pode não ser efetivo, nesse caso a escória de alto de alto forno apresentaria melhor resultado por reduzir a permeabilidade.[2]
Na reação álcali-carbonato diferentemente das demais não é formado gel expansivo[4][10], ocorre a expansão do mineral Brucita (Mg(OH)2).[4] Além disso, também há a formação de carbonatos cálcicos e silicato magnesiano.[4]
Mecanismo
[editar | editar código-fonte]As reações presentes são:
(Reação I)
Onde:
- é a dolomita
- é a brucita
- é a calcita
- A representa o álcali que participa do processo (sódio, potássio ou lítio).
O carbonato alcalino, representado como reage. No caso do sódio conforme:[9][10]
(Reação II)
No caso do potássio conforme:[9]
(Reação II)
A reação II intensifica a primeira, uma vez que por meio da segunda reação é formado o álcali necessário para desdolomitização. Dessa forma, as reações ocorrem com alta intensidade até que haja perda do álcali por reações secundárias ou a dolomita tenha reagido por completo.[10]
Consequência
[editar | editar código-fonte]Indícios de RAA:
- Eflorescência do gel expansivo[10]
- Descoloração do concreto[10]
- Agregados graúdos com sinais de reação em suas bordas[10]
- Preenchimento de poros por material esbranquiçado com composição do gel.[10]
- Surgimento de microfissura na argamassa preenchidas por material esbranquiçado.[10]
As principais consequências são:
- Fissuras no concreto.[10]
- Deslocamento diferencial entre blocos de concreto.[10]
- Diminuição da resistência mecânica.[12]
- Diminuição do módulo de elasticidade.[12]
Casos
[editar | editar código-fonte]Atualmente estima-se que haja casos RAA documentados em 50 países.[9] Em 1995 se realizava a seguinte estimativa[2][10]:
País | Porcentagem de casos publicados |
---|---|
Estados Unidos | 25 |
Canadá | 23 |
África do Sul | 12 |
Noruega | 6 |
Reino Unido | 5 |
França | 5 |
Espanha | 3 |
Brasil | 3 |
Portugal | 2 |
Índia | 2 |
Paquistão | 2 |
Argentina, Austrália, Gana, Ilhas Jersey, Quénia, Moçambique, Nigéria, Suíça, Zâmbia e outros apresentam apenas 1% dos casos notórios até 1995.[2][10]
Brasil
[editar | editar código-fonte]No Brasil são relatados casos em: Paulo Afonso I [4](identificado 78-23 anos após a construção)[12], Paulo Afonso II [4](identificado 78-16 anos após a construção)[12] e Paulo Afonso III[4] (identificado 78-5 anos após a construção)[12],Paulo Afonso IV(identificado em 1984-4 anos após a construção)[4][12], Usina hidrelétrica Apolônio Sales(Moxotó)(identificado 1978[2][4][10]-4 anos após a construção)[12], reservatório de Pedro Beicht[6](identificado 91-56 anos após a construção)[12], barragem rio das pedras [6], Sobradinho[6], Jaquara(identificado 71-17 anos após a construção)[12], entre outras barragens.
Também foram identificado em 2004 em Recife nos Edifício Areia Branca[2], Solar da Piedade,[2] Edifício Apolônio Sales[12] e Edifício da Piedade[12] casos de RAA.(no caso do Areia Branca, apesar de haver o colapso da estrutura a RAA não foi causadora).[12] Uma das explicações é o contato da fundação com os rasos lençóis freáticos da cidade.[12]
Estados Unidos
[editar | editar código-fonte]Problemas ocorreram em várias barragens como: Parker, Stewart Mountain, Gene Wash, Copper Basin, Buck, American Falls, Coolidge, Owyhee, Hiwassee, Chickamauga, Fontana.[10] Além de efeitos em obras rodoviárias e monumentos.[10]
Soluções
[editar | editar código-fonte]Não há método recomendado de prevenção quando o agregado é identificado como reativo a RAA, somente o uso de fontes alternativas.[1] Porém essa solução pode não ser economicamente viável.[1]
Contudo algumas medidas podem ser adotadas anteriormente a construção:
- Sílica ativa,[8]
- escória de alto forno e[8]
- pozolana.[8];
- Uso de cimentos CP II E, CP II Z, CP III, CP IV.[7]
- Uso de cimento de baixa quantidade de álcali, menos de 0,60% .[1]
- Limitar os álcalis em 3 kg/m³ ou menos.[1]
Aditivos químicos como nitrato de lítio tem demostrado a eficiência abrandar a ação da RAA.[1]
Após a construção:
- Análise petrográfica(NBR 7389/92 e ASTM C 856-02);[3]
- Método acelerado de barras de argamassa(AMBT)(ASTM 1260/05);[3]
- Método dos prismas de concreto(CPT);[3]
- Método acelerado de prismas de concreto(ACPT, ASTM C 151-05, ASTM C 227-03, ASTM C 1293-05, ASTM C 1567-04, ASTM C 151-00 );[3]
- Localização do cimento e do agregado utilizados;[3]
- Avaliação da expansão;[3]
- Injeção de pasta de cimento ("Permeation Grouting");[3]
- Medição das fissuras existentes;[3]
- Limpeza das fissuras existentes com ar comprimido;[3]
- Instalação de bicos de injeção metálicos ao longo das fissuras;[3]
- Injeção de cimento ou lítio nas fissuras;[3]
- Fechamento das fissuras exterior com grout tixotrópico;[3]
- Reforço dos blocos de fundação com disposição de cabos protendidos;[3]
- Instalação armaduras adicionais e tela soldada de aço ao longo do bloco de fundação;[3]
- Criação de junta de alívio(isopor) para evitar as expansões horizontais futuras;
- Instalação de forma de encamisamento do bloco de fundação;[3]
- Pintura externa do bloco com argamassa polimérica visando a não penetração de água no bloco de fundação[3]
Referências
- ↑ a b c d e f g «CIP 43 - Alkali-Aggregate Reaction (AAR)» (PDF) (em inglês). NRMCA - National Ready Mixed Concrete Association. 2014
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r LIMA, Renilda Batista da Silva; SILVA, Antonio Sergio Ramos da;COSTA, Fernanda Nepomuceno. «Reação álcali agregado e seus efeitos na construção de edifícios» (PDF). Consultado em 16 de outubro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 3 de março de 2016
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t «Início de Ocorrências de Ataque da Reação Álcali-Agregado em Fundações de Estruturas de Concreto - CREA - RN». www.crea-rn.org.br. Consultado em 17 de outubro de 2015. Arquivado do original em 23 de fevereiro de 2016
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o Patrícia Neves Silva Selmo Chapira Kupeiman (2008). «Reação álcali-agregado nas usinas hidroelétricas do complexo Paulo» (PDF). Escola Politécnica da USP - Departamento de Engenharia de Construção Civil. Consultado em 17 de outubro de 2015
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o Luciana Ericeira Lopes. «Modelagem mecânica e numérica da reação álcali-agregado com aplicação a barragens de concreto» (PDF). Consultado em 17 de outubro de 2015
- ↑ a b c d e Gisele Jesus (2008). «Identificação e análise da reação álcali-agregado segundo metodologia de ensaio laboratoriais» (PDF). Consultado em 17 de outubro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 3 de março de 2016
- ↑ a b c Arnaldo Forti Battagin (15 de outubro de 2010). «A experiencia da aplicação da norma brasileira de reação álcali-agregado» (PDF). Ibracon. Consultado em 17 de outubro de 2015
- ↑ a b c d e f g h «Reações álcalis-agregado em estruturas de concreto | E-Civil». www.ecivilnet.com. Consultado em 17 de outubro de 2015
- ↑ a b c d e f g Lira Madureira, Edmilson (2007). «Simulação numérica do comportamento mecânico de elementos de concreto armado afetados pela reação álcali-agregado» (PDF). UFPE. Consultado em 18 de outubro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 3 de março de 2016
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q SILVEIRA, Ana Lívia Zeitune de Paula. (Jul 2006). «Estudo da reação álcali-agregado em rochas carbonáticas». Dissertação (Mestrado em Geociências)-Universidade de Brasília. Consultado em 17 de outubro de 2015
- ↑ «Alkali-Aggregate Reaction». Portland Cement Association
- ↑ a b c d e f g h i j k l m Anna Paula Guida Ferreira (2008). «Modelagem da expansão por reação álcali-agregado do concreto» (PDF). Universidade Federal de Juiz De Fora – Curso de Graduação em Engenharia Civil. Consultado em 18 de outubro de 2015